27.7.23

Chorar não tem de ser algo mau

Rute Agulhas, opinião, in DN

Ouvi recentemente uma jovem dizer, entre lágrimas, que odeia o verão e as férias, quando todos se sentem felizes, menos ela. Sente-se pressionada pela sociedade para estar sempre feliz, com um sorriso no rosto e a partilhar fotos maravilhosas de locais paradisíacos.

A situação desta jovem espelha a de muitas outras pessoas que procuram incessantemente fotos "instagramáveis", na tentativa de transmitir de si uma imagem positiva e de alguém que está sempre feliz. Mas será que alguém se sente sempre feliz? Será que alguém passa pela vida sempre com um sorriso no rosto? E como se sente alguém que, ao espreitar as redes sociais, vê alegria e felicidade em todas as outras pessoas, menos em si?


E desde quando se instituiu a ideia de que chorar é uma coisa má, que deve ser evitada a todo o custo? Qual é o preço a pagar por esta ideia absurda?


Deixemos de diabolizar o choro e as emoções mais desagradáveis que lhe estão habitualmente associadas, e passemos a encará-lo como uma expressão daquilo que se sente. Paremos de acreditar que é importante transmitir a ideia (falsa) de que estamos sempre bem e felizes quando, em boa verdade, ninguém se sente assim o tempo todo.


Antes de mais, importa sublinhar que não existem emoções boas ou más. As emoções podem ser agradáveis ou desagradáveis de sentir, é verdade, mas estas últimas não são necessariamente negativas. O medo, a tristeza ou a ansiedade, por exemplo, são emoções desagradáveis, mas que podem ser adaptativas, o que significa que nos podem mesmo proteger e ajudar a lidar com situações mais adversas. São uma bússola que nos orienta. Estas emoções tornar-se-ão mais desajustadas se forem muito intensas, duradouras ou frequentes.

Ora, se mesmo as emoções desagradáveis podem ajudar-nos de alguma forma, então comecemos por aceitá-las. Fazem parte de nós e é importante percebermos porque, e em que contextos, as sentimos. Da mesma forma, o choro é uma expressão de algumas destas emoções. Choramos quando nos sentimos mais tristes ou receosos, angustiados ou mesmo zangados. Também choramos devido ao stress e à dor. E chorar alivia-nos, permitindo que nos libertemos daquilo que estamos a sentir.

Pois deixemos de diabolizar o choro e as emoções mais desagradáveis que lhe estão habitualmente associadas, e passemos a encará-lo como uma expressão daquilo que se sente. Paremos de acreditar que é importante transmitir a ideia (falsa) de que estamos sempre bem e felizes quando, em boa verdade, ninguém se sente assim o tempo todo.


Chorar pode não ser muito agradável, mas não tem de ser algo mau.