3.2.15

Portugal vive «excesso de ignorância» e «défice de conhecimento»

in TVI24

No final da convenção «Tempo de avançar», Viriato Soromenho Marques falou da necessidade de inteligência e sentido crítico e lamentou a «degradação da democracia representativa» e a «captura do poder político» pelas instituições financeiras

Portugal vive o tempo de «uma política de legítima defesa», devido a uma crise de «excesso de ignorância» e um «défice de conhecimento», considerou este sábado o filósofo Viriato Soromenho Marques no final da convenção «Tempo de avançar».

A convenção juntou 600 participantes em Lisboa, entre independentes e movimentos como o LIVRE que se juntaram na iniciativa «Tempo de Avançar», que disputará as próximas eleições legislativas.

A convenção foi o início desse processo de fazer as listas de candidatos a deputados e aprovou também documentos regimentais e as linhas programáticas (com o título genérico «Avançar agora para recuperar o futuro»).

Aos presentes, o filósofo e professor falou da necessidade de inteligência e sentido crítico e lamentou a «degradação da democracia representativa» e a «captura do poder político» pelas instituições financeiras.

E insurgiu-se contra a «náusea» que causam os casos relacionados com bancos como o BES ou o BPN, contra a «legislação escrita por lobistas», contra as democracias não serem capazes de dar resposta aos «desafios globais da crise» e à «globalização caótica do sistema económico».

«A globalização financeira está a chegar ao ponto de rutura, se a política não tiver capacidade de regular a esfera financeira», avisou, lembrando uma lei norte-americana de 1933 que separou e protegeu os bancos comerciais face aos de investimento, e que foi abolida em 1999.

«Com uma lei assim o caso BES nunca teria acontecido», disse Soromenho Marques à Lusa, acrescentando que o mundo é cada vez mais de desigualdades e mais «sujeito a bolhas financeiras».

No entender do responsável a construção europeia «é talvez a principal vítima da anarquia da globalização financeira», com uma união económica e monetária que «em vez de proteger os cidadãos, os povos e os Estados acabou por os transformar em vítimas dos mercados».

É por isso que, disse, a Europa vive «um momento perigoso», com a Grécia (que elegeu um partido que se assumiu de rutura contra a austeridade) a poder sofrer «momentos dolorosos».

O movimento «Tempo de Avançar» tem uma dinâmica de crescimento enorme e se não vai resolver sozinho os problemas vai dar uma contribuição, disse também à Lusa.

Na convenção aprovou-se as linhas programáticas da candidatura, que perspetivam um orçamento do Estado com «redistribuição mais justa da carga fiscal», a valorização do salário mínimo, e a proteção das famílias que percam a casa por não pagamento de hipotecas.

E um «processo de desprivatização» que inclua a TAP, Águas de Portugal e Caixa Geral de Depósitos, e eventualmente a nacionalização de empresas ou atividades «indevidamente privatizadas ou concessionadas».

No documento preconiza-se mudanças no sistema eleitoral para incluir um círculo nacional, e o direito de voto dos imigrantes que vivam no país há mais de três anos. E quer-se também um novo referendo sobre a regionalização, com a qual concordam.

Nas políticas sociais deve de restringir-se o papel dos privados, deve reorganiza-se o setor da Saúde, e, diz-se no documento, devem limitar-se as «atribuições excessivas de bónus» a quadros superiores.

Nele também se defende a criação de um rendimento básico «atribuído a todos os cidadãos». Mas de criação ponderada. E só se for sustentável.