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A Comissão Europeia apresentou, esta quarta-feira, o aguardado pacote legislativo "Fit for 55" para garantir que a União Europeia (UE) cumpre a meta de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 55% até 2030, relativamente aos níveis de 1990.
A pedra angular do plano é conseguir que quase todos os setores paguem para poluir.
O setor energético já o faz e vai pagar gradualmente mais, mas Bruxelas quer agora aplicar o mesmo às indústrias dos transportes e da construção.
Na prática, significa que os cidadãos - principalmente os mais pobres - serão mais pressionados com os custos.
"Definitivamente, há algo a fazer sobre os 75% de energia gerados por combustíveis fósseis, que continuam a ser consumidos para o aquecimento ou edifícios residenciais. Mas estamos a perceber que, de fato, a resposta passa pelo preço do carbono. E o problema com o preço do carbono é que terá um impacto desproporcional em diferentes pessoas. Caberá ao consumidor pagar a fatura final. Serão os consumidores vulneráveis", sublinhou, em entrevista à Euronews, Alix Bolle, da Energy Cities, associação europeia de autoridades locais e outras entidades de âmbito local que promove soluções inovadoras para o futuro energético.
Países como França já se manifestaram sobre a matéria. Há receios de que o movimento dos coletes amarelos volte às ruas, como aconteceu em 2018, por causa do aumento do preço dos combustíveis.
"Nos próximos meses vamos enfrentar muito mais do que o movimento dos coletes amarelos. As pessoas vão-se vestir integralmente de amarelo quando virem qual é o preço. Não será apenas o colete. Acredita que estão a pensar introduzir um imposto sobre o CO2 para o aquecimento das casas? Há muitas pessoas com escassez de combustível na Europa que não podem pagar o aquecimento da casa e agora querem introduzir mais impostos", ressalvou Samuel Furfari, professor de Política Energética na Universidade Livre de Bruxelas.
Mas, de acordo com Thomas Pellerin-Carlin, diretor do Jacques Delors Energy Centre, algumas das propostas da Comissão poderão ajudar a reduzir o impacto que a transição verde terá sobre as pessoas: "Algumas medidas propostas pela Comissão apresentam o risco de aumentar a pobreza energética. Outras medidas têm potencial para atenuar a pobreza energética. Isso significa renovar edifícios, ajudar as pessoas a comprar veículos elétricos."
É por esse motivo que a Comissão Europeia quer criar o que chama de "Fundo Social de Ação Climática", para ajudar as pessoas mais afetadas. A maior parte dos fundos virá de 20% do valor arrecadado com poluidores dos setores de transporte e construção.
O aumento do custo do combustível e da fatura energética preocupa muitas pessoas.
"Reconhecemos que atualmente já é difícil para algumas pessoas pagar as contas de energia ou de mobilidade, por exemplo, para conduzir. Antes de mais nada damos uma resposta a essa questão em aberto criando, em primeiro lugar, o Fundo Social de Ação Climática", referiu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
O "Fundo Social de Ação Climática" deverá ajudar as pessoas a adquirir veículos elétricos.
Quando os tiverem, muitos cidadãos europeus poderão, em teoria, sair da situação de pobreza energética devido ao baixo custo de carregar um elétrico.