José Bento Amaro, in Jornal Público
Viviam na clandestinidade: não tinham consigo qualquer documento de identificação, só faziam compras acompanhadas, eram obrigadas a devolver o dinheiro excedente e os telefonemas para a família eram sempre escutados. Era assim que viviam 12 jovens brasileiras, instaladas em quatro vivendas de Albufeira e Portimão, que chegaram a Portugal para trabalhar na hotelaria, mas que rapidamente foram encaminhadas para a prostituição. Ontem, após meses de investigação, a Polícia Judiciária (PJ) de Portimão anunciou a detenção de uma mulher que ocupava um alto cargo na rede criminosa.
A mulher agora detida, de nacionalidade brasileira, é, dizem os investigadores, apenas um dos elos de uma rede que estará a operar há anos não só em Portugal, mas também, previsivelmente, em Espanha. A suspeita é acusada de manusear todo o dinheiro que as jovens ganhavam diariamente na prostituição, de proceder ao pagamento dos rendas das vivendas (três em Albufeira e uma em Portimão), de fazer a distribuição dos montantes necessários à subsistência de cada uma e também aos homens que as acompanhavam quando lhes era permitido abandonar as casas. Na noite em que foi detida, a mulher tinha em seu poder, em dinheiro, cerca de 3000 euros, quantia essa que se supõe ser resultante dos actos de prostituição das jovens.
Os depoimentos recolhidos apontam para que as vítimas não tivessem sequer autorização para contactar as famílias e quando lhes era permitido sair de casa, nunca levavam documentos.
A PJ suspeita de que nenhuma das jovens ficasse mais do que dois meses na mesma zona, existindo indícios de que muitas delas já passaram por casas nas regiões Norte e Centro.
O recrutamento das jovens (todas as que foram identificadas estão na casa dos 20 anos) era feito através de jornais portugueses e brasileiros e também pela Internet. As raparigas, todas elas provenientes do interior do Brasil, mais propriamente dos estados de Goiás, Paraná e Minas Gerais, chegavam a Portugal para trabalhar em restaurantes e bares, situação que rapidamente se alterava, sendo obrigadas a prostituir-se e a entregar o dinheiro aos respectivos agentes.
As investigações deste crime prosseguem em todo e país e em Espanha. Neste momento sabe-se que alguns dos homens que exerciam o controlo das jovens são frequentadores habituais da vida nocturna e que muitos deles trabalham como seguranças.
O crime de que está indiciada a brasileira detida é o de lenocínio, o qual, na sua forma mais simples, é punido com uma pena de prisão até cinco anos. No entanto, neste caso, como também existe ardil (as jovens eram enganadas), a pena pode subir até oito anos de prisão.