12.7.21

Morrem de fome onze pessoas por minuto

in Esquerda.net

A fome aumentou cinco vezes desde o início da pandemia. E, de acordo com a Oxfam, o pior ainda está por vir. A culpa é do “cocktail explosivo” dos “três C”: conflitos armados, Covid-19 e crise climática.

“O vírus da fome propaga-se”. Este é o título de um relatório(link is external) da Organização Não-Governamental Oxfam divulgado esta sexta-feira que alerta para um aumento preocupante das mortes por fome que superaram atualmente a taxa de mortalidade por Covid-19. No mundo, estão a morrer de fome onze pessoas por minuto; ao passo que morrem de Covid sete pessoas por minuto.

Não são estatísticas, são pessoas, sublinha Abby Maxman, presidente e diretora executiva da Oxfam América: “as estatísticas são chocantes, mas devemos lembrar que esses números são compostos por indivíduos enfrentando sofrimentos inimagináveis. Uma única pessoa já seria demais".

A ONG diz que a causa é o “cocktail explosivo” dos três “C”: os conflitos armados, a Covid-19 e a crise climática. E assinala que, devido à pandemia, “o desemprego em massa e a produção alimentar gravemente perturbada levaram a uma subida de 40% dos preços alimentares mundiais, a mais elevada desde há dez anos”.

Também as alterações climáticas pesam fortemente nesta equação. A ONG diz que os acontecimentos climáticos extremos que se têm feito sentir deixaram “mais de 16 milhões de pessoas em 15 países em níveis de insegurança alimentar críticos”.

Segundo esta organização, o número de pessoas que vivem em situações de fome estrutural multiplicou-se por cinco, alcançando os 521.814. E há ainda perto de 155 milhões de indivíduos em 55 países a sofrer níveis extremos de insegurança alimentar, dois terços dos quais em países que vivem em conflitos militares. Mais 20 milhões do que em 2020. Da lista dos países mais afetados pela fome constam o Afeganistão, a Etiópia, o Sudão do Sul, a Síria e o Iémen, países em guerra.

As estimativas são de que, até ao fim do ano, poderão morrer 12 mil pessoas diariamente de fome devido à pandemia. E “se as tendência atuais se mantiverem, o número de pessoas que sofrem de fome poderá atingir 840 milhões até 2030”, a data que era a meta da ONU para erradicação da fome. Por isso, a Oxfam defende que “o pior ainda está por vir, a menos que governos enfrentem com urgência a insegurança alimentar e suas raízes”.

Neste documento, a Oxfam critica ainda os gastos militares que aumentaram num ano 51 mil milhões de dólares, o que é seis vezes mais do que o total estimado pela ONU para acabar com a fome em todo o mundo. “Os governos se concentrar-se no financiamento de programas urgentes para dar resposta à fome e proteção social para salvar vidas agora, em vez de fechar negócios no setor do armamento que só perpetuam os conflitos, a guerra e a fome", defendem.

E apela-se aos governos para “financiarem integralmente o apelo humanitário das Nações Unidas e apoiar um fundo mundial dedicado à proteção social” e a “garantirem um acesso humanitário às zonas de conflito e a não utilizarem mais a fome como arma de guerra”.