Sérgio Aníbal e Rita Siza (Bruxelas), in Público on-line
Portugal foi um dos dois únicos países que não viram as previsões de crescimento de Bruxelas para este ano serem melhoradas. E é agora a economia da UE com a data de regresso do PIB ao nível pré-covid mais atrasadaPortugal já era um dos países da União Europeia em que a pandemia estava a ter um impacto económico mais negativo, mas o mais recente aumento no número de casos de covid-19 no país, e particularmente em Lisboa, fez agora com que as previsões da Comissão Europeia para a economia portuguesa até ao final de 2022 passassem a ser mesmo, de entre todos os países da UE, as que apontam para um regresso mais demorado ao nível pré-crise.
Nas previsões de Verão apresentadas esta quarta-feira, a Comissão Europeia surgiu muito mais optimista do que há apenas dois meses.
Em Maio, previa um crescimento económico de 4,2% na União Europeia, e agora projecta uma variação do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,8%.
É uma diferença de 0,6 pontos percentuais que o comissário europeu Paolo Gentiloni classificou como “a maior revisão em alta” feita por Bruxelas nas suas previsões “em mais de dez anos” e que tem diversas explicações: o desempenho do primeiro trimestre, que foi melhor do que se esperava, o impacto já verificado do levantamento das medidas de confinamento, a subida dos indicadores de confiança das empresas e das famílias e a expectativa de que o certificado digital covid-19 possa reanimar a actividade turística na União Europeia.
O maior impulso na retoma terá acontecido, de acordo com as estimativas da Comissão Europeia, durante o segundo trimestre deste ano, em que o PIB da zona euro e da UE terá crescido 1,3%, em vez dos 0,9% antes previstos.
Feitas as contas, o regresso do PIB da zona euro ao nível anterior à pandemia acontecerá já nos últimos três meses deste ano, em vez de apenas no início de 2022 como era previsto anteriormente. E o crescimento estimado para 2022 também foi revisto ligeiramente em alta, de 4,3% para 4,4%.
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Mais lento a atingir nível pré-crise
Portugal, contudo, passa ao lado de todo este novo optimismo de Bruxelas. A previsão de crescimento da Comissão Europeia para Portugal manteve-se em 3,9% para 2021 e 5,1% em 2022, exactamente os mesmos valores que já tinham sido projectados no passado mês de Maio. Portugal é, a par da Finlândia, um dos dois únicos países em que a estimativa para este ano não foi revista em alta.
Para Portugal, não é esperada uma aceleração do crescimento face ao previsto e isso faz com que, ao contrário do que aconteceu com a generalidade dos países da União Europeia, a data em que é esperado o regresso da economia aos níveis anteriores à crise continue a ser a mesma: o terceiro trimestre de 2022.
Portugal passa a ser, entre os 24 países da União Europeia para os quais a Comissão faz previsões de evolução do PIB trimestre a trimestre, aquele que chega mais tarde ao valor do PIB do quarto trimestre de 2019. Também é no terceiro trimestre de 2022 que Espanha e Itália atingem esse objectivo, mas alcançando um crescimento do PIB, face ao nível pré-pandemia, ligeiramente maior que o português.
Nos últimos três meses de 2022, o PIB projectado para Portugal é apenas 0,6% maior do que o anterior à pandemia, o valor mais baixo entre todos os países da UE, enquanto no total da zona euro a diferença é de 2,8% e na UE de 3,3%.
A Comissão Europeia deixa claro porque é que Portugal ficou à margem da melhoria realizada nas projecções económicas.
“O ritmo da recuperação foi prejudicado pela reimposição parcial de restrições temporárias em Junho, que foi desencadeada pelo ressurgimento das infecções”, diz o relatório.
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Paulo Gentiloni, na conferência de imprensa de apresentação das projecções foi ainda mais pormenorizado. Explicando que, em relação à generalidade dos países da União Europeia, os números divulgados não consideraram a possibilidade de uma quarta vaga pandémica que force os Estados-membros a repor restrições ao movimento, no caso de Portugal, pelo facto de o ressurgimento de casos ter ocorrido mais cedo, isso já sucedeu.
“O principal factor que nos levou a ser menos optimistas [em relação a Portugal] foi por termos observado um aumento das infecções, que obrigou a tomar medidas na área de Lisboa e provocou dificuldades na vinda de turistas de países estrangeiros”, disse o comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros.
Para já, olhando para os indicadores disponíveis e que se referem na sua grande maioria apenas ao mês de Maio, não é ainda possível observar de forma clara um impacto negativo do ressurgimento de casos na actividade económica. Em particular, o indicador diário de actividade do Banco de Portugal, que já contém informação até 27 de Junho, não apresenta sinais de desaceleração.
No entanto, não só é possível que o agravamento da situação pandémica possa pesar negativamente na confiança dos agentes económicos, como, em algumas áreas, como a do turismo, o impacto é quase inevitável.
Em Maio, a chegada de turistas britânicos foi beneficiada pelo facto de Portugal ter sido incluído na “lista verde” daquele país, mas essa decisão foi revertida logo em Junho, tornando mais sombrias as expectativas de chegada de novos turistas.