20.2.18

Oxfam. Suspeitos de abusos ameaçam vítimas e testemunhas

in RTP

A organização não-governamental Oxfam revelou esta segunda-feira que três dos homens acusados de abusos sexuais e má conduta no Haiti “ameaçaram fisicamente” vítimas e testemunhas durante uma investigação interna em 2011. Factos que terão acontecido meses depois de o território ter ficado destruído por um sismo.

O relatório com as acusações foi divulgado esta segunda-feira. No documento, citado pela BBC, a Oxfam sublinha que "é preciso fazer mais para prevenir problemas com funcionários", isto depois de vários dos funcionários ligados a este escândalo terem acabado por assumir cargos noutras organizações não-governamentais.

Segundo uma investigação divulgada na semana passada, vários funcionários da organização são acusados de violações durante missões humanitárias no Sudão do Sul, de abusos sexuais na Libéria e de terem contratado prostitutas para orgias pagas com dinheiro da ONG no Chade e no Haiti, remontando alguns destes casos a 2010 e 2011.

A versão do relatório com 11 páginas agora conhecida inclui alguns excertos censurados, designadamente os nomes dos três homens acusados de intimidar testemunhas.
Desculpas pelos "erros"

A Oxfam, que tem quase dez mil funcionários no terreno em mais de 90 países, defendeu que quer ser "o mais transparente possível" quando às decisões que tomou face às alegações e que, por isso mesmo, vai entregar nas próximas horas uma versão integral do relatório ao Governo do Haiti, acompanhado de um pedido de desculpas pelos "erros" ali cometidos.

Há várias semanas que a organização estava sob intensa pressão internacional pela forma como lidou com as alegações de que funcionários seus recorreram aos serviços de prostitutas no Haiti. Na sequência desse facto, sete pessoas abandonaram a organização.

O trabalho que a Oxfam desempenhou no Haiti foi parte do esforço internacional após o sismo que sacudiu Port-au-Prince, do qual resultaram 220 mil mortos, 300 mil feridos e 1,5 milhões de pessoas sem abrigo.

No documento é apontado que o então diretor de operações no Haiti, Roland Van Hauwermeiren, "admitiu recorrer a prostitutas" na sua residência da Oxfam quando a equipa de investigação interna o confrontou com as acusações há sete anos. No entanto, na semana passada Van Hauwermeiren desmentiu ter pago por sexo.

Acabou por lhe ser garantida uma "saída faseada e dignificante" da Oxfam, com o suspeito a demitir-se em vez de ser despedido, na condição de cooperar totalmente com o inquérito interno.

Não se sabe se Van Hauwermeiren é um dos três suspeitos de ameaçarem fisicamente testemunhas neste caso.

"Lições aprendidas"

Numa segunda secção do documento divulgado esta segunda-feira, sob o título "Lições Aprendidas", a Oxfam diz que são necessárias mais garantias de segurança em toda a indústria das ONG para impedir que este tipo de funcionários seja transferido para outros postos ou outros grupos.

"São precisos melhores mecanismos para informar outras regiões/afiliados/agências de problemas nos comportamentos dos funcionários quando estes são afastados e para evitar 'reciclar' funcionários problemáticos ou que têm fraco desempenho".

Apesar do aviso, sabe-se que depois de abandonar a missão no Haiti, Van Hauwermeiren foi contratado para chefiar a delegação da Action Against Hunger, no Bangladesh.

Esta ONG veio entretanto garantir que investigou Van Hauwermeiren e que não recebeu da Oxfam qualquer informação sobre comportamentos desapropriados.


Na semana passada, o Presidente do Haiti, Jovenel Moise, considerou como uma "violação extremamente grave para a dignidade humana" este caso de escândalo sexual que envolve responsáveis da Oxfam.

O Chefe de Estado acrescentou que "não há nada mais escandaloso e desonesto do que um predador sexual que usa a sua posição como parte da resposta humanitária a um desastre natural para explorar as pessoas carentes nos seus momentos de maior vulnerabilidade".

Na sequência do escândalo, a subdiretora da Oxfam, Penny Lawrence, demitiu-se do cargo e admitiu que se "sentia envergonhada".

Helen Evans, que trabalhou como responsável global para a Oxfam entre 2012 e 2015, revelou que um dos cooperantes chegou a coagir uma mulher para ter relações sexuais "em troca de ajuda".


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