2.2.18

“A nossa luta é um exemplo para outras mulheres”

Carolina Reis, Texto; Tiago Miranda fotos, in Expresso

Durante 20 dias, cerca de 200 trabalhadores da Triumph montaram uma vigília à porta da fábrica para impedir que os atuais patrões – a TGI Gramax – retirassem material das instalações. Com ordenados em atraso, não recebem desde o fim de novembro, não arredaram pé até que o tribunal decretasse a insolvência e, assim, pudessem garantir os seus direitos. Tornaram-se um símbolo de resistência e receberam várias visitas de apoio, incluindo da mãe do primeiro-ministro. Teresa Moreira é um dos rostos da resistência.

Como recebeu a notícia de que tinha sido declarada a insolvência?
Foi muito emocionante. Ficámos agarradas umas as outras, a chorar. A administradora foi um espetáculo. Chegou aqui e veio logo falar connosco. Disse-nos: “Estou convosco, isto é para ir para a insolvência, vamos tratar o mais rápido possível das cartas do fundo de desemprego e do fundo de garantia salarial.” E depois almoçou connosco. Uma colega fez arroz doce e ela adorou.

Porque é que veem a insolvência como uma vitória?
Ficámos aqui para garantir os nossos direitos [subsídio de desemprego e pagamento de ordenados em atraso]. E conseguimos.

Como nasceu a ideia da vigília?
Foi espontânea. Dia cinco veio um camião buscar trabalho que já estava feito e nós não deixámos sair, a partir desse dia começámos a vigília. A primeira noite foi numa tenda pequena, estava a chover e fazia frio. Depois a câmara de Loures e os escuteiros montaram-nos uma tenda maior e começámos as fazer turnos de quatro em quatro horas.

Foi fácil organizar esses turnos?
Foi. Estávamos unidas e as pessoas disponibilizaram-se. Estive cá uma noite das 22h até às 16h30 do dia seguinte. Foi duro, no dia a seguir não me aguentei e chorei.

Onde é que foi buscar força?
Vamos sempre buscar força não sabemos onde. Todas juntas demos força umas às outras. Estou orgulhosa por esta luta. Não foi fácil, foram muitas emoções, muito sacrifício. Demos tanto a esta empresa e ao fim destes anos fizeram-nos isto. A nossa luta é um exemplo para outras mulheres e para trabalhadores de outras empresas.

Fala muito em união, mas dos 463 trabalhadores só 200 se mantiveram na vigília.

Fiquei muito desiludida porque estivemos a trabalhar pelas 463. Mas quando chegou a administradora da insolvência já se encontravam aqui todas