30.5.09

Pedidos de ajuda ao banco alimentar aumentaram 124 por cento este ano

Andreia Sanches, in Jornal Público

Pressão da crise e redução da entrada de frescos fez encolher os cabazes distribuídos às famílias. A primeira campanha de recolha de alimentos do ano acontece hoje e amanhã


Só nos primeiros quatro meses do ano chegaram 368 novos pedidos de ajuda ao Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa. É mais do dobro do numero de pedidos registado em igual período no ano passado (o aumento é de 124 por cento). E mais do que os novos apelos recebidos ao longo de todo o ano de 2007.

Os dados fornecidos por Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome, no dia em que arranca mais uma campanha nacional de recolha de alimentos, mostram claramente como são cada vez mais os que precisam do apoio desta instituição para subsistir: em Dezembro de 2005 havia 203 mil beneficiários "comprovadamente carenciados"; em 2007 eram 218 mil; no final do ano passado, 250.971.

E, no entanto, o montante de alimentos disponíveis diminuiu: Os armazéns dos bancos receberam no ano passado cerca de 17.500 toneladas de produtos - num valor estimado de 26,2 milhões de euros. É menos cerca de uma tonelada e meia do que no ano anterior.

Ou seja: se em 2007 estiveram disponíveis 91 quilos de alimentos por pessoa apoiada, no ano seguinte, quando a crise entrou na ordem do dia, na casa e nos postos de trabalho dos portugueses, o montante foi de apenas 69 quilos por pessoa.

É certo que as famílias que recebem cabazes dos bancos alimentares não recebem todas o mesmo. São as 1600 instituições de solidariedade social que as acompanham que avaliam as suas necessidades e definem a ajuda. Mas estes números servem bem para ilustrar um facto: "A distribuição per capita de frescos reduziu-se substancialmente e, como aumentou o número de beneficiários, registou-se igualmente um decréscimo dos básicos", como o leite, explica Isabel Jonet.

O que aconteceu? Os 15 bancos do país recebem alimentos provenientes das duas campanhas anuais feitas nas superfícies comerciais, dos excedentes agrícolas, da indústria e da distribuição e dos excedentes da União Europeia. O grande decréscimo dos alimentos recebidos em 2008, explica a presidente da federação, está relacionado com a doação de fruta no âmbito de um programa comunitário. "O Gabinete de Planeamento do Ministério da Agricultura atrasou-se a enviar à Comissão Europeia a estratégia nacional para o sector das frutas e legumes" e esse atraso fez com que "as cooperativas agrícolas não efectuassem retiradas de fruta para entrega aos bancos".

Resultado: houve menos quase quatro mil e 200 toneladas de fruta para distribuir. Mas "graças à intervenção da federação junto do ministério, do INGA [Instituto Nacional de Intervenção e Garantia Agrícola], das organizações de produtores, foi possível inverter a situação e em Dezembro de 2008 foram retomadas, ainda que com menor ritmo, as retiradas de fruta".

Resta saber como, numa situação prolongada de crise, reagirão os portugueses na hora de dar. O recorde de alimentos doados aconteceu na campanha de Dezembro de 2007 (2182 toneladas). Na última, em Dezembro de 2008, foram recolhidas 1904 toneladas. Isto apesar do número de bancos em funcionamento ter aumentado de dez para 14 - o que faria esperar uma maior mobilização de voluntários e supermercados em localidades anteriormente a descoberto.

Jonet prefere notar que globalmente as contribuições têm crescido. Sendo que nos dois últimos anos a campanha Ajuda Vale (em vez de contribuir com alimentos, as pessoas doam vales) pode ter "canibalizado" um pouco a campanha tradicional. Certo, certo é o momento de "particular dificuldade" que se vive. Daí o apelo: "Nunca como agora fez tanto sentido a ideia de que é possível fazer a diferença apenas com um pequeno gesto."

Mais de 23 mil voluntários estarão hoje e amanhã nos supermercados a recolher sacos de alimentos e a transportá-los para os bancos alimentares.