Paula Sofia Cruz ,in DN
Um estudo da Pordata destapa a realidade dos jovens portugueses, no momento em que começa a JMJ. Os números são preocupantes: 95% vivem com os pais, e isso acontece por causa do desemprego e da precariedade no mercado de trabalho.
Um total de 95% dos jovens portugueses (que em 2022 eram 10% da população) vivem com os pais, o quarto valor mais alto na União Europeia. Essa é uma das conclusões do estudo da Pordata que hoje é tornado público. No documento percebe-se também que são cada vez mais qualificados - 9 em cada 10 jovens entre os 20 e os 24 anos têm, no mínimo, o ensino secundário, e Portugal é o 7.º país da UE com maior proporção de jovens com ensino superior.
Apesar disso, as preocupações com o acesso à habitação e ao emprego continuam a afetá-los: 6 em cada 10 têm vínculos de trabalho precários, e Portugal é o 7º país da UE com maior taxa de desemprego jovem, afetando 1 em cada 5 jovens no mercado de trabalho. Há outro dado positivo neste retrato agora traçado pela Pordata: os jovens portugueses têm competências digitais acima da média europeia, e estão em 5.º lugar entre os que mais utilizam as redes sociais e leem notícias online. No campo das boas notícias, o documento revela que os hábitos de saúde deste grupo etário parecem estar a melhorar - diminuiu a percentagem de jovens que afirma nunca praticar desporto (um em cada 3) ou que fuma diariamente (9%).
Em 2022 contabilizavam-se em Portugal 1.086.544 jovens entre os 15 e os 24 anos (51% eram do sexo masculino e 49% do sexo feminino) o que representa uma diminuição de 6 pontos percentuais desde 1961, refletindo a redução das taxas de natalidade e o aumento da esperança média de vida. Para Gonçalo Saraiva Matias, presidente do conselho de administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), este estudo revela "um indicador muito positivo, e outro bastante negativo". Refere-se, respetivamente, à educação e competências digitais, onde os jovens portugueses estão num patamar superior à média europeia; por outro lado, "não estamos bem no desemprego (Portugal é o sétimo país da União Europeia com maior desemprego jovem), e seis em cada dez jovens têm vínculos laborais precários. Isto tem necessariamente um reflexo na inclusão social, já que 25% dos jovens estão em risco de pobreza ou exclusão social. Gonçalo Matias acredita mesmo que "temos aqui uma situação explosiva, porque uma faixa considerável dos jovens, entre os 15 e os 24 anos, tem muita qualificação, mas depois tem trabalhos precários e pouca capacidade de entrar no mercado".
"Na minha opinião, até baseada noutros estudos que a Fundação tem feito, isto revela que há um incentivo grande a que os jovens saiam do país", conclui o presidente da FFMS.
O saldo migratório revela que, desde 2019, entram no país mais jovens do que aqueles que saem para viver no estrangeiro. Mas nem sempre foi assim: de 2010 a 2018 o saldo foi negativo.
De acordo com o estudo, no ano passado a esmagadora maioria dos jovens (95%) vivia com os pais, "valor que traduz uma mais difícil independência, sobretudo considerando que este valor era de 86% em 2004". Na verdade, Portugal é o 4.º país da UE, a seguir à Itália (97%), Croácia (96%) e Espanha (96%), em que mais jovens vivem com os pais, acima da média europeia (83%). Na Suécia e na Dinamarca, os jovens que vivem com os pais são menos de metade do total de jovens.
Em Portugal, de acordo com dados de 2022 do Eurostat, a idade média de saída de casa dos pais era aos 30 anos, mais 3 anos do que a média europeia.
Mais educação e competências digitais
Um dos dados mais animadores do estudo da Pordata diz respeito à Educação e Competências Digitais. Em Portugal, 6 em cada 10 jovens concluíram o ensino secundário e quase 3 em cada 10 têm o ensino superior. Somando o ensino superior com o secundário, 9 em cada 10 jovens têm, no mínimo, o ensino secundário, quando a média europeia é de 84%. Foi em 2020 que Portugal ultrapassou a média europeia relativa aos jovens que têm, pelo menos, o ensino secundário completo. Os dados comparativos permitem perceber que, há 20 anos, a proporção de jovens entre os 18 e os 24 anos que deixavam de estudar sem terminar o ensino secundário era de 45%, valor que ficou nos 6% em 2022. "Éramos o 2.º país, a seguir a Malta, com maior abandono escolar. Atualmente, somos o 8.º país com menor taxa de abandono escolar, com menos 4 p.p. face à média europeia (9,6%).
Os rapazes abandonam os estudos duas vezes mais do que as raparigas (8% vs. 4%).
A democratização do acesso ao ensino permitiu trajetórias escolares mais longas. Em 2022, Portugal era já o 7.º país da UE com maior proporção de jovens entre os 20 e os 24 anos com ensino superior, acima da média europeia (19%).
Portugal destaca-se também no que toca ao peso de alunos estrangeiros no ensino superior. 8% dos alunos em licenciaturas e 14% em mestrados são estrangeiros, valores acima da média europeia (6% e 12%).
De acordo com a avaliação das competências digitais, Portugal encontrava-se em 5.º lugar entre os países da UE em que os jovens, entre os 16 e os 24 anos, apresentam competências digitais básicas ou acima do básico. Quase todos os jovens portugueses utilizam diariamente a internet (99,5%), ocupando o 5.º lugar dos países onde os jovens mais usam a internet para participar nas redes sociais, e para ler notícias online. Já para participar em atividades cívicas ou políticas, ocupa a 10.ª posição. O aumento dos anos de escolaridade obrigatória e o acesso mais generalizado ao ensino superior traduziu-se num recuo da taxa de emprego dos jovens. Foram 17 pontos percentuais em 20 anos.
Mas a instabilidade laboral é frequentemente associada aos jovens. Os contratos temporários são uma realidade para cerca de 6 em cada 10 jovens (57%) empregados, bastante acima dos 14% que correspondem aos trabalhadores entre os 25-64 anos. Na UE, os contratos temporários abrangem 5 em cada 10 jovens (e 11% dos trabalhadores de 25-64 anos).
Em comparação com a população em geral. Em 2021, o salário médio dos jovens entre os 18 e os 24 anos era de 948,8€ euros mensais brutos, menos 345,3€ euros do que a média nacional.
No que respeita à religião - que afinal dá o mote a este retrato, à conta da JMJ - a maioria dos jovens diz-se católico.
paula.sofia.luz@ext.dn.pt