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20.7.22

Oxfam quer taxar bilionários do setor alimentar para combater a fome

in JN

A Organização Não-Governamental (ONG) Oxfam disse esta segunda-feira que bastam duas semanas dos lucros obtidos pelos bilionários do setor alimentar para garantir o financiamento pedido pela ONU para combater a fome na África Oriental."Uma quantidade monstruosa de riqueza está a ser acumulada no topo das cadeias globais de abastecimento alimentar", disse Hanna Saarinen, responsável pela política alimentar da Oxfam espanhola, citada pela agência espanhola de notícias Efe, acrescentando que bastariam duas semanas dos lucros dos bilionários da indústria alimentar para financiar todo o apelo da ONU para responder à crise da fome na África Oriental, que enfrenta atualmente défices de financiamento.

A ONG salientou que os bilionários neste setor aumentaram a sua riqueza coletiva em 382 mil milhões de dólares (cerca de 377 mil milhões de euros) desde 2020, enquanto o apelo lançado pela ONU é de um total de 6,2 mil milhões de dólares (cerca de 6,12 mil milhões de euros), que recebeu apenas 16% do financiamento pedido.

"Embora o aumento dos preços dos alimentos esteja a contribuir para uma catástrofe crescente que está a deixar milhões de pessoas incapazes de se alimentarem, os líderes mundiais estão a caminhar na direção errada, são como sonâmbulos rumo a um desastre humanitário", advertiu a responsável.

"Precisamos de um novo sistema alimentar mundial para acabar verdadeiramente com a fome; um sistema que funcione para todos, e uma boa opção seria tributar os super-ricos, que viram a sua riqueza disparar para níveis recorde nos últimos dois anos", defendeu.

Preço de cabaz mínimo subiu mais de 160%

A Oxfam salientou que as pessoas nos países da África Oriental gastam até 60% dos seus rendimentos em alimentos, numa região que também é fortemente dependente de alimentos importados. Os alimentos e bebidas representam 54% do índice de preços na Etiópia, enquanto na Somália os preços do milho eram seis vezes mais elevados do que os preços mundiais em maio face ao que custavam um ano antes.

De acordo com o comunicado de imprensa da Oxfam, nalgumas regiões da Somália os gastos com o cabaz alimentar mínimo subiram mais de 160% em comparação com 2021, com o preço de um quilo de sorgo 240% mais alto do que a média dos últimos cinco anos.

No caso da Etiópia, a inflação alimentar subiu 43,9% desde o ano passado, com os preços dos alimentos a subir 70% entre janeiro e maio deste ano, mais do dobro do aumento global.

No Quénia, o preço da farinha de milho, o principal alimento básico, duplicou em sete meses e subiu 50% só entre junho e julho, um aumento dos preços dos alimentos e da energia que aumentará a pobreza em 2,5%, empurrando um número estimado de 1,4 milhões de pessoas para a pobreza extrema.

20.4.22

90% dos empréstimos do FMI impõem austeridade aos países pobres

Alberto Teixeira, in Ecoonline

Oxfam alerta que austeridade exigida pelo FMI aos países em desenvolvimento como contrapartida dos empréstimos vai aumentar a pobreza, fome e desigualdade.

Cerca de 90% dos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) relacionados com a Covid-19 exigem que os países em desenvolvimento adotem medidas de austeridade que vão aumentar a fome, a pobreza e a desigualdade, alerta a Oxfam. Esta organização de combate à pobreza pede que o fundo suspenda estas exigências, quando todo o mundo assiste a um aumento do custo de vida, com a subida dos preços da energia e dos alimentos.

Em 13 dos 15 programas de empréstimo do FMI que foram negociados durante o segundo ano da pandemia, os países em desenvolvimento tiveram de implementar medidas como aumentos de impostos sobre alimentos e combustíveis ou cortes na despesa pública que podem colocar em risco serviços públicos essenciais, como a saúde ou a educação, segundo a análise desta organização não-governamental.

Por exemplo, o Quénia e o FMI fecharam um acordo para um empréstimo de 2,3 mil milhões de dólares no ano passado, que implicou um congelamento dos salários do setor público durante três anos e impostos sobre o gás e alimentação, quando mais de três milhões de quenianos enfrentam a fome perante a maior seca em décadas no país e cerca de metade as famílias terão de pedir comida emprestada ou comprá-la com crédito, diz a Oxfam.

Em nove países, como os Camarões, Senegal e Suriname, as autoridades tiveram de introduzir ou aumentar as taxas de IVA em muitos produtos do dia-a-dia, como alimentação e roupa.

Dez países, incluindo o Quénia e a Namíbia, vão ter de congelar ou cortar salários e empregos no setor público, “o que pode significar menor qualidade da educação e menos enfermeiros e médicos em países” que já têm problemas de falta de pessoal de saúde.

“O FMI deve suspender as condições de austeridade nos empréstimos existentes e aumentar o acesso ao financiamento de emergência. E deve encorajar os países a aumentar os impostos sobre os mais ricos”, considera Nabil Abdo, assessor de Políticas da Oxfam International.

Abdo dá conta “do duplo padrão do FMI”, que exorta a Europa a evitar medidas de austeridade para não colocar em risco a sua recuperação económica, enquanto exige aos países com baixos rendimentos — e que não tiveram acesso às vacinas da Covid-19 — que apertem os cintos.

“A pandemia ainda não acabou para a maior parte do mundo. O aumento dos custos com energia e alimentos estão a prejudicar mais os países pobres. Estes países precisam de ajuda para aumentar o acesso a serviços básicos e proteção social, e não de condições severas” nos apoios financeiros, assinala Nabil Abdo.

De acordo com uma análise da Oxfam e Development Finance International também divulgada esta terça-feira, 43 dos 55 estados-membros da União Africana vão implementar cortes na despesa pública que ascenderão a 183 mil milhões de dólares nos próximos cinco anos. Se isso acontecer, estes cortes poderão colocar em causa os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

13.4.22

Mais 250 milhões de pessoas em pobreza extrema até ao final do ano. “A mais profunda queda da humanidade na pobreza de que há memória”

João Ruela Ribeiro, in Público

É necessário adiar o pagamento das dívidas dos países mais afectados para poderem atender às suas populações, avisa a Oxfam.

