24.7.23

Confiantes, com ambição de crescer, focadas no cliente e na redução da pegada de carbono: assim vão as empresas familiares portuguesas

Margarida Cardoso Jornalista e Jaime Figueiredo Jornalista/Coordenador-Geral de Infografia, in Expresso

Em Portugal as empresas familiares, em média, têm mais mulheres na liderança do que no resto do mundo, revela o retrato traçado na 11ª edição do Global Family Business Survey, da PwC

Nas empresas familiares portuguesas, a confiança no crescimento está a aumentar e é até superior à média global, conclui a consultora PwC na 11ª edição do seu Global Family Business Survey.

No horizonte dos próximos dois anos, 88% das empresas familiares nacionais espera crescer. Isto, depois de 75% ter visto os resultados aumentarem no último exercício e 49% assumir que o salto foi de dois dígitos. São percentagens superiores à média, nota a consultora, que a nível global reporta percentagens de 77%, 71% e 43%, respetivamente.

E no que respeita à ambição, a maioria (78%) quer crescer de forma consistente, enquanto 10% espera avançar de forma agressiva e 12% prefere estabilizar o seu negócio principal.

Quanto à palavra “confiança”, a atenção está especialmente concentrada nos clientes: quase todos os inquiridos (86%) dizem que ter a confiança dos clientes é essencial. Já quando o foco são os trabalhadores, a percentagem desce um pouco, para os 80%, e se o tema é a família, desce ainda mais, para os 57%.

No entanto, sublinha a PwC, “ainda existe uma diferença entre dizer que precisam dessa confiança e realmente confiar nestes intervenientes”. E explica com base nos dados recolhidos no inquérito: entre os inquiridos em Portugal, 94% admite precisar de confiar nos clientes, mas apenas 64% diz confiar realmente neles. Para os trabalhadores, a diferença acentua-se e 94% precisa de confiar, mas os que confiam ficam pelos 56%.
3% TEM LIDERANÇA EXCLUSIVAMENTE MASCULINA


Na caracterização do universo das empresas familiares em Portugal, a PwC avança que 28% têm três ou mais gerações envolvidas no negócio da família e apenas 3% têm uma liderança exclusivamente masculina, sem mulheres no conselho de administração, o que contrasta com o cenário global em que 31% das empresas são lideradas apenas por homens.

O grupo que tem apenas membros familiares no conselho de administração também é de 3% em Portugal, subindo até aos 36% a nível global.


Já o número médio de administradores por empresa é de 5,2 em Portugal, em linha com a média global de 5,3 pessoas.

O TOPO DAS PRIORIDADES

E quais são as prioridades atuais das empresas familiares? 41% das empresas destaca gerar valor a longo prazo para acionistas e investidores. Seguem-se entregar valor aos clientes (33%), atrair/reter os melhores talentos (16%), minimizar/reduzir impacto ambiental negativo (4%) e ter relações éticas e justas com fornecedores (4%).

No horizonte de dois anos, a agenda muda: mais de metade (55%) elege a redução da pegada de carbono como principal prioridade, 49% quer proteger o negócio, 45% aposta em explorar novos mercados ou segmentos de clientes e 41% refere o reforço da lealdade dos clientes, assim como a introdução de novos produtos/serviços e o aumento da confiança dos trabalhadores.


Para a PwC, fica claro que “a noção de como construir confiança nos negócios está a mudar fundamental e rapidamente. Para todos – incluindo clientes e colaboradores - questões ambientais, sociais e de governação e diversidade, equidade e inclusão tornaram-se testes decisivos de confiança”.


As mudanças demográficas também ditam mudanças na perceção de confiança e, diz a consultora, com base na análise destes dados, como “a maioria dos clientes e colaboradores de hoje provêm da geração millenial e da geração Z, cujos valores são diferentes dos babyboomers (…), a equação para vencer – e manter – a confiança mudou e as empresas familiares precisam de acompanhar esta tendência”.


“A confiança continua a ser uma das principais vantagens competitivas das empresas familiares”, que “necessitam de adotar novas fórmulas de sucesso para construir confiança e proteger o seu legado”, sublinha Rosa Areias, líder da área fiscal e de empreendedorismo da PwC.


84% TEM UM PROPÓSITO CLARO

A verdade é que, de acordo com este inquérito, que abrangeu 2043 empresas de 82 países, as questões relativas ao ambiente, componente social, governação, diversidade e inclusão ainda não são parte da agenda das empresas familiares: apenas 14% admite estar “muito focada” nos temas da sustentabilidade e só 34% têm uma pessoa ou equipa responsável por estes temas.


Mesmo assim, 86% das empresas inquiridas dizem existir uma oportunidade para liderar nas práticas empresariais sustentáveis, quando a percentagem a nível global fica nos 64%.


“As empresas familiares portuguesas são propensas a acreditar que se encontram mais desenvolvidas num conjunto de áreas, incluindo a capacidade de adaptação”, nota a PwC, atenta ao facto de 63% dos inquiridos em Portugal assumir ter capacidade para uma rápida tomada de decisões para adaptação às mudanças, contra uma percentagem próxima dos 55% a nível global.


E quantos afirmam ter um propósito claro para a sua empresa? 84% em Portugal face a 79% a nível global. No entanto, nota a PwC, “muitos não tomam as medidas necessárias para garantir a eficácia desse propósito”, o que significa, em termos percentuais, que apenas 65% garante que os funcionários entendem o significado desse propósito e 21% assume que o alinhamento com o propósito e os valores é parte da avaliação da gestão.