30.12.15

Doente oncológico recolheu dezenas de brinquedos para entregar no IPO

Fernanda Pinto, in "Verdadeiro Olhar"

Uma doente oncológica de Paços de Ferreira organizou, recentemente, uma recolha de brinquedos solidária, na iniciativa chamada “Um brinquedo, um sorriso”. Os brinquedos angariados vão ser entregues, este sábado, a crianças que estão em tratamento no IPO Porto. Também este sábado, mais de 80 pessoas vão até ao instituto doar sangue, numa outra iniciativa organizada por Celina Leão. A iniciativa teve “boa adesão”, superando expectativas. Foram recolhidas dezenas de brinquedos que serão distribuídos pela Associação Acreditar na festa de Natal ou noutros dias festivos.

Celina Leão tem 39 anos e é de Lamoso, Paços de Ferreira. Em Fevereiro de 2011, a escriturária teve um episódio de “cansaço gigantesco e inexplicável” que a levou às urgências do Hospital Padre Américo, em Penafiel. O diagnóstico foi pesado e inesperado. A pacense tinha um linfoma a pressionar o coração e os pulmões. “Sou positiva e até costumo reagir bem a tudo. Mas quando ‘caiu a ficha’ foi complicado”, admite. A aceitação não foi fácil. Os pensamentos como “não pode ser verdade” ou “porquê a mim que até levo uma vida saudável” não lhe saíam da cabeça.

Mas ergueu os braços e foi à luta. celInA leão VAI entregá-loS eSte SáBADo e leVAr mAIS De 80 PeSSoAS PArA DoAr SAngUe no meSmo InStItUto Natal, levar também algo para as crianças que estão em tratamento no IPO Porto. Organizou, há duas semanas, uma recolha de brinquedos que vão agora ser entregues a crianças internadas no IPO Porto, com a ajuda da associação Acreditar. “No dia 12 será um ‘dois em um’. Doa-se sangue e entregamos os brinquedos”, explica Celina. Foram recolhidas dezenas de brinquedos, desde bonecos a puzzles, livros, carros e outros, que vão fazer as delícias dos mais novos. A iniciativa pretendeu também sensibilizar pais e crianças para o cancro. “Acho que conseguimos pôr as pessoas a pensar no tema.

Houve pessoas que vieram de longe com os filhos que escolheram o brinquedo para oferecer a estes meninos doentes”, afirma Celina Leão. Entrou numa sucessão de consultas e exames que se mantêm até hoje. A leucemia linfoblástica aguda exigia um transplante de medula. Teve “a sorte” de o irmão ser compatível. Depois de seis meses de quimioterapia intensiva para reduzir o linfoma e de estar em isolamento e praticamente sem visitas no Instituto Português de Oncologia do Porto, onde é seguida, avançou para o transplante. “Passei maus bocados, mas nunca me queixava. A quimioterapia levou-me as defesas a zero”, recorda Celina Leão. “O meu filho, que tinha 10 anos, não me pôde ir ver ao hospital. Falávamos por telefone e pelo NOVA RECOLHA DE SANguE EStE mêS Apesar de tudo isto, Celina Leão nunca perdeu a vontade de viver e de ajudar os outros. Essa vontade ainda cresceu mais nos últimos anos. Como teve que fazer várias transfusões e tem noção das necessidades constantes de sangue, plasma, e plaquetas, em Fevereiro deste ano organizou uma iniciativa que levou um autocarro cheio de pessoas até ao IPO Porto para doar sangue. O sucesso da recolha levou-a a repetir a “excursão” em Junho e a programar uma nova, a realizar este sábado, dia 12. “Desta vez devem ir dois autocarros”, estando 84 pessoas inscritas. Foi daí que nasceu a ideia de, até porque estamos na altura do computador”, acrescenta. Voltou para casa quase um mês depois, com muitas restrições de higiene e alimentares. Nos últimos anos, enfrentou outras doenças, derivadas da quimioterapia, como taquicardia, um episódio de epilepsia, uma trombose venosa profunda e aumento das dificuldades de visão, entre outras. A tudo isto junta-se a esclerose múltipla que já lhe tinha sido diagnosticada em 2004. A vida nunca mais foi a mesma. “Canso-me muito e não posso fazer muitos esforços. E não posso apanhar muito sol, nem ir à praia”, dá como exemplo. Além disso, apesar de tudo estar a evoluir bem, ainda há a hipótese de o transplante ser rejeitado.