17.7.23

Temos 5,3 mil milhões de telemóveis em casa sem uso. “Isso impede que sejam reutilizados ou reciclados”

Pedro Sousa Carvalho, in Expresso


A NOS juntou-se a 11 operadoras de telecomunicações a nível mundial para firmar um pacto para incentivar a retoma e a reutilização dos telemóveis velhos e impedir que possam ir para o lixo ou para a incineração. Ao Expresso SER, Maria João Carrapato, diretora de Relação com Investidores & Sustentabilidade da NOS, afirma que “à semelhança do que já acontece na indústria automóvel, é necessário que o mercado de usados cresça”

São 12 as operadoras de telecomunicações a nível mundial que se juntaram num pacto dinamizado pela Tele2 e pela Orange e que visa comprometer as empresas do setor a aumentar a retoma dos telemóveis velhos com o objetivo de os recolocar no mercado ou de os reciclar, aproveitando as suas componentes e minerais.

A NOS juntou-se a este grupo do qual também fazem parte a BT Group, Globe Telecom, GO Malta, Iliad, KDDI, Orange, Proximus, Safaricom, Singtel, Tele2 e a espanhola Telefónica.

Ao Expresso SER, a diretora de Relação com Investidores & Sustentabilidade da NOS cita números da WEEE Forum para calcular que “cerca de 5300 milhões de telemóveis, a nível global, estarão neste momento nas casas das pessoas sem serem usados”. As pessoas deixam-nos “nas gavetas por ainda os percecionarem como tendo valor. Este acumular de equipamentos velhos e não usados impede que sejam reutilizados ou que se aproveitam as suas componentes, que podem ser recursos importantes para produzir outros dispositivos”.

Maria João Carrapato refere que, à semelhança do que já acontece na indústria automóvel, é necessário que o mercado de telemóveis e smartphones usados cresça, sendo que também é necessário prolongar a vida útil desses aparelhos, pelo impacto negativo que têm no ambiente. “O tempo de vida útil no utilizador que comprou e usou a primeira vez o smartphone tem aumentado, estando acima de 3 anos. Segundo a estimativa da GSMA, aumentar a vida útil em apenas 1 ano equivale a retirar 4,7 milhões de carros de circulação. Ajuda a perceber a relevância de todas as iniciativas que contribuam para este aumento”.
QUE PACTO É ESTE?

De acordo com um comunicado da Associação Mundial de Operadores Móveis (GSMA, na sigla inglesa), neste pacto, as operadoras signatárias comprometem-se com duas coisas:

1) Por um lado, aumentar o nível de retoma dos equipamentos que já não são usados pelos clientes. “Até 2030, o número de aparelhos móveis recolhidos através de esquemas de retoma deve representar pelo menos 20% do total do número de novos telemóveis distribuídos diretamente aos clientes”.

2) Estas 12 operadoras também se comprometem a recolher os aparelhos não usados para evitar que possam ir parar aos aterros ou às incineradoras. “Até 2030, 100% dos telemóveis usados recolhidos pelas operadoras através de esquemas de retoma devem ser reparados, reutilizados ou transferidos para organizações que fazem a sua reciclagem controlada”.

O objetivo destas operadoras é reduzir o e-waste e tentar dar uma segunda vida a estes aparelhos de telecomunicações. Os números citados pela GSMA mostram que um telemóvel reparado e reutilizado tem um impacto climático 87% menor do que um telemóvel novo. E a GSMA estima que se os mais de 5 mil milhões de telemóveis que estão esquecidos nas gavetas forem recuperados podem gerar 8 mil milhões de dólares através do ouro, paládio, prata, cobre e outros elementos raros que serão recuperados e recolocados no mercado. O cobalto recuperado seria suficiente para produzir 10 milhões de baterias para carros elétricos.

As operadoras deste pacto também reconhecem que é necessário fazer um trabalho adicional no sentido de ultrapassar as preocupações de alguns clientes que ainda têm alguma resistência em entregar os telemóveis velhos com medo de haver alguma violação de dados privados.

MARIA JOÃO CARRAPATO EM DISCURSO DIRETO

Porque é que a NOS assinou este pacto com mais 11 operadoras mundiais?
A NOS, tal como o consórcio, acredita que é importante prolongar a vida útil dos equipamentos procurando contribuir para a reintrodução dos equipamentos usados na cadeia de valor. De facto, a sustentabilidade é uma dimensão estratégica para a NOS, algo que se reflete ao nível das operações internas, na gestão proativa da cadeia de valor, no que toca às relações com fornecedores e parceiros, mas também no portefólio de produtos e serviços disponibilizados.

Especificamente neste último ponto, o compromisso assumido pela empresa é o de promover a circularidade do negócio, através da reutilização, revenda ou reciclagem de equipamentos de rede e de cliente. Isto faz-se por duas vias: a da operação NOS, assegurando por exemplo uma elevada taxa de valorização de resíduos e da desmaterialização de processos, e também nos equipamentos dos clientes, através do aumento dos níveis de retoma, recuperação e reutilização de equipamentos, na redução de material incorporado e ainda uma contribuição ativa para sistemas integrados de reciclagem.

Por outro lado, temos a convicção de que estamos perante uma oportunidade de promover a economia circular, com novas oportunidades de negócio para os diferentes agentes no mercado, em particular para os nossos clientes.