A subida dos preços da alimentação e da energia, causada pela invasão russa da Ucrânia, pode atirar mais 250 milhões de pessoas para a pobreza extrema em todo o mundo até ao fim do ano, alerta a organização humanitária Oxfam. São necessárias “acções radicais” para evitar esse cenário, diz a entidade.

Os efeitos económicos provocados pela guerra na Ucrânia associam-se ao impacto deixado pela pandemia. O Banco Mundial já tinha calculado que cerca de 198 milhões de pessoas poderiam descer ao patamar de pobreza extrema (vivendo, em média, com menos de 1,75 euros por dia) apenas devido à pandemia. Mas a Oxfam estima que esse risco se estenda a mais 65 milhões por causa das consequências da invasão.

A organização não governamental também prevê que mais 28 milhões de pessoas fiquem subnutridas até ao fim do ano. Entre as zonas do globo onde a probabilidade de haver fome em massa é mais elevada, destacam-se o Leste de África, a região do Sahel, o Iémen e a Síria. Ao todo, o ano de 2022 pode acabar com uma população de 860 milhões de pessoas, um pouco mais de 10% da população mundial, em pobreza extrema.

A factura da subida global dos preços da alimentação é mais pesada nos países mais pobres. Em média, os custos com comida em países riscos rondam os 17% dos gastos de consumo, enquanto na África Subsariana, por exemplo, esse valor ascende para 40%, diz a Oxfam.

“Sem acções radicais imediatas, podemos estar a assistir à mais profunda queda da humanidade na pobreza extrema e no sofrimento de que há memória”, disse a directora executiva da Oxfam, Gabriela Bucher, através de um comunicado. “Esta perspectiva aterradora torna-se mais revoltante pelo facto de biliões de dólares terem sido capturados por um pequeno grupo de homens poderosos que não têm qualquer interesse em interromper esta trajectória”, afirma a mesma responsável.

Vários governos estão numa situação próxima do incumprimento por causa da dívida externa e, por isso, têm sido forçados a cortar subsídios sociais e despesa pública para poder evitar esse cenário.

Ainda esta semana, o Fundo Monetário Internacional reconheceu esse risco. “A guerra na Ucrânia está a juntar riscos aos níveis inéditos de endividamento público, enquanto a pandemia continua a sugar muitos orçamentos governamentais”, observam o director do departamento de Assuntos Fiscais do fundo, Vítor Gaspar, e a directora de estratégia, Ceyla Pazarbasioglu, numa publicação recente. Os dois dirigentes propõem “uma abordagem cooperativa global que possa alcançar uma resolução ordeira dos problemas da dívida e prevenir incumprimentos desnecessários”.

Uma das medidas propostas pela Oxfam, que publicou o relatório antes dos encontros de Primavera do Banco Mundial e do FMI, consiste no cancelamento dos pagamentos de dívida externa dos países mais afectados. A organização acredita que poderiam ser libertados cerca de 30 mil milhões de dólares (27 mil milhões de euros) se esses países pudessem adiar os pagamentos.

A Oxfam também propõe uma subida dos impostos para os mais ricos e para as empresas que têm visto os seus lucros subirem por causa da pandemia e da guerra. Também pediu aos países do G20 para que canalizem cerca de cem mil milhões de dólares (92 mil milhões de euros) que estão actualmente num fundo de austeridade para apoiar a população mais pobre através de subsídios ou cortes de impostos.

“Rejeitamos qualquer ideia de que os governos não têm dinheiro ou os meios necessários para retirar as pessoas da pobreza e da fome, e assegurar a sua saúde e bem-estar”, disse Bucher. “Apenas vemos a falta de imaginação económica e vontade política para o fazer”, acrescentou.

20.1.22

Fortuna dos 10 mais ricos do mundo duplicou durante a pandemia

in JN

A pandemia de covid-19 tornou os mais ricos do mundo muito mais ricos, mas também levou a que mais pessoas vivessem na pobreza, alerta a organização Oxfam.

Num relatório que evidencia os extremos, a organização humanitária britânica Oxfam refere que a redução de rendimentos para os mais pobres do mundo contribuiu para a morte de 21 mil pessoas por dia. Por outro lado, os dez homens mais ricos do mundo viram as suas fortunas mais do que duplicar desde março de 2020, quando foi declarada a pandemia de covid-19, doença causada pelo coronavírus SARS CoV-2.

"Este ano, o que está a acontecer está fora da escala", disse Danny Sriskandarajah, diretor da Oxfam no Reino Unido, à BBC. "Tem havido um novo bilionário quase todos os dias durante esta pandemia, enquanto 99% da população mundial está em pior situação por causa dos confinamentos, redução do comércio internacional, menos turismo internacional e, como resultado disso, mais 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza".

"Algo está profundamente viciado no nosso sistema económico", acrescentou.

A Oxfam recorre aos números da revista "Forbes" para identificar os dez homens mais ricos do mundo: Elon Musk (Tesla, SpaceX), Jeff Bezos (Amazon, Blue Origin), Bernard Arnault e família (grupo LVMH), Bill Gates (Microsoft), Larry Ellison (Oracle), Larry Page e Sergey Brin (Google), Mark Zuckerberg (Facebook), Steve Ballmer (Microsoft) e Warren Buffet (Berkshire Hathaway).

Coletivamente, a riqueza dos dez mais ricos cresceu de 700 mil milhões de dólares para 1500 mil milhões de dólares, mas há uma variação significativa entre eles, com a fortuna de Elon Musk a crescer mais de 1000%, enquanto que a de Bill Gates aumentou mais modestamente: 30%.

A falta de acesso aos cuidados de saúde, a fome, a violência de género e fenómenos climáticos contribuíram para uma morte a cada quatro segundos.

Mais 160 milhões de pessoas vivem com menos de 5,50 dólares (4,81 euros) por dia do que teria acontecido sem o impacto da pandemia de covid.

A Oxfam diz ainda que a igualdade de género foi posta em causa, com menos 13 milhões de mulheres a trabalhar agora do que em 2019 e mais de 20 milhões de raparigas em risco de nunca mais regressarem à escola.

