23.1.19

Para quê esperar pela universidade? Jovens saem de Portugal aos 16 anos para estudar

in TSF

As candidaturas para os United World Colleges (UWC) decorrem até 23 de janeiro para jovens entre os 15 e os 18 anos de idade

Há estudantes portugueses que não esperam pela universidade para fazer as malas e estudar noutro país. Aos 16 anos, Diogo e João decidiram sair de casa e terminar o ensino secundário num país desconhecido, num dos United World Colleges (UWC), um movimento internacional que aposta na educação para a paz.

"Queria conhecer melhor o Mundo, adquirir novas capacidades e procurei novas oportunidades fora do nosso ensino secundário. Acabei por descobrir os United World Colleges e candidatei-me quando tinha 16 anos", recorda Diogo Costa, regressado da Tailândia no ano passado.

Durante o processo de seleção a família não levou a intenção de Diogo muito a sério mas "quando disse que tinha sido selecionado a minha mãe disse logo que não. Mas depois estivemos a avaliar e reconhecemos que era uma boa escolha e acabei por ir dois anos para a Tailândia", acrescenta.

O destino, escolhido pela organização, foi a primeira viagem intercontinental de Diogo. No colégio de Phuket encontrou colegas de todo o Mundo: "É a melhor parte da experiência. Uma das coisas que me salta sempre à cabeça é o caso dos dois colegas do Nepal. Um deles era órfão, os pais tinham sido assassinados na revolta contra a monarquia e a outra colega era a filha herdeira do trono. Ambos estavam a estudar no mesmo sítio, algo que nunca aconteceria no Nepal mas que ali foi possível", relata Diogo.

Uma experiência que, dois anos depois, fez regressar a Portugal um Diogo diferente: "Era cheio de sonhos, continuo a ser, mas bastante ingénuo e o Diogo que volta da Tailândia é muito mais presente da realidade à sua volta, da política e da forma como os sistemas afetam a nossa vida e, para além disso, com uma maior empatia pelo que está a acontecer nos outros países do mundo".
Regressam outras pessoas, conta Elisabete Silva, mãe de João, que viveu idêntica experiência na Arménia: "Cresceu, cresceu muito durante aqueles dois anos, ganhou autonomia, não que não fosse autónomo porque é, aliás, um dos critérios de seleção, mas logo na primeira vez que veio de férias sentimos diferenças. Hoje é um jovem adulto de 22 anos que vive em qualquer parte do Mundo sem precisar da mãe e do pai a darem aquele apoio que é normal, nesta fase, ainda terem".

O filho, João Freitas, está agora a acabar a licenciatura de Física nos Estados Unidos. Já não regressou a Portugal depois do secundário na Arménia, primeira escolha, "por ser o único país que eu não sabia apontar no mapa. Queria sair de Portugal, aprender o máximo possível e ir para um país do qual não sabia nada", justifica.

Garante que foi das melhores experiências sem esconder o aperto no estômago que sentiu ao aterrar no desconhecido e alguma "frustração" nos primeiros tempos pelas dificuldades de comunicação com colegas que falavam outras línguas, provenientes de outras culturas. "Éramos 96 alunos de 48 países no meu ano e os contextos sociais são completamente diferentes para um estudante que vem de Portugal e um estudante que vem do Afeganistão ou da Síria", explica.

A estrutura curricular (International Baccalaureate) dos United World Colleges não é igual à do sistema de ensino português mas a maior diferença está na componente obrigatória de voluntariado ou trabalho social: "A minha responsabilidade era trazer alunos de escolas locais ao campus internacional e fazer experiências científicas com eles, algo que não têm acesso nas suas escolas por falta de financiamento", revela.

Em todo o Mundo há atualmente 17 United World Colleges, num movimento que surgiu no início dos anos 60, no rescaldo de duas guerras mundiais, com o objetivo de promover o entendimento para a paz. "Decidiram criar um colégio onde os jovens dos 16 aos 18 anos pudessem estudar e viver juntos porque deste modo, conhecendo-se uns aos outros e partilhando os seus problemas e dificuldades no contexto da cultura de cada um, seria mais fácil atingir um entendimento internacional, entre culturas", revela Mariana Arrobas, presidente da Associação UWC Portugal.

A ideia de uma escola de líderes para a paz mantém-se e todos os anos, em janeiro, são abertas vagas para alunos entre os 15 e os 18 anos e concedidas para bolsas para estudar em países como a Alemanha, Índia, Reino Unido, Costa Rica ou Japão. O prazo termina a 23 de janeiro.