19.7.21

E se a Polícia tivesse agentes ciganos?

Vítor Rainho, opinião, iOnline

Os acontecimentos de Reguengos de Monsaraz são péssimos para todos os envolvidos e deixam uma imagem muito negativa das forças policiais. Como é possível dois guardas assistirem a tudo e andarem no meio da confusão como se fossem duas baratas tontas? Onde está a autoridade? As agressões não foram mais graves por mero acaso, pois o atropelamento de três indivíduos tinha tudo para provocar ferimentos mais graves. E como foi em flagrante delito, qual a razão para as autoridades não terem detido o condutor tresloucado?

A comunidade cigana devia começar a tomar uma posição pública sobre estes acontecimentos, pois como se calam acabam por ser todos vistos pela mesma bitola. Hoje há representantes credíveis que não deviam ter medo de condenar o comportamento daqueles homens de Reguengos de Monsaraz. Deviam ser eles próprios a condenarem tais atitudes, mas a inação dos guardas levanta outra questão pertinente: qual a razão para o Governo – este, o passado e o futuro – não tentar cativar homens e mulheres da comunidade cigana a entrarem nas forças policiais?

Em localidades onde a comunidade cigana é significativa seria diferente haver agentes ciganos, à semelhança do que se passa com outras minorias. Quantos mais polícias dessas minorias, menos haverá o argumento de racismo, embora em Reguengos se possa falar de racismo ao contrário.

Vários comerciantes contactados pelo i recusaram dar a cara, mas quase todos são unânimes: a GNR não consegue resolver os conflitos criados por pessoas que se sentem acima da lei, e até vira costas aos problemas. E sejam ciganos, muçulmanos, caucasianos, hindus, negros ou de outras cores e religiões, ninguém pode pensar que pode agredir os outros sem que tenha de responder perante a Justiça. E, como sabemos, isso é o que acontece com muita frequência em determinadas zonas, até em Lisboa.


P. S. A decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia de permitir às empresas proibirem o uso do véu islâmico pode dividir ainda mais a comunidade islâmica da católica. É certo que nos países árabes as mulheres ocidentais têm de se sujeitar às regras locais, mas na Europa só acho que essa medida faça sentido em empresas que têm um dress code onde só é permitido o que está estipulado no contrato e para onde só vai quem quer. O resto não me parece muito sensato, pois o hijab não esconde a cara de ninguém e não me parece que seja humilhante para quem o usa.