25.1.19

Emanuel não quer mudar de bairro. Mas gostava que o bairro mudasse

Rita Costa com Ana Sofia Freitas, in TSF

Na última semana, viu a mãe a ser agredida pela policia e o irmão a ser detido por resistência e coação à autoridade no Bairro da Jamaica onde vive. Hoje falou à TSF sobre a vida no bairro e afirma que ali vivem felizes apesar dos confrontos que, assegura, são cada vez mais esporádicos.

Sobre o que se passou na última semana, não quer falar. Mas Emanuel Coxi, pouco mais de 20 anos, morador do bairro do Seixal, distrito de Setúbal, que tem estado no topo da atualidade, tem muito para contar.
Traz a frase "desculpa mãe" escrita na t-shirt, diz que é uma frase simbólica: "Tem um significado para todas as mães e para todos os filhos que ainda não conseguiram dar boas condições às mães". Aos 21 anos conta que se sente culpado por ainda não ter conseguido dar uma vida melhor à mãe, que quer poder dar-lhe uma casa, uma mesada, "tudo o que ela pedir, seja um carro, seja roupa, seja comida, seja o que for".

"Estou aqui desde 2001, cresci aqui. Nasci em Angola, mas vim para cá pequenino", conta Emanuel Coxi à reportagem da TSF. Apegado ao bairro onde cresceu, o jovem conta que não gostou da notícia da destruição do bairro, nem da ideia de ir viver para outro lugar. "Eu preferia que mandassem as pessoas embora, remodelassem isto e a gente voltava para cá, eu preferia assim". A família tem uma opinião diferente e Coxi compreende.
É sem qualquer ansiedade que o jovem angolano espera pelo prometido realojamento. "Eu falo por mim, pela minha família, estamos aqui tranquilos, quando tiverem que nos dar (casa) que deem, sempre nos habituámos aqui, não vai ser agora que vêm notícias de casas que vamos ficar frustrados. Se vier vem, se não vier também, somos felizes aqui."

"A vida aqui é simples, humilde, é calma, às vezes há aqueles confrontos, mas é a realidade do bairro, nenhum bairro tem uma boa fama", afirma Emanuel que revela que noutros tempos havia mais problemas e a polícia visitava mais vezes o bairro.

Emanuel Coxi conta que noutros tempos o bairro da Jamaica era um bairro com muita vida, havia música e festa todos os dias, mas " hoje em dia o bairro está mais calmo". Acredita que as pessoas perceberam que fazer "festa todos os dias não vai alimentar a família".
Questionado sobre se o facto de viverem em edifícios degradados não causa revolta, Emanuel assegura que não. "A gente vê ricos que não são felizes, têm vivendas e não são felizes, a gente vê filhos de ricos que não têm liberdade, nós aqui temos liberdade de expressão, de sair, de viver a nossa vida, aqui nós somos felizes, somos pobres, mas somos felizes."