19.5.09

Portugal entre os países europeus com maiores quebras nas exportações

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Queda de 30 por cento nas vendas de mercadorias nos primeiros dois meses do ano coloca o país em situação pior que a da maior parte dos seus parceiros da UE


Os fluxos do comércio internacional estão a cair a um ritmo inédito nas últimas décadas e Portugal é, entre os países europeus, um dos que estão a sofrer mais com este fenómeno.

De acordo com os dados ontem publicados pelo Eurostat, a quebra homóloga de 30 por cento registada em Portugal nas vendas de mercadorias ao estrangeiro durante os primeiros dois meses de 2009 foi a quarta maior entre os 27 países membros da União Europeia, apenas sendo superada pela Finlândia, Malta e Suécia e igualando a Hungria.
O cenário global é muito sombrio em toda a Europa: não há, entre os 27 países da UE, um único a registar um aumento das exportações face ao ano passado. O melhor resultado foi conseguido pela Irlanda, cujas vendas diminuíram "apenas" cinco por cento.

No entanto, para as empresas portuguesas, as dificuldades são ainda mais significativas. Nos primeiros dois meses de 2008, as vendas ascenderam a 6705 milhões de euros. Em 2009, no mesmo período, foram cerca de 2000 milhões de euros inferiores.

Uma das razões para este desempenho mais fraco de Portugal pode estar na forte dependência das exportações portuguesas face a Espanha, um dos países em que a procura está a contrair-se de forma mais rápida e onde as importações caíram, no mesmo período, precisamente 30 por cento face ao ano anterior.

Outra explicação pode estar no peso assinalável que o sector da produção automóvel tem nas exportações portuguesas, o que acaba por ser uma desvantagem numa fase em que a aquisição de automóveis diminuiu de forma significativa um pouco por todo o mundo. Ainda assim, o resultado global português é pior do que o de outros países com um forte sector automóvel, como a Alemanha ou a Eslováquia, por exemplo.

Mais preocupante é a possibilidade de se estar a agravar uma tendência já verificada nos últimos anos de perda de quota de mercado internacional por parte das empresas portuguesas. A concorrência da Ásia e do Leste Europeu em sectores que privilegiam a mão-de-obra barata tem sido demasiado forte para a economia portuguesa. E agora, numa altura em que o mercado está a encolher, os problemas podem tornar-se mais notórios.

Tanto o Banco de Portugal como o Governo estão a prever uma evolução das exportações que é ainda mais negativa do que a da procura externa dirigida à economia portuguesa, o que quer dizer que assumem a possibilidade de, nesta conjuntura, as empresas nacionais ainda perderem quota de mercado internacional.

A entidade liderada por Vítor Constâncio é mais pessimista. Antecipa, em termos reais, uma queda da procura externa de 13 por cento em 2009 e uma diminuição das exportações (que neste caso incluem os serviços) de 14,2 por cento. O Governo, no Relatório de Orientação da Política Orçamental apresentado no ano passado, prevê que a procura diminua 11,6 por cento e as exportações 11,8 por cento.