27.7.23

Portugueses regressaram aos depósitos no mês em que o Governo cortou juros dos certificados

Diogo Cavaleiro,  in Expresso

Mês de junho mostra banca a recuperar depósitos dos portugueses face a maio. Contudo, a fuga foi tão intensa na primeira metade do ano que, comparando com junho de 2022, a variação é a mais negativa de sempre

O Governo recusa que tenha dado uma ajuda aos bancos portugueses quando decidiu, em junho, cortar na remuneração máxima inicial atribuída aos certificados de aforro do Estado de 3,5% para 2,5%. Não há prova de causalidade, mas as estatísticas já publicadas mostram que nesse mês verificou-se uma desaceleração da procura pelos certificados. E, divulgou esta quarta-feira o Banco de Portugal, também nesse mês deu-se o primeiro aumento mensal do volume depositado na banca nacional após vários meses de quebra.

“No final de junho de 2023, o stock de depósitos de particulares nos bancos residentes totalizava 174,9 mil milhões de euros, mais 1,2 mil milhões de euros do que em maio. Este foi o primeiro aumento mensal em 2023”, revela o Banco de Portugal no destaque publicado no seu site.

Desde dezembro, em que havia mais de 182 mil milhões de euros aplicados em depósitos, que vinha a registar-se uma quebra do montante depositado: as baixas taxas de juro pagas pelos bancos, que demoraram a subir e a reagir à subida do juro diretor do Banco Central Europeu, levaram a uma retirada dos depósitos. Já os certificados cresceram porque a sua remuneração elevava-se à boleia das taxas Euribor.

Agora, houve uma subida mensal dos depósitos, com os bancos a aumentarem os juros pagos nos depósitos (com atraso face ao reflexo automático dos juros nos créditos concedidos) – ainda assim muito abaixo da Euribor e sobretudo com base em campanhas promocionais

A média de juro dos novos depósitos com um prazo de um ano era, em maio, de 1,18%, quando na zona euro estava nos 2,46% e a Euribor a 12 meses situava-se, no fim de maio, nos 3,8% (os dados de junho serão revelados pelo supervisor bancário na próxima semana).

“Os depósitos à ordem e os depósitos com prazo acordado dos particulares apresentaram evoluções diferentes. Por um lado, os depósitos à ordem diminuíram em todos os meses de 2023, com exceção de junho, quando aumentaram 0,1 mil milhões de euros. Por outro lado, os depósitos com prazo acordado estão a crescer desde abril, apresentando, em junho, um crescimento de 1,1 mil milhões de euros, a maior variação mensal desde fevereiro de 2012”, indica o comunicado publicado pelo Banco de Portugal.

Decréscimo homólogo mais intenso de sempre

Mas se houve este aumento mensal, a evolução face ao mesmo mês do ano passado não é positiva: é um decréscimo de 3% face a junho de 2022.

É uma evolução esperada tendo em conta que, apesar do aumento mensal, os montantes aplicados no ano passado não foram ainda atingidos depois da fuga de depósitos registada na primeira metade de 2023. Em junho registou-se o decréscimo homólogo mais intenso de sempre.

Na zona euro, a evolução não é essa: nunca houve uma quebra homóloga dos depósitos, ainda que a subida dos valores colocados na banca venha a abrandar. Em junho foi a mais baixa dos últimos tempos, com um aumento de 1,1% - de recordar que Portugal foi sempre, ao longo destes meses, um dos países que pagaram juros mais baixos nos depósito