15.1.19

Somos um país de idosos…

António Freitas, Mundo em Português

As últimas notícias, apontam que a GNR sinalizou 45.563 idosos a viver sozinhos ou isolados durante “Censos Sénior 2018”. Certamente um número que peca por defeito, pois na minha aldeia ou na minha freguesia, nunca tive conhecimento e mesmo por relatos familiares que agente de autoridade alguma tivesse vindo à porta ou andado nos povoados a fazer o levantamento. Mas adiante que alguns postos territoriais tem tão poucos agentes, que o dia a dia do serviço não lhes permite, andar nestas recolhas!

Em comunicado, a GNR adianta que o maior número de idosos identificados a viver sozinhos ou isolados foi no distrito de Vila Real (4.515), seguido da Guarda (4.008), Viseu (3.776), Beja (3.715), Bragança (3.385), Faro (3.165) e Portalegre (3.156). Em Lisboa foram identificados 1.138 idosos a viver sozinhos e isolados e no Porto 1.168.

A GNR explica que durante o mês de outubro de 2018, em todo o território nacional, realizou mais uma edição da Operação “Censos Sénior” que teve como objetivo atualizar os registos das edições anteriores e identificar novas situações de idosos que vivem sozinhos e/ou isolados. Durante a operação “Censos Sénior 2018”, a GNR, sinalizou 45.563 idosos que vivem sozinhos e/ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade, devido à sua condição física, psicológica, ou outra que possa colocar a sua segurança em causa. São importantes estes Censos que vem mais uma vez confirmar que Portugal, fruto da imigração interna e das emigrações tornou-se num “país de velhos” e pior que isso somos uma país que despeja os seus pais e avós, ou seja os seus ascendentes a viver sozinhos, ou em Lares, ou mesmo em alturas festivas em hospitais “ esquecendo-se “ deles como coisa descartável, velha e sem préstimo.

Já não vivemos na época de ter em casa, aos meses, os pais, como em tempos não muito longínquos e quando não surgiu a vaga dos Lares, os nossos pais recebiam os nossos avós. Os tempos são outros a vida é diferente. A família está cada vez mais dispersa. Década menos década vai-nos tocar a nós!

O serviço prestado pelas IPSS em termos de lares e centros de dia em todo o país ou mesmo em lares privados, indicam que se todas as pessoas com mais de 65 anos quisessem aceder à rede de serviços e equipamentos para idosos, só 13 em cada 100 encontraria resposta. Esta é a prova que somos um país de velhos. Esta informação consta da última Carta Social, documento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. No ano passado, a ocupação média dos centros de dia rondava os dois terços. Os lares estão mais cheios, sobretudo, de pessoas com algum tipo de demência.

O número de lugares nas principais respostas para as pessoas idosas revelou, um incremento (74%) ao longo do período de análise (2000-2017), em linha com o aumento do número de respostas. Em 2017, em relação a 2000, contabilizaram-se mais 116 mil novos lugares, totalizando cerca de 272 mil lugares.

Apesar da cobertura de respostas ter evoluído de forma positiva nos últimos dez anos, o aumento acelerado da população com 65 ou mais anos tem condicionado o crescimento da taxa de cobertura destas respostas.

Taxa de ocupação de lares em 92,6%
A taxa de ocupação dos lares de idosos estava nos 92,6%. Isso, segundo explica Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), significa que estão cheios. Há sempre um pequeno número de vagas, porque há sempre pessoas que vão morrendo. A ocupação média dos centros de dia é que estava nos 64,2% e a do serviço domiciliário nos 71,1%. A imagem estereotipada dos idosos sentados em toda a volta com um televisor ligado torna-se cada vez mais comum. Acabam, corrobora Lino Maia, por ser lugares pouco atractivos para idosos mais dinâmicos. Um dia a seguir ao outro, sempre igual à espera… à espera do quê?
Os centros de dia tornaram-se numa espécie de antecâmara para os lares. “São uma cunha para ter vaga”. E “é uma dificuldade levar as pessoas para os centros de dia porque muitas estão frágeis”, admite. “Têm dificuldade em ir, o que obriga instituições a fornecer transporte.” O serviço domiciliário não serve para todos os que precisam de cuidado. A resposta é muito tipificada. Apesar de as pessoas terem idades cada vez mais avançadas e necessitarem de cada vez mais cuidados, raramente incorpora cuidados de saúde ou outros serviços que não higiene e alimentação. Além disso, o serviço domiciliário não funciona, em muitos ao fim-de-semana, nem à noite. Mais importante do que continuar a aumentar o número de lares que existem, é repensar a rede.

Voltando aos lares “ilegais” em que muitos vêm no cuidar de idosos um negócio, em 2018 já foram encerrados 56 lares de idosos ilegais. Dói o coração quando, as notícias televisivas dão conta quando algum Lar ilegal é encerrado.

Todos os encerramentos efetuados pelo Instituto da Segurança Social estão relacionados com falta de condições (…) a nível de falta de licenciamento , falta de recursos humanos, instalações inadequadas, prestação de serviços aos utentes inadequada ou situações que coloquem em risco a saúde/bem-estar dos utentes”, explica fonte do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social .

As principais associações de lares de idosos defendem que o problema está na lei, já que os requisitos para a legalização deste tipo de espaços são “complexos” e “desajustados”. “É fundamental a alteração da atual portaria, que inviabiliza soluções mais económicas, como a adaptação de moradias já existentes”, afirmou o líder da ALI. De acordo com João Ferreira de Almeida, as condições exigidas para manter aberto um lar de idosos em Portugal provocam a curto e médio prazo a subida desmesurada das mensalidades, o que acaba por fazer com que as famílias procurem muitas vezes situações mais económicas – e muitas vezes ilegais. Enquanto isso é anunciado um investimento belga em lares de idosos em Portugal vai criar 900 postos de trabalho, em que um multimilionário belga vai investir 200 milhões de euros em lares de idosos, com a promessa de revolucionar o setor das residências séniores em Portugal. O projeto inclui 14 residências e promete criar 900 postos de trabalho. Certamente que não será um solução para quem mensalmente nem 300 euros me média tem de reforma.

É vergonhoso ouvir, directores de hospitais públicos, referirem que estão a pagar a lares para acolherem os chamados internamentos sociais. São pessoas, sobretudo idosas, com condições para alta clínica mas que passam longos períodos internadas porque não têm para onde ir. A solução extravasa as suas competências, mas resulta da deficiente resposta dos Cuidados Continuados e da Segurança Social.

Para além disso e, voltando a focar-nos um país de velhos, e quando se discutiu o papel dos cuidadores informais, de Norte a Sul há cuidados de assistência prestadios a outras pessoas, geralmente a um familiar, amigo ou vizinho e que é um papel que mais de 800 mil portugueses já assumiram. São cuidadores informais, fazem um trabalho essencial, mas não são remunerados por isso e pior se uma pessoa vai para um Lar a Segurança Social apoia e estando em sua casa e precisando de quem cuide dele, não!

Estes cuidadores auxiliam as outras pessoas em inúmeras tarefas, desde a alimentação à administração de medicamentos, passando pelos cuidados da higiene ou deslocações.
Cuidar de alguém que é parcial ou totalmente dependente de auxílio no seu dia-a-dia é uma tarefa permanente.

Referem números que, cerca de 80 por cento dos cuidados continuados no nosso país são prestados por familiares, amigos e vizinhos. Estes anonimamente ajudam e não despejam em Lares, sejam legais ou ilegais ou em hospitais os seus familiares.