Danny Sriskandarajah defende que os líderes políticos têm agora uma oportunidade histórica de apoiar estratégias económicas mais arrojadas para "mudar o rumo mortífero em que estamos". Isso deveria incluir regimes fiscais mais progressivos, que impõem taxas mais elevadas ao capital e à riqueza, com as receitas direcionadas para "cuidados de saúde universais de qualidade e protecção social para todos", diretor da Oxfam.

Fórum de Davos online devido à ómicron

A Oxfam publica normalmente um relatório sobre a desigualdade global no início da reunião do Fórum Económico Mundial em Davos, Suíça, marcada para esta semana. Pelo segundo ano consecutivo, a reunião será apenas online, uma vez que o aparecimento da variante ómicron deitou por terra os planos para o evento ser presencial.

O Fórum de Davos costuma reunir milhares de líderes empresariais e políticos, celebridades, ativistas, economistas e jornalistas na estância de esqui suíça.

A provável trajetória da pandemia, a equidade das vacinas e a transição energética serão temas em discussão durante a semana.

12.7.21

Morrem de fome onze pessoas por minuto

in Esquerda.net

A fome aumentou cinco vezes desde o início da pandemia. E, de acordo com a Oxfam, o pior ainda está por vir. A culpa é do “cocktail explosivo” dos “três C”: conflitos armados, Covid-19 e crise climática.

“O vírus da fome propaga-se”. Este é o título de um relatório(link is external) da Organização Não-Governamental Oxfam divulgado esta sexta-feira que alerta para um aumento preocupante das mortes por fome que superaram atualmente a taxa de mortalidade por Covid-19. No mundo, estão a morrer de fome onze pessoas por minuto; ao passo que morrem de Covid sete pessoas por minuto.

Não são estatísticas, são pessoas, sublinha Abby Maxman, presidente e diretora executiva da Oxfam América: “as estatísticas são chocantes, mas devemos lembrar que esses números são compostos por indivíduos enfrentando sofrimentos inimagináveis. Uma única pessoa já seria demais".

A ONG diz que a causa é o “cocktail explosivo” dos três “C”: os conflitos armados, a Covid-19 e a crise climática. E assinala que, devido à pandemia, “o desemprego em massa e a produção alimentar gravemente perturbada levaram a uma subida de 40% dos preços alimentares mundiais, a mais elevada desde há dez anos”.

Também as alterações climáticas pesam fortemente nesta equação. A ONG diz que os acontecimentos climáticos extremos que se têm feito sentir deixaram “mais de 16 milhões de pessoas em 15 países em níveis de insegurança alimentar críticos”.

Segundo esta organização, o número de pessoas que vivem em situações de fome estrutural multiplicou-se por cinco, alcançando os 521.814. E há ainda perto de 155 milhões de indivíduos em 55 países a sofrer níveis extremos de insegurança alimentar, dois terços dos quais em países que vivem em conflitos militares. Mais 20 milhões do que em 2020. Da lista dos países mais afetados pela fome constam o Afeganistão, a Etiópia, o Sudão do Sul, a Síria e o Iémen, países em guerra.

As estimativas são de que, até ao fim do ano, poderão morrer 12 mil pessoas diariamente de fome devido à pandemia. E “se as tendência atuais se mantiverem, o número de pessoas que sofrem de fome poderá atingir 840 milhões até 2030”, a data que era a meta da ONU para erradicação da fome. Por isso, a Oxfam defende que “o pior ainda está por vir, a menos que governos enfrentem com urgência a insegurança alimentar e suas raízes”.

Neste documento, a Oxfam critica ainda os gastos militares que aumentaram num ano 51 mil milhões de dólares, o que é seis vezes mais do que o total estimado pela ONU para acabar com a fome em todo o mundo. “Os governos se concentrar-se no financiamento de programas urgentes para dar resposta à fome e proteção social para salvar vidas agora, em vez de fechar negócios no setor do armamento que só perpetuam os conflitos, a guerra e a fome", defendem.

E apela-se aos governos para “financiarem integralmente o apelo humanitário das Nações Unidas e apoiar um fundo mundial dedicado à proteção social” e a “garantirem um acesso humanitário às zonas de conflito e a não utilizarem mais a fome como arma de guerra”.

16.12.20

Um terço da população mundial sem apoio para combater pandemia

in Dinheiro Vivo

A Oxfam concluiu que nenhuma das injeções de fundo público de 126 países foi suficientemente elevada para satisfazer as necessidades básicas dos seus cidadãos.

Cerca de 2,7 mil milhões de pessoas, mais de um terço da população mundial, não receberam nenhum apoio público para lidar com os efeitos da pandemia, segundo uma análise divulgada esta segunda-feira pela Oxfam Intermón.

A organização de defesa dos direitos humanos avaliou as políticas de 126 países de baixo e médio rendimento para ajudar a sua população durante a crise económica provocada pela covid-19, seja através de prestações por invalidez, de desemprego ou pensões de reforma, entre outros fatores.

No seu relatório, intitulado "Abrigo na Tempestade", a organização conclui que nenhuma das injeções de fundo público nestes países foi suficientemente elevada para satisfazer as necessidades básicas dos seus cidadãos.

"O coronavírus uniu o mundo com medo, mas dividiu-o na resposta", afirma a responsável de políticas públicas da Oxfam Intermón e coautora do relatório, Liliana Marcos, em comunucado divulgado pela agência de notícias espanhola Efe.

"A pandemia impulsionou um louvável esforço em matéria de proteção social a nível mundial que atingiu mais de mil milhões de pessoas, mas até hoje há muitos mais que ficaram totalmente de fora", acrescentou.

No total, foram gastos 9,62 mil milhões de euros no mundo este ano para fazer face às consequências do coronavírus, dos quais 8,06 mil milhões (83%) correspondem a investimentos de 36 países ricos, de acordo com os cálculos da Oxfam.

Em contrapartida, um grupo de 59 países pobres soma uma despesa de 34.500 milhões de euros (0,4% do total).

Neste contexto, a Oxfam lamenta que os países ricos apenas tenham aumentado em 4.760 milhões de euros o seu apoio aos Estados em desenvolvimento para financiar projetos de proteção social, o equivalente a menos de 0,74 euros por 82,20 euros para combater a covid-19.

Cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo trabalham menos ou perderam os seus empregos em resultado da pandemia, um problema que afeta as mulheres duas vezes mais do que os homens, segundo o relatório.

São os trabalhadores dos países de baixos rendimentos que mais sofreram com este cenário, uma vez que perderam 23% do seu horário de trabalho.

"Muitas pessoas estão a endividar-se, veem-se forçadas a saltar refeições, a deixar de levar as crianças à escola ou a vender os seus bens", alerta a Oxfam, que garante que o fluxo de capitais que os migrantes enviam para as suas famílias que deles dependem nos seus países de origem também reduziu.

O documento hoje publicado salienta que os países em desenvolvimento têm a opção de aumentar os seus impostos "a quem tem mais" para cobrir "programas universais de proteção social decentes".

Exige também que as nações mais ricas aumentem a sua ajuda e cancelem as suas dívidas aos mais pobres para que possam ser concedidos mais programas sociais.

Propõe que os governos dos países de baixo e médio rendimento atribuam mais 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) a programas que garantam "o rendimento mínimo para as crianças, idosos, mães e pessoas com deficiência

A Oxfam apela ainda à criação de um fundo global de proteção social, que é "a pedra angular de uma economia pós-Covid mais igualitária e resiliente, que evita um aumento das desigualdades e da pobreza no mundo".

9.12.20

Estudo indica que só os pobres reduzem emissões de carbono

 in o Observador

Estudo da organização internacional Oxfam baseia-se em investigação do Stockholm Environment Institute sobre emissões associadas ao consumo de grupos com diferentes rendimentos entre 1990 e 2015.

A redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) é feita essencialmente pelos europeus mais pobres, indica um estudo divulgado este domingo, segundo o qual também os portugueses mais ricos produzem 33 vezes mais GEE que os pobres.

O estudo, “Confrontar a Desigualdade de Carbono”, é da responsabilidade da Oxfam, uma organização internacional presente em mais de 90 países que procura soluções para a pobreza e a desigualdade. Baseia-se num trabalho de investigação do Stockholm Environment Institute sobre as emissões associadas ao consumo de grupos com diferentes rendimentos entre 1990 e 2015.

No documento, a Oxfam começa por afirmar que, apesar das fortes quedas nas emissões de carbono este ano, devido à pandemia de covid-19, “a crise climática continuou a crescer” e novas pesquisas “mostram como a extrema desigualdade de carbono nas últimas décadas trouxe o mundo à beira do colapso climático”.

E estima que, no mundo, num período (1990-2015) em que as emissões anuais de GEE cresceram quase 60%, e em que as emissões acumuladas duplicaram, os 10% mais ricos do mundo (630 milhões de pessoas) foram responsáveis por 52% das emissões de carbono, e os 50% mais pobres (3,1 mil milhões) apenas por 07%.

Dos resultados destaca-se que na União Europeia (UE) os 10% dos mais ricos têm aumentado as emissões de GEE, pelo que as reduções de GEE são resultado dos esforços dos cidadãos com rendimentos médios e baixos.

A Oxfam é parceira em Portugal da associação ambientalista Zero num projeto de capacitação da população na luta contra as alterações climáticas (financiado pelo programa DEAR – Development Education and Awareness Raising, da Comissão Europeia).

Num comunicado a propósito do estudo a associação ambientalista portuguesa afirma que o documento mostra que é fundamental combater a desigualdade carbónica para cumprir a nova meta climática da UE para 2030, que será discutida na quinta e na sexta-feira. O Conselho Europeu discute nesses dias uma proposta de redução de pelo menos 55% de GEE em relação a 1990, a atingir em 2030.

No período em análise, segundo o estudo, os 10% dos europeus mais ricos foram responsáveis por 27% das emissões de GEE, o mesmo que toda a população mais pobre, enquanto a classe média produziu 46% das emissões.

Por outro lado, os europeus mais pobres reduziram as emissões em 24% e os europeus com rendimentos intermédios reduziram em 13%. Os 10% mais ricos não só não reduziram como ainda as aumentaram, em 03%. E uma subdivisão entre a classe rica indica que os 01% muito ricos aumentaram as emissões de GEE em 05%.

O Acordo de Paris sobre a redução dos GEE, assinado há cinco anos, indica a necessidade de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus Celsius (1,5ºC), pelo que nas contas da Oxfam para que tal aconteça os 10% dos europeus mais ricos terão de reduzir 10 vezes a pegada carbónica e os 01% muito ricos terão de diminuir 30 vezes. Em contrapartida os 50% mais pobres só terão de reduzir para metade.

E segundo as mesmas contas há ainda uma grande desigualdade em termos de emissões de GEE dentro dos estados-membros da UE e entre eles. Os 10% mais ricos da Alemanha, Itália, França e Espanha (quase 26 milhões de pessoas), exemplifica-se, produzem a mesma quantidade de emissões que a população de 16 países da UE, aproximadamente 85 milhões de pessoas.

Em relação a Portugal, na análise da Oxfam citada pela associação Zero, é de salientar a desproporção de ricos e pobres em relação à UE, já que 72% dos portugueses fazem parte da metade dos mais pobres da Europa e só 22% fazem parte dos 40% de europeus com rendimentos intermédios. E só 06% entram para o “clube” dos 10% mais ricos da Europa.

Dados de 2015 indicam que em Portugal os 05% mais ricos foram responsáveis por 20% das emissões de GEE. Do outro lado os 05% mais pobres produziram 0,6% das emissões de GEE.

Em termos comparativos, ‘per capita’, Portugal, com a Suécia e a França, tem das emissões mais baixas da Europa. Tal deve-se, entre outros fatores, ao maior uso de energias renováveis, ao menor uso de energia para aquecimento e arrefecimento das casas, e ao facto de os ricos portugueses serem menos ricos.

Para a investigação foi considerado para os muito ricos um rendimento superior a 89.000 euros por ano (em 2015), os ricos com mais de 41.000 euros ano, os de rendimento médio entre 20 e 41.000 euros, e os pobres até 20.000 euros.

