31.7.23

Pausa na subida dos juros do BCE? "Mesmo que aconteça, poderá não ser definitiva", avisa Christine Lagarde

Jorge Nascimento Rodrigues Jornalista, in Expresso


Em entrevista, este fim de semana, ao jornal francês “Le Figaro”, a presidente do Banco Central Europeu voltou a admitir que em próxima reunião pode haver uma subida dos juros ou “talvez” até uma pausa. Mas mesmo uma paragem no aumento dos juros nunca será definitiva. Lagarde acredita que uma “aterragem suave” na economia da zona euro é possível e desejável

“Pode haver uma nova subida [dos juros] ou talvez uma pausa” na próxima reunião do Banco Central Europeu (BCE), em setembro, disse Christine Lagarde este fim-de-semana em entrevista ao jornal francês “Le Figaro”. A possibilidade de uma paragem no ciclo de disparo dos juros já tinha sido referida pela presidente do BCE na conferência de imprensa de 27 de julho que se seguiu à divulgação da decisão de fazer um novo aumento de 25 pontos-base (um quarto de ponto percentual) na taxa diretora principal.


Tal como na semana passada, a francesa que dirige o banco central do euro, temperou, na entrevista, a durabilidade de uma pausa: “Uma pausa, mesmo que ocorra em setembro ou mais tarde, poderá não ser definitiva. A inflação tem de regressar de um modo durável ao objetivo [de 2%]”, afirmou Lagarde.

A entrevista foi publicada na véspera de ser divulgada pelo Eurostat a estimativa para a inflação em julho, depois de esta ter desacelerado para 5,5% no mês passado.

Lagarde recordou a nova orientação saída da reunião da semana passada. O BCE regressa à tomada de decisões reunião a reunião. “Estamos num contexto de incerteza e reavaliaremos a situação e a nossa ação reunião a reunião”, refere Lagarde. Mas há uma certeza: “As taxas do BCE serão fixadas em níveis suficientemente restritivos pelo tempo que for necessário para se chegar atempadamente à meta de médio prazo de 2% [na inflação]”.

O IDEAL É UMA ‘ATERRAGEM SUAVE’ NA ZONA EURO

A presidente do BCE admite, na entrevista ao “Le Figaro”, que o aperto monetário em curso “implica necessariamente uma diminuição da atividade económica”, mas repesca a mesma ideia que Jerome Powell tem defendido na Reserva Federal norte-americana (Fed). “A solução ideal - conhecida por aterragem suave - é um abrandamento moderado da atividade económica com uma redução significativa da inflação”.

Os economistas do BCE e do Fundo Monetário Internacional prevêem que a economia da zona euro cresça 0,9% em 2023, metade do ritmo norte-americano, e que inflação se reduza para o patamar de 5%. Mas para que isso aconteça é preciso que não haja nenhuma espiral salários-preços. Lagarde acha que “não há sinais” de uma tal espiral, pois as previsões do BCE pressupõem que as empresas vão absorver nas suas margens de lucros parte do custo induzido pelo aumento dos salários.

O ideal pode ser, no entanto, ameaçado. Lagarde avisa que o “maior risco” é a situação geopolítica agravada pelos problemas climáticos. “Qualquer novo choque - seja no petróleo ou nos preços da alimentação ou uma aceleração da crise climática - é um risco potencial”, conclui a presidente do BCE.