31.5.09

Recolha de alimentos há sempre alguém a dizer que já deu na véspera

Ana Cristina Pereira, in Jornal Público

Duas adolescentes estendiam sacos de plástico à entrada do Modelo dos Pinhais da Foz (Porto). Não têm nome nesta página. O chefe da equipa de voluntários do Banco Alimentar Contra a Fome que ali operava não deixou: "Os voluntários não têm nome nem rosto! São só pessoas que, em vez de irem para a praia, vieram ajudar a recolher alimentos".

As duas raparigas de 16 anos olhavam para o adulto, atrapalhadas. Sabem ser apenas duas pessoas num pacote de 23 mil voluntários. Não se podem orgulhar de fazer parte desse movimento que duas vezes por ano se instala à porta de supermercados e hiper-mercados?

Atrás de uma das adolescentes, a que já anda nisto "desde os seis/sete anos", havia dezenas de pacotes de leite e dezenas de pacotes de arroz que um só homem, num ímpeto de generosidade que já lhe é característico, oferecera. Algumas pessoas recolhiam os sacos que as meninas lhes estendiam com um sorriso, outras não. Algumas diziam: "Já dei ontem".

Há sempre alguém que diz: "Já dei ontem". A adolescente que anda nisto "desde os seis/sete anos", e que recrutou a amiga aos "11/12 anos", no Colégio Alemão, não sabe por que lhe dão esta desculpa "impossível". A recolha começara naquele dia, sábado, e terminaria no dia seguinte, domingo. "Talvez tenham vergonha de não poder dar", cogitava. Talvez. Os outros, os que podem e/ou querem dar, devolvem os sacos com qualquer coisa lá dentro: leite, massa, arroz, óleo, azeite, enlatados...
Cada contributo é importante. Há cada vez mais gente a pedir ajuda ao Banco Alimentar Contra a Fome. Só nos primeiros quatro meses deste ano, houve 368 novos pedidos, mais do dobro do número de pedidos registados em igual período do ano passado, noticiou ontem o PÚBLICO.