23.9.11

OMC: comércio mundial vai crescer abaixo do previsto

Por Pedro Crisóstomo, in Público on-line

A incerteza está a tomar conta da economia global e a deterioração das perspectivas de crescimento vai fazer o comércio mundial abrandar o ritmo de crescimento para 5,8%. O alerta é deixado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que hoje corrigiu em baixa as projecções para este ano.

A instituição liderada por Pascal Lamy previa ainda há cinco meses que o volume do comércio a nível mundial crescesse 6,5% em 2011, mas a forte contracção das vendas nas economias desenvolvidas e a quebra nas exportações na Europa estão a pesar sobre as previsões iniciais.

A revisão em baixa aponta para um abrandamento do comércio mundial – “e não para um recuo puro e simples” – que resulta sobretudo de uma “incerteza excepcionalmente elevada”. E leva em conta uma série de factores não contabilizados nas previsões de Abril: a catástrofe nuclear no Japão (a terceira economia mundial), a turbulência nos mercados financeiros e a quebra nas exportações nos motores europeus, Alemanha e França.

O ciclo que potencia os riscos de contágio da contracção do PIB mundial é claro: quando contrai a produção mundial, o comércio tende a seguir os mesmos passos. Foi o que aconteceu nos últimos meses, lembra a OMC, e deverá ser assim, pelo menos, até ao final de 2011.

Apesar disso, as exportações das economias desenvolvidas devem continuar a aumentar, ao crescerem 3,6%, acompanhadas por uma progressão do PIB de 1,5%, menos do que a OMC prevê para as economias em desenvolvimento, com um crescimento do volume de exportações de 8,6% e uma subida do PIB de 5,9%.

Os cenários estão em aberto: embora fale em riscos sistémicos, a OMC acredita que “a economia pode ter um ponto de inflexão”. Mas isso só terá lugar se “os responsáveis políticos encontrarem uma solução para a crise da dívida que reestabeleça a confiança no sistema financeiro”.

Para o director-geral da instituição, Pascal Lamy, “o sistema comercial multilateral foi importante para manter a abertura do comércio durante a crise”, mas os países devem continuar vigilantes. “Este não é o momento de fazer caminho sozinhos. É o momento de reforçar e de preservar o sistema comercial mundial para que continue a cumprir a sua função vital no futuro”, insistiu.