No comunicado a Zero considera fundamental que a UE use os instrumentos do Pacto Ecológico Europeu para combater a desigualdade e salienta que as emissões dos mais ricos terão de baixar significativamente, que se terá de promover a mobilidade elétrica e o transporte público, e taxar o combustível da aviação.

E lembra as consequências recentes do aumento das temperaturas globais, como inundações e ondas de calor na Europa, furacões mortíferos na América Central, ou incêndios florestais sem precedentes na Austrália e Estados Unidos.

13.7.20

Mais de 50 milhões em risco agravado de fome extrema em África, avisa Oxfam

in RR

Entre as dificuldades estão os limites à circulação, que impediram pastores de conduzir rebanhos para sul, ameaçando a existência de animais e fontes de subsistência.

Onze países africanos estão entre os principais pontos em que o risco de fome extrema foi agravado pela pandemia de Covid-19, estimando-se que, só na região do Sahel, mais 50 milhões de pessoas entrem em crise alimentar.

A estimativa é feita no relatório "O vírus da fome: como a Covid-19 está a aumentar a fome num mundo faminto", da organização não-governamental Oxfam, que analisa os impactos da doença em países onde a situação alimentar e nutricional das populações era já extrema antes da pandemia.

A organização elaborou uma lista de 10 países/regiões com níveis de "fome extrema" em finais de 2019, onde se contam a República Democrática do Congo (15,6 milhões de pessoas), a Etiópia (8 milhões de pessoas), o Sudão do Sul (7 milhões de pessoas) e o Sudão (5,9 milhões de pessoas).

A lista inclui ainda a região ocidental do Sahel, que cobre o Burkina Faso, Mali, Mauritânia, Níger, Chade, Senegal e Nigéria, com uma estimativa de 9,8 milhões de pessoas em situação de fome extrema.

Globalmente, os 11 países africanos concentram 46,3 milhões de pessoas em crise alimentar, mas o estudo projeta que só na região do Sahel, as medidas tomadas para conter a propagação do novo coronavírus possam atirar mais 50 milhões de pessoas para situações de insegurança nutricional e alimentar expondo-as a um maior risco de fome extrema.

"Entre março e maio de 2020, estimava-se que cerca de 13,4 milhões de pessoas necessitavam de assistência alimentar imediata em toda a região, empurradas para a fome devido a conflitos, alterações climáticas e ao fracasso dos governos em apoiar os pequenos produtores e distribuir igualmente a riqueza", aponta-se no estudo.

A violência forçou 4,3 milhões de pessoas a fugirem das suas casas e deixou 24 milhões a precisar de ajuda humanitária urgente, metade das quais crianças.

A insegurança afeta também a capacidade das pessoas para cultivarem as terras e manterem o gado, especialmente no Chade, Burkina Faso e norte do Senegal.

"As medidas para conter a pandemia afetaram o acesso aos mercados, a produção e os preços dos alimentos. O encerramento das fronteiras levou a aumentos acentuados no preço dos alimentos e dos produtos agrícolas importados em toda a região, com o Mali a ver os preços aumentar em 10%, em média, e a Nigéria a registar aumentos de 30%", adianta a Oxfam.

De acordo com o relatório, as medidas de encerramento impostas em muitas cidades em resposta à pandemia tiveram um impacto significativo nos produtores - muitos dos quais são mulheres - com produtos perecíveis como fruta, legumes e leite a ficarem estragados devido ao encerramento dos mercados.

As restrições à circulação impediram também que milhões de pastores conduzissem o gado para pastagens no Sul, entre março e junho, ameaçando a sobrevivência de rebanhos inteiros.

Neste contexto, alerta a Oxfam, "a pandemia poderá levar mais de 50 milhões de pessoas adicionais a uma crise alimentar e nutricional", numa altura em que foram mobilizados apenas 26% dos 2,8 mil milhões de dólares (2,47 mil milhões de euros) necessários para a resposta humanitária no Sahel.

"Milhões já estão a lutar para conseguir comer uma vez por dia. As mulheres, que muitas vezes ficam sem comida para poderem alimentar os filhos, correm um risco particular", adianta a organização.

No Sudão do Sul, o estudo refere que antes da pandemia, mais de 60% das pessoas enfrentavam níveis diversos de fome e quatro em cada cinco pessoas viviam abaixo do limiar da pobreza, num país há sete anos em conflito e onde 80% das pessoas dependem da agricultura.

As Nações Unidas advertiram que a fome ameaça a vida de até 5,5 milhões de pessoas, com as secas e inundações periódicas a destruírem culturas e gado, e a queda dos preços do petróleo a ter "um impacto devastador" num país que depende do setor petrolífero para 98% do seu Produto Interno Bruto (PIB).

Por outro lado, a diminuição da assistência humanitária terá também um impacto significativo num país onde 7,5 milhões de pessoas dependem desta ajuda para sobreviver.

O relatório aponta ainda a África do Sul como uma "zona emergente" de fome, adiantando que antes da pandemia, 13,7 milhões de pessoas que viviam na África do Sul não tinham acesso a alimentos suficientes devido aos elevados níveis de desemprego, à falta de acesso a bens como terra ou licenças de pesca, e ao elevado e crescente preço dos alimentos.

De acordo com a Oxfam, desde o início do confinamento no país, sondagens semanais revelaram que o desemprego e a perda de rendimentos estão a ter um impacto direto na segurança alimentar.

"Um em cada três adultos inquiridos disse que ia para a cama com fome e um quinto tinha perdido peso durante o confinamento devido à falta de alimentos", refere o documento, adiantando que o "problema é particularmente agudo nas zonas urbanas".

Milhões de trabalhadores informais viram-se subitamente desempregados e sem acesso a subsídios de doença ou desemprego, os preços dos alimentos dispararam e a proibição da atividade dos vendedores de alimentos de rua, que suportam cerca de 500 mil famílias e fornecem alimentos a 70% dos lares das cidades, está a ter um "impacto dramático", tanto nos agricultores, como nos clientes.

África passou hoje o meio milhão de casos de Covid-19 e o número de mortos subiu para 11.955, mais 333 nas últimas 24 horas, segundo os dados mais recentes sobre a pandemia no continente.

