20.9.17

Abaixo da linha de pobreza no país mais rico da Europa

Texto: António Louçã. Imagem: Carlos Oliveira. Edição: Nuno Patrício, Pedro Pina, in RTP

Em pleno boom económico, a Alemanha tem cada vez mais pessoas a recorrerem à "sopa dos pobres". Em Berlim, a RTP esteve em duas dessas instituições e ouviu pessoas envolvidas - como voluntárias ou como beneficiárias.

Na Wohlankstrasse, em Pankow, os frades franciscanos mantêm desde há vários anos instalações em que qualquer pessoa pode ir comer uma refeição, tomar um duche, receber alguma roupa e passar algumas horas.

Um dos organizadores desta "sopa dos pobres", que faz questão em identificar-se simplestemente como "Irmão Johannes", explicou à RTP o que podem receber as pessoas que se dirigem àquele local em busca de ajuda.

Uma outra explicação dizia respeito às regras de comportamento que foi necessário definir, nomeadamente a proibição de bebidas alcoólicas. O Irmão Johannes constata, simultaneamente, que o número de pessoas a procurar ajuda na Wohlankstrasse tem vindo a aumentar - também em tempos de crescimento económico.

Ulrich Schneider, director-geral de uma organização de combate à pobreza, descreve este agravamento da desigualdade social e da pobreza e apresenta dados concretos que ajudam a explicar o afluxo crescente à "sopa dos pobres".

Klaus Höhne, um voluntário que presta serviço nas instalações dos franciscanos, guiou a RTP pelas secções que Johannes tinha referido, nomeadamente a da distribuição de roupa e calçado e esclareceu que o apoio que não se presta aos beneficiários é o de deixá-los pernoitar no edifício da Wohlankstrasse.

O problema do local onde pernoitar é dramático para alguns dos habituais visitantes da Wohlankstrasse. Um deles, Lutz Wolgas, relatou à RTP as condições que encontra num dormitório público, em que podem suceder roubos ou agressões, sem que a polícia tome quaisquer medidas eficazes.

Ulrich Schneider sublinha a essencial ambiguidade das "sopas dos pobres" - por um lado como ajuda indispensável para muitas pessoas que vivem em situação de pobreza, ou no seu limiar; por outro, como desculpa de políticos e burocratas para fixarem um rendimento mínimo muito baixo, confiando em que alguém porá o que falta.

Na "sopa dos pobres" que funciona junto da estação de comboios do Jardim Zoológico de Berim, nota-se uma proporção muito maior de pessoas sem-abrigo e situações de exclusão social mais extremas. Mas nem só os sem-abrigo e nem só os desempregados recorrem às diversas "sopas dos pobres". Pessoas que têm salários insuficientes para subsistirem, elas próprias e as suas famílias, procuram aí um complemento a esse salário.