15.12.15

Krugman avisa que é preciso cuidado com aumentos de salário mínimo

in TSF

O Nobel da Economia lembra que o desemprego em Portugal seria pior sem a emigração e considera que saída do euro "seria um pesadelo".

Paul Krugman avisa que é necessário ter cautela com qualquer aumento do salário mínimo em Portugal. "Acho que é problemático, o Euro baseia-se numa desvalorização interna, o que é um belíssimo eufemismo para cortar salários e preços" de forma a reganhar competitividade, lembra o economista norte-americano, quando questionado sobre a intenção de se aumentar o salário mínimo em Portugal. "É preciso muito cuidado com tudo o que possa pôr em causa esse processo desagradável", avisou o Nobel durante uma conferência de homenagem ao economista Silva Lopes.

"Nos EUA sou um grande apoiante do aumento do salário mínimo, mas claro que os EUA têm um salário mínimo baixo e depois têm moeda própria e uma taxa de câmbio flutuante, portanto, aí nao há problema", ressalva Krugman.

O Nobel da Economia lembra também que o desemprego em Portugal é elevado e seria pior sem a emigração. "Vocês têm ainda uma taxa de desemprego muito grande e seria muito maior se as pessoas não estivessem a abandonar o país", alertou Paul Krugman, que diz encontrar ainda uma "economia fraca" em Portugal.

O economista recorda que houve "um progresso económico assinalável" no país desde 1976, quando viveu em Lisboa como estudante do MIT, mas avisa que a situação hoje é ainda "muito difícil", depois do resgate da Troika.

Krugman faz, no entanto, questão de separar Portugal e a Grécia. O economista lembra que Portugal sempre foi considerado como "o próximo" nos países a resgatar, mas ressalva que, "por muito más que as coisas tenham sido por aqui, não tiveram minimamente a escala do que se passou lá".

Em todo o caso, o economista norte-americano sugere mesmo, com humor, que Portugal podia ter feito um pouco mais para se descolar da Grécia: "Em 2012 sugeri um slogan de campanha para Barack Obama, que dizia "Não é tão grave como a Grande Depressão", mas por alguma razão eles não usaram. E talvez aqui o slogan político deva ser "Não somos tão maus como a Grécia", brinca o economista.

"Sair do Euro seria um pesadelo"

Paul Krugman considera que se os líderes europeus soubessem o que sabem hoje não teriam avançado para a moeda única. O economista entende, no entanto, que voltar às moedas nacionais "seria um pesadelo" que os cidadãos europeus não iriam tolerar, devido ao fardo que a desvalorização da moeda comportaria. Krugman acredita que é muito melhor tentar agora remendar os problemas do Euro do que fazer sair países da moeda única.

Krugman falava na conferência do Banco de Portugal de homenagem ao economista Silva Lopes, que morreu no dia 2 de Abril. Para além do Nobel da Economia de 2008, estiveram presentes Vítor Gaspar, Passos Coelho, Ramalho Eanes, Jorge Sampaio, Carlos Costa, Vítor Bento e outros economistas nacionais e internacionais.