De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número de infetados subiu para 508.086, mais 16.336 nas últimas 24 horas, enquanto o número de recuperados é hoje de 245.068, mais 8.702.

22.5.20

Oxfam vai encerrar 18 representações por dificuldades financeiras

in Dnotícias

A Oxfam, uma das principais organizações internacionais de luta contra a pobreza, vai reduzir significativamente as operações por dificuldades económicas provocadas pela pandemia, encerrando escritórios em 18 países, o que pode implicar o despedimento de 1.450 pessoas.

A Oxfam, uma federação de 20 organizações não-governamentais a operar em 66 países e cujo trabalho é coordenado por duas dezenas de escritórios, anunciou num comunicado divulgado na quarta-feira ao fim do dia que se viu forçada a acelerar uma reorganização para se adaptar “ao continuado impacto da pandemia” associada ao novo coronavírus.

Entre os países onde vai encerrar escritórios figuram o Afeganistão, Egipto, Ruanda, Sudão e Tanzânia, encerramentos que, no seu conjunto, afectam 1.450 dos seus 5.000 trabalhadores.

Após a reorganização, a Oxfam vai manter escritórios em 48 países, em seis dos quais, caso da Indonésia ou do Quénia, por exemplo, a representação será entregue a novos parceiros independentes.

A organização tinha lançado no final de 2018 uma revisão estratégica para os próximos 10 anos, na sequência do escândalo sobre o envolvimento de responsáveis da Oxfam na exploração sexual de vítimas do terramoto de 2010 no Haiti, que levou muitos doadores a retirar o seu apoio, especialmente no Reino Unido, onde iniciou operações em 1942.

Muitas das suas lojas solidárias, que vendem produtos do chamado comércio justo e artigos doados, tiveram de encerrar, especialmente em países da Europa ocidental, também pelo impacto do escândalo.
O Haiti é um dos países em que a Oxfam vai suspender as suas operações.

“Olhar estrategicamente para onde e como operamos é o primeiro passo essencial para garantir que a Oxfam pode continuar a dar o melhor contributo possível à luta contra a desigualdade para acabar com a pobreza e a injustiça [...] Estamos a acelerar decisões-chave à luz dos efeitos da pandemia global”, afirmou, no comunicado a directora-executiva interina Chema Vera.

9.4.20

Covid-19: Pandemia pode deixar mais de 500 milhões de pessoas na pobreza

in Público on-line

Organização recomenda ajuda financeira directa às pessoas mais afectadas, apoio prioritário às pequenas empresas e perdões de dívida aos países mais pobres até ao fim do ano.

A organização não-governamental britânica Oxfam estima que a pandemia do novo coronavírus pode vir a deixar mais de 500 milhões de pessoas em situação de pobreza, na ausência de medidas de apoio aos países mais desprotegidos.

Num relatório intitulado “O Preço da Dignidade”, a Oxfam indicou que entre 6% e 8% da população mundial pode cair na pobreza, devido à paragem das economias para controlar a propagação do vírus.

Terá a América esquecido a lição da gripe espanhola?
“Isto pode significar à escala mundial um recuo de dez anos na luta contra a pobreza e um recuo de 30 anos em certas regiões, como a África subsariana, o Médio Oriente ou a África do Norte”, com mais de metade da população mundial ameaçada de cair em situação de pobreza após a pandemia, diz a Oxfam.

O aviso da organização foi divulgado antes das reuniões, previstas para este mês, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, bem como dos ministros das Finanças do G-20.

Sem sistemas de protecção social, os países mais pobres vão ser os mais afectados, tal como as populações com menos recursos, designadamente as mulheres.

Para evitar estes cenários, a Oxfam recomendou a atribuição de uma ajuda financeira directa às pessoas mais afectadas, um apoio prioritário às pequenas empresas, e o condicionamento de ajuda financeira às maiores empresas para que tomem medidas a favor das populações.

A Oxfam defendeu também a anulação, este ano, dos reembolsos da dívida por parte dos países mais pobres, citando o exemplo do Gana, que poderia “dar 20 dólares por mês a cada uma das suas 16 milhões de crianças, pessoas com limitações e pessoas idosas durante seis meses”, se fosse libertado dos prazos de pagamento da dívida.

Entre as outras recomendações da Oxfam estão o aumento dos recursos do Fundo Monetário Internacional para lhe permitir ajudar os países mais pobres, o aumento imediato da ajuda pública ao desenvolvimento dos países dadores e a criação urgente de impostos de solidariedade sobre os lucros extraordinários, as maiores fortunas, os produtos financeiros especulativos e as actividades com um impacto negativo sobre o ambiente.

21.1.19

Ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres

in JN

Metade mais pobre da população mundial corresponde a 3800 milhões de pessoas

A fortuna dos multimilionários cresceu 12% em 2018, a um ritmo de 2200 milhões de euros por dia, enquanto a riqueza da metade mais pobre da população mundial reduziu 11%, revela um relatório publicado pela Oxfam.
A metade mais pobre da população mundial, segundo o documento, corresponde a cerca de 3800 milhões de pessoas.

O relatório da organização não-governamental (ONG), intitulado "Bem-estar público ou lucro privado", mostra como esta lacuna coloca em perigo a luta contra a pobreza, como prejudica as economias e alimenta a indignação em todo o mundo.

O documento foi apresentado um dia antes do início do Fórum Económico Mundial, em Davos (Suíça).

Os governos, segundo a Oxfam, exacerbam a desigualdade "ao não fornecer aos serviços públicos, como educação e saúde, o financiamento necessário, ao conceder benefícios fiscais às grandes corporações e aos ricos e ao não coibir a evasão fiscal".

Além disso, "a crescente desigualdade económica afeta especialmente mulheres e raparigas", acrescenta a ONG num comunicado.

O relatório explica que "se 1% dos mais ricos pagasse apenas 0,5% a mais de impostos sobre a sua riqueza, poderia ser angariado mais dinheiro do que o necessário para escolarizar 262 milhões de crianças que agora não têm acesso à educação e fornecer assistência médica para salvar a vida de 3,3 milhões de pessoas".