A NOS já tem implementado algum esquema de recuperação de telemóveis usados? Vão lançar alguma campanha nova?
A NOS tem um programa de retomas, que está ativo em permanência, através do qual qualquer cliente pode entregar o seu telefone à NOS e receber um valor que será usado para deduzir na compra do novo. Pensando no interesse dos clientes e na promoção de tecnologias mais avançadas, em alguns momentos específicos, a NOS pode, em conjunto com as marcas, lançar incentivos especiais que passam pelo incremento do valor a dar pelo equipamento. Tipicamente, estas campanhas estão associadas ao lançamento de novos equipamentos, procurando promover o upgrade mas também a reutilização e reentrada de equipamentos mais antigos. E, como um dos Rs fundamentais da sustentabilidade é o “reutilizar”, a NOS também promove essa reutilização através da venda de telemóveis usados – os “Garantidos NOS”.

O que fazem com os telemóveis recuperados? Vão fazer alguma parceria com algum fabricante para os reaproveitar ou irão para a reciclagem para recuperar os componentes e minerais que possam ser reutilizados?
O programa de retomas da NOS tem como finalidade principal a recompra de smartphones aos clientes e atribuição de desconto na aquisição de novos smartphones. Isto pressupõe que o equipamento entregue pelo cliente tem valor para outro cliente, não sendo a finalidade vender o equipamento para reciclagem. Apenas são enviados equipamentos para reciclagem que não tenham valor para recondicionamento. Este processo é feito em parceria com uma empresa que atua no mercado de recolha e recondicionamento de equipamentos.

Têm alguma estimativa do número de telemóveis não usados em casa dos portugueses?
Segundo um estudo do WEEE Forum do ano passado, citado recentemente pela GSMA, cerca de 5300 milhões de telemóveis, a nível global, estarão neste momento nas casas das pessoas sem serem usados. Embora não tenhamos dados específicos para Portugal, apontamos para um número considerável, uma vez que o nível de retomas de telemóveis ainda é baixo, já que as pessoas acabam por deixá-los nas gavetas por ainda os percecionarem como tendo valor. Este acumular de equipamentos velhos e não usados impede que sejam reutilizados ou que se aproveitam as suas componentes, que podem ser recursos importantes para produzir outros dispositivos. Claramente, acreditamos que há oportunidades para se incentivar ainda mais a recolha deste tipo de dispositivos, com benefícios para o ambiente, a economia e para as pessoas em geral.

Como é que se pode convencer os utilizadores a entregar um telemóvel que já não usam, sem receio de colocarem em risco os seus dados pessoais que ainda possam estar nos telemóveis antigos?
No momento de entrega dos telefones solicitamos aos clientes que apaguem toda a informação. O processo é simples, estando a funcionalidade disponibilizada em todos os smartphones. Depois, garantido que não há qualquer risco, o telefone é entregue ao parceiro de recondicionamento, que só avança se o telefone estiver completamente limpo (memória e configurações) – o que assegura que o telefone não pode voltar a entrar em comercialização com dados de cliente.

Têm alguma estimativa do tempo médio de vida de um telemóvel ou smartphone em Portugal? E como se pode prolongar essa vida útil?
O tempo de vida útil no utilizador que comprou e usou a primeira vez o smartphone tem aumentado, estando acima de 3 anos. Segundo a estimativa da GSMA, aumentar a vida útil em apenas 1 ano equivale a retirar 4,7 milhões de carros de circulação. Ajuda a perceber a relevância de todas as iniciativas que contribuam para este aumento.

A vida dos telefones deve ser prolongada com o compromisso das marcas em aumentar o número de updates de SW na base de equipamentos (algo em que as marcas têm trabalhado), mas também garantido que os smartphones conseguem encontrar novas vidas após o primeiro cliente. À semelhança do que já acontece na indústria automóvel, é necessário que o mercado de usados cresça, se credibilize e normalize. Para que isto aconteça, é necessário que entrem cada vez mais agentes que, pela sua credibilidade, contribuam para a construção do mercado.

A obsolescência programada é uma realidade na indústria dos telemóveis?
Não seremos os mais indicados a falar sobre esse tema, visto que a NOS não fabrica telemóveis. Ainda assim, podemos afirmar que temos assistido a um esforço dos fabricantes em prolongar a vida útil dos equipamentos ao prolongar o número de atualizações de software por equipamento. Temos, também, conhecimento de uma série de projetos dos nossos parceiros que parecem indicar que estão interessados em prolongar a vida dos equipamentos, ao garantirem um número mínimo de anos de atualizações.

Além da reciclagem (circularidade) dos telemóveis, o que é que a NOS tem vindo a fazer de mais relevante para baixar a sua pegada carbónica?
O aumento da circularidade da NOS insere-se num compromisso mais alargado de baixarmos a nossa pegada carbónica e, como resultado do qual, podemos dizer que a NOS está atualmente entre as quatro melhores empresas nacionais no combate às alterações climáticas, tendo obtido a pontuação A (nível máximo) na última avaliação do Programa CDP Clima, no que respeita ao desempenho e transparência no combate às alterações climáticas.

Nesse sentido, temos em curso um programa de eficiência energética na operação própria, no âmbito do qual estamos a trabalhar para limitar os consumos energéticos da nossa infraestrutura técnica de telecomunicações. Temos vindo a adotar novas funcionalidades de gestão inteligente da rede, que reduzem o consumo de energia em períodos de menor tráfego, gerando poupanças da ordem dos 5 a 10%. Vamos continuar a investir nesta área, explorando potencialidades adicionais dos equipamentos 5G e modelos analíticos avançados, baseados em machine-learning, que permitam prever períodos de menor utilização e maximizar as poupanças.

Como resultado dos nossos esforços, as emissões da nossa operação em 2022 diminuíram 59% em relação a 2021, uma redução impulsionada pelo consumo de 81% de eletricidade com certificação renovável. Já as emissões da cadeia de valor diminuíram 4%, o que se deveu sobretudo à melhoria da eficiência energética dos equipamentos colocados no mercado.