13.9.17

Artistas colocam o dedo nas feridas da crise financeira através de obras em vídeo

in Diário de Notícias

Obras em vídeo de 22 artistas colocam a partir de hoje, em Lisboa, o dedo nas feridas provocadas pela crise financeira global de 2008, agravando os problemas do desemprego, dos refugiados, da pobreza e da contestação social.

A exposição, que inaugura hoje, às 19:00, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), e abre ao público na quarta-feira, apresenta a visão pessoal de criadores provenientes desde os Estados Unidos e América Latina, da Europa ao Médio Oriente.

Numa visita guiada aos jornalistas, Pedro Gadanho, diretor do MAAT, e Luísa Santos, ambos curadores da exposição, apresentaram as "imagens em movimento" que testemunham nesta exposição as tensões e inquietações que marcaram a sociedade desde essa crise financeira global.

"Todos os artistas aqui representados têm uma posição muito ativa na sociedade. Não são necessariamente ativistas, mas acreditam que a arte pode ter um papel de questionamento, intervenção ou mudança social", sublinhou Luísa Santos.

Entre as obras surge uma montagem de Patrícia Almeida com uma sequência de imagens da interrupção, pela ativista Josephine Witt, de um discurso do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.

"Na altura não foram feitas filmagens deste episódio ativista, no qual a jovem atira 'confetis´ e interrompe o discurso, portanto a artista teve de procurar várias fotografias, e criar uma narrativa em vídeo do que terá acontecido", apontou a curadora.

Outra obra, de Nicolaj Larsen, intitulada "Quicksand", cria uma ficção do que poderia acontecer, em 2023, se um grupo de cidadãos britânicos que querem fugir às dificuldades da vida no Reino Unido, decidindo fazer a travessia do Mediterrâneo de barco, de forma a emigrar para o sul.

"Criei esta ficção porque senti que muitas pessoas que vivem na Europa têm pouca empatia para com os refugiados provenientes do sul, das suas dificuldades e sofrimento, dos riscos que correm na travessia", explicou o artista aos jornalistas.

No vídeo, a imensidão e presença do mar são intensas. Não há corpos visíveis, mas ouve-se as vozes dos britânicos que tentam fazer a travessia num barco que acaba por meter água, e os ocupantes morrem afogados.

Por seu turno, o artista português Paulo Mendes apresenta um vídeo com uma recolha de imagens de atentados terroristas e tumultos de imigrantes ocorridos em França e em Espanha, retirados de vídeos que foram colocados na internet e de imagens de videovigilância.

"Tudo isto mostra que a Europa está em falência devido às opções políticas erradas, e há uma grande necessidade de mudança política, económica e social", defendeu.

Por seu turno, Pedro Gadanho sublinhou que as obras desta exposição exprimem como a crise financeira de 2008 se alastrou a várias áreas, nomeadamente ao racismo, "que já existia, mas acentuou-se com o agravar das desigualdades sociais, como aconteceu nos Estados Unidos, com o caso dos tumultos em Charlotsville".

"Tensão & Conflito - Arte em vídeo após 2008" reúne ainda obras de Halil Altindere, Marila´ Dardot, Bofa da Cara, Burak Delier, Melanie Gilligan, Lola Gonza`lez, Hiwa K, Silvia Kolbowski, Marc Larre´, e Jorge Macchi.

Também estarão representados Mario Pfeifer, Francisco Queiro´s, Anatoly Shuravlev, Federico Solmi, Pilvi Takala, Maria Trabulo, Dragana Zarevac, Artur Zmijewski, e Yorgos Zois.