"Em alguns países, como o Brasil, os 10% mais pobres da população pagam uma percentagem maior de impostos sobre os seus rendimentos do que os 10% mais ricos", revela a Oxfam.

Na América Latina e nas Caraíbas, enquanto a riqueza dos multimilionários aumentou, a pobreza extrema continuou a crescer, alcançando o seu nível mais alto desde 2008 e afetando 62 milhões de pessoas, representando 10,2% da população.

Nesta zona do mundo, a fortuna dos multimilionários aumentou em 10% em 2018 (31600 milhões de euros) e ascendeu a 364100 milhões de euros, uma quantia maior do que o produto Interno Bruto (PIB) da maioria dos países da região, com a exceção do Brasil, México e Argentina.

"Os 10% dos mais ricos pagam apenas 4,8% dos impostos sobre o seu rendimento, e deveriam pagar em média 28%", diz Oxfam ainda sobre esta região.

A ONG acrescenta que "com o dinheiro que as empresas deixam de pagar de impostos a cada ano devido aos benefícios fiscais, seria possível contratar 93 mil médicos na Guatemala e 349 mil no Brasil, construir 120 mil casas na República Dominicana e 70 mil no Paraguai e contratar 94 mil professores na Bolívia ou 41 mil em El Salvador".

Além disso, "os serviços públicos sofrem de um défice de financiamento crónico ou são subcontratadas empresas privadas que excluem as pessoas mais pobres".

"Todos os dias 10 mil pessoas morrem por não poderem pagar os cuidados de saúde, enquanto nos países em desenvolvimento, uma criança de uma família pobre tem duas vezes mais probabilidade de morrer antes de atingir os 5 anos do que uma criança de uma família rica", adverte a Oxfam.

Além disso, a redução de impostos beneficia especialmente os homens, que "detêm 50% mais riqueza do que as mulheres no mundo e controlam mais de 86% das grandes empresas".

"Entretanto, quando os serviços públicos são negligenciados, são as mulheres e meninas que vivem na pobreza que sofrem mais com as consequências", segundo a Oxfam.

20.2.18

Oxfam. Suspeitos de abusos ameaçam vítimas e testemunhas

in RTP

A organização não-governamental Oxfam revelou esta segunda-feira que três dos homens acusados de abusos sexuais e má conduta no Haiti “ameaçaram fisicamente” vítimas e testemunhas durante uma investigação interna em 2011. Factos que terão acontecido meses depois de o território ter ficado destruído por um sismo.

O relatório com as acusações foi divulgado esta segunda-feira. No documento, citado pela BBC, a Oxfam sublinha que "é preciso fazer mais para prevenir problemas com funcionários", isto depois de vários dos funcionários ligados a este escândalo terem acabado por assumir cargos noutras organizações não-governamentais.

Segundo uma investigação divulgada na semana passada, vários funcionários da organização são acusados de violações durante missões humanitárias no Sudão do Sul, de abusos sexuais na Libéria e de terem contratado prostitutas para orgias pagas com dinheiro da ONG no Chade e no Haiti, remontando alguns destes casos a 2010 e 2011.

A versão do relatório com 11 páginas agora conhecida inclui alguns excertos censurados, designadamente os nomes dos três homens acusados de intimidar testemunhas.
Desculpas pelos "erros"

A Oxfam, que tem quase dez mil funcionários no terreno em mais de 90 países, defendeu que quer ser "o mais transparente possível" quando às decisões que tomou face às alegações e que, por isso mesmo, vai entregar nas próximas horas uma versão integral do relatório ao Governo do Haiti, acompanhado de um pedido de desculpas pelos "erros" ali cometidos.

Há várias semanas que a organização estava sob intensa pressão internacional pela forma como lidou com as alegações de que funcionários seus recorreram aos serviços de prostitutas no Haiti. Na sequência desse facto, sete pessoas abandonaram a organização.

O trabalho que a Oxfam desempenhou no Haiti foi parte do esforço internacional após o sismo que sacudiu Port-au-Prince, do qual resultaram 220 mil mortos, 300 mil feridos e 1,5 milhões de pessoas sem abrigo.

No documento é apontado que o então diretor de operações no Haiti, Roland Van Hauwermeiren, "admitiu recorrer a prostitutas" na sua residência da Oxfam quando a equipa de investigação interna o confrontou com as acusações há sete anos. No entanto, na semana passada Van Hauwermeiren desmentiu ter pago por sexo.

Acabou por lhe ser garantida uma "saída faseada e dignificante" da Oxfam, com o suspeito a demitir-se em vez de ser despedido, na condição de cooperar totalmente com o inquérito interno.

Não se sabe se Van Hauwermeiren é um dos três suspeitos de ameaçarem fisicamente testemunhas neste caso.

"Lições aprendidas"

Numa segunda secção do documento divulgado esta segunda-feira, sob o título "Lições Aprendidas", a Oxfam diz que são necessárias mais garantias de segurança em toda a indústria das ONG para impedir que este tipo de funcionários seja transferido para outros postos ou outros grupos.

"São precisos melhores mecanismos para informar outras regiões/afiliados/agências de problemas nos comportamentos dos funcionários quando estes são afastados e para evitar 'reciclar' funcionários problemáticos ou que têm fraco desempenho".

Apesar do aviso, sabe-se que depois de abandonar a missão no Haiti, Van Hauwermeiren foi contratado para chefiar a delegação da Action Against Hunger, no Bangladesh.

Esta ONG veio entretanto garantir que investigou Van Hauwermeiren e que não recebeu da Oxfam qualquer informação sobre comportamentos desapropriados.


Na semana passada, o Presidente do Haiti, Jovenel Moise, considerou como uma "violação extremamente grave para a dignidade humana" este caso de escândalo sexual que envolve responsáveis da Oxfam.

O Chefe de Estado acrescentou que "não há nada mais escandaloso e desonesto do que um predador sexual que usa a sua posição como parte da resposta humanitária a um desastre natural para explorar as pessoas carentes nos seus momentos de maior vulnerabilidade".

Na sequência do escândalo, a subdiretora da Oxfam, Penny Lawrence, demitiu-se do cargo e admitiu que se "sentia envergonhada".

Helen Evans, que trabalhou como responsável global para a Oxfam entre 2012 e 2015, revelou que um dos cooperantes chegou a coagir uma mulher para ter relações sexuais "em troca de ajuda".


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1.8.17

"Em muitos países uma ONG é apenas um serviço de entrega de comida"

Helena Tecedeiro, in Diário de Notícias

Numa passagem por Portugal para um curso de verão na Fundação Gulbenkian, Deborah Hardoon, responsável pela Investigação da Oxfam Reino Unido, destacou a importância de ter dados fiáveis para dar credibilidade ao trabalho de uma ONG

Quanto esforço é que uma ONG como a Oxfam coloca na investigação?

No nosso caso, o esforço que pomos na investigação é muito elevado. Se olhar para a nossa estratégia e falar com os dirigentes da organização, é muito claro que é crítico para a nossa credibilidade e para a gestão de riscos basearmo-nos em provas fortes. Quer olhemos para a resposta humanitária, para o desenvolvimento a longo prazo ou para a defesa de causas, a investigação que sustenta esse trabalho é fundamental. Como investigadora, acho que podemos sempre fazer mais. Mas, pelo menos, na Oxfam há vontade clara de investir na busca de provas que sustentem o que fazemos.

Quais os maiores desafios na investigação para uma ONG como a Oxfam?

Há muitos desafios. O primeiro é encontrar a pergunta à qual queremos responder. Porque estamos a lidar com situações muito complexas. E a complexidade e mudança sistémica significam que temos de olhar para os problemas de uma perspetiva multidinâmica. Isso torna muito difícil identificar uma pergunta específica para a nossa análise; uma pergunta que verdadeiramente ajude a gerir um programa e encontrar uma solução. O segundo é que quando fazemos investigação junto de uma comunidade, em países em desenvolvimento, com pessoas que vivem na pobreza, isolados e marginalizados, queremos saber a sua história. Queremos descobrir o que se passa, como estão a ser afetados e o que podemos fazer para ajudar. Mas também temos de respeitar que são indivíduos com vidas e histórias próprias. Por isso, temos de garantir que temos o consentimento de que precisamos da sua parte. Não basta que fique implícito que dão a sua autorização, têm de dizer especificamente que não se importam e até querem que fiquemos a saber as suas histórias. E que compreendem e autorizam que a sua fotografia seja usada em material que vai servir para chamar a atenção para a sua situação. Faz parte da ética da investigação. O terceiro desafio é que as respostas que obtemos tendem a ser muito matizadas. Nunca podemos ter a certeza de que, se agirmos de certa forma, teremos um determinado resultado. Depende sempre. Depende do contexto. E, em termos de campanhas, isso não vai convencer ninguém. Por isso, temos de encontrar uma forma de traduzir as conclusões a que chegamos e estão cheias de nuances e complexidades e torná-las suficientemente poderosas para impor a mudança.

Há muitas suspeitas quando se fala do trabalho das ONG. É difícil ter uma verdadeira força na sociedade?

O impacto da nossa investigação depende do que estamos a analisar e de quem queremos influenciar. Os relatórios que nos últimos três anos a Oxfam publicou em janeiro antes do Fórum de Davos são dirigidos a uma audiência global - os media, o seu público, os líderes mundiais, o Papa, toda a gente. Esses relatórios têm sido muito poderosos a chegar a estas audiências. Durante esse processo fomos desafiados por várias organizações, sobretudo as que questionavam o argumento central dos nossos relatórios - que a desigualdade é uma coisa má e que temos de encontrar formas alternativas de gerir a nossa economia de maneira a que os mais pobres não fiquem para trás. Há grupos nos extremos neoliberais que acham que esse argumento prejudica o modelo económico que lhes é querido. Mas ficamos felizes por poder discutir com quem nos questiona. Em vez de publicarmos um relatório e de ele desaparecer, os críticos mantêm o assunto vivo. A nossa estatística principal era que oito milionários tinham tanto dinheiro como a metade mais pobre do planeta. Alguns críticos achavam que na soma da segunda metade mais pobre do planeta não devíamos incluir a dívida. Foi neste ponto que surgiu a maior desconfiança em relação ao relatório. Noutros casos o desafio surge quando as ONG tentam fazer um trabalho que pareça mais político. A maioria dos governos não se preocupa que as ONG levem comida a pessoas esfomeadas mas começam a preocupar-se quando essas ONG se envolvem na política. Em muitos países em desenvolvimento uma ONG internacional não pode fazer campanha, é apenas um serviço de entrega de comida.

Dar dinheiro é muitas vez mais eficaz do que dar comida, mas essa estratégia não passa facilmente para o público. Há alguma forma de convencer quem quer ajudar que uma estratégia funciona?

Desde 1981, quando a ideia surgiu, evoluímos bastante. E hoje muitos concordam que dar dinheiro é melhor do que dar alimentos quando falamos de desastres humanitários. Eu não trabalho na resposta humanitária, não sei bem em que ponto estamos. Mas ao longo dos anos foi por provarmos que o dinheiro era o que melhor funcionava através dos dados que recolhemos que se conseguiu ultrapassar em parte essa relutância. Se os dadores insistissem em agir contra os factos iam parecer ignorantes. A investigação é muito importante. Mas temos de entender a para dinâmica, os interesses instalados e que algumas organizações estão relutantes em abandonar o que sabem.

Trabalhou para a Transparency International no Índice da Corrupção. Diria que este mudou a forma como a justiça lida com a corrupção na política?

O índice foi publicado pela primeira vez em 1994 e na altura ninguém falava em corrupção. O Banco Mundial dizia que não existia, era uma palavra proibida. Na altura, o índice pôs no papel que a corrupção existia e que podíamos medi-la. Foi um trabalho fantástico para chamar a atenção. Ao longo dos anos passou a cobrir mais países e a ter mais impacto mediático. Quando chegámos aos anos 2000, a corrupção já está na agenda e começou a haver esforços por parte das instituições para a conter. Comecei a trabalhar na Transparency International em 2011 e havia muitos doadores interessados em financiar esforços anticorrupção. Hoje o índice é uma referência, já não é revolucionário, como foi há 20 anos. Porque já cumpriu o seu papel.