14.1.19

Portugal mostrou que austeridade "não é resposta". A visão do músico David Byrne

in TSF

O música recorda que "foi dito que a austeridade era inevitável" e depois de analisar a situação de Portugal acredita que isso "era mentira".

O músico David Byrne apontou Portugal como exemplo de que a austeridade não é a única resposta possível à crise económica e financeira global desencadeada em 2008, numa publicação num 'blog' pessoal divulgada este domingo.

Há cerca de um ano o músico de 66 anos lançou um blog/newsletter denominado 'Reasons to be Cheerful' (Razões para estar animado, na tradução em português), como reação "quase terapêutica", segundo o próprio, ao clima depressivo diário nas notícias sobre o mundo, e no qual publicou um texto sobre Portugal, dando o país como exemplo de que existe alternativa ao discurso, e à prática, da austeridade como única forma de resposta à crise económica.

"Era a austeridade a única resposta possível à dívida que assolou muitas nações depois da confusão económica mundial após 2008? A resposta, se olharmos para Portugal e alguns outros locais, é não. Por outras palavras, o que nos foi dito - que a austeridade era inevitável e necessária - era mentira. Havia e há outro caminho", escreveu David Byrne.

No artigo socorre-se de muitos textos publicados na imprensa internacional, sobretudo no The New York Times, para recordar o percurso do país desde o início da crise das dívidas soberanas, que levou a uma austeridade com forte impacte nos salários e nos serviços públicos, que levaram as pessoas "a sentir-se deixadas para trás".

"As pessoas não se sentiram apenas deixadas para trás, foram deixadas para trás. O resultado foi uma dose razoável de indignação, com expressão política nas divisões e populismos que vemos a crescer em todo o lado", escreveu David Byrne.

Continuando a apoiar-se na imprensa internacional, o músico fundador dos 'Talking Heads' refere depois o momento de inversão que representou a chegada ao Governo de António Costa com o apoio de uma maioria parlamentar de esquerda, que teve como consequência a reversão dos cortes nos rendimentos, a recuperação do investimento público, a redução do desemprego, muito assente na explosão no turismo.
Um clima otimista, que o próprio se recorda de ter vivenciado.

"Isto é tudo muito encorajador. Estive lá na minha digressão mundial e as coisas pareciam estar a explodir... uma das coisas que notámos é que as pessoas se estão a mudar para Portugal... espalhou-se o rumor de que é um bom sítio para viver. Especialmente entre brasileiros, cujo país está a atravessar uma crise. O clima é otimista, o que tem o efeito de estimular o investimento e a inovação", escreveu Byrne.

Perante o exemplo português, o músico sugere que talvez seja tempo de "economistas e consultores financeiros em todo o mundo começarem a rever as suas políticas e recomendações -- resultando em menos dor, menos sofrimento e economias mais saudáveis a nível global".