23.7.21

TEIP: Escolas inovam pouco, mesmo tendo autonomia

Samuel Silva, in Público on-line

Aulas com dois professores e contratação de mediadores são estratégias seguidas pela maioria dos estabelecimentos de ensino incluídos no programa.

Apesar de terem autonomia para desenvolver abordagens adaptadas ao contexto da população que servem, a generalidade das escolas integradas no programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) não inovam nas estratégias utilizadas. A maioria delas usa os recursos adicionais que o Ministério da Educação disponibiliza para colocar dois professores em sala de aulas ou contratar mediadores. As conclusões são de um investigador da Universidade do Porto.

“Constatámos um repertório relativamente limitado de estratégias de intervenção usado pela generalidade das escolas, independentemente dos resultados de sucesso ou insucesso”, sublinha Hélder Ferraz, que esteve a avaliar as escolas TEIP no âmbito de um projecto de doutoramento, aprovado no mês passado na Faculdade de Psicologia e Ciência da Educação da Universidade do Porto.

A inclusão no programa TEIP dá às escolas mais recursos para a contratação de docentes e técnicos especializados e é precisamente aí que a generalidade das direcções tem investido. As estratégias de intervenção mais comuns são as aulas em coadjuvação, em que dois docentes trabalham simultaneamente em sala de aula, e também o recrutamento de psicólogos ou mediadores sociais para trabalharem na animação do espaço exterior da escola ou em ligação com as famílias.

São mais “raros” os exemplos de escolas que desenvolvem projectos “destinados a resolver os problemas específicos, que são diferentes de escola para escola”, afirma Ferraz. Ao contrário do que “era expectável”, não há uma relação entre o diagnóstico dos problemas da escola e da comunidade envolvente e o trabalho desenvolvido no âmbito do TEIP, prossegue o investigador, considerando esse fenómeno “surpreende”, sobretudo no contexto de um programa que dá às escolas “uma certa autonomia”.

Além dos resultados escolares, foram usadas outras métricas como os indicadores de abandono ou os percursos directos de sucesso – uma medida introduzida nos últimos anos pelo ME e que tem em conta os alunos que não reprovam no 10.º nem no 11.º ano e, no ao fim do 12.º ano, também têm positiva nos exames. Depois, foram seleccionadas seis escolas (que nunca são identificadas), que participavam há mais de cinco anos no programa, e apresentavam indicadores reveladores de percursos favoráveis ou desfavoráveis. Hélder Ferraz fez, junto dessas escolas, o trabalho de terreno, com entrevistas com directores e coordenadores TEIP e grupos de discussão envolvendo professores, onde foi possível fazer a avaliação das metodologias adoptadas.

Foram apontados três factores que justificam o “reportório limitado” de estratégias de intervenção. Por um lado, o envelhecimento da população docente, que “dificulta a adopção de metodologias de ensino-aprendizagem diferentes”. Por outro, a pressão acrescida motivada pelo aumento da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, que implica ter mais estudantes durante mais tempo na escola.

Por último, escolas e professores apontam dificuldade de relação com as famílias, crianças e jovens que vêm de situações muito difíceis que leva a que as escolas tenham um trabalho mais social e os técnicos que estão na escola têm uma função mais social no contacto com as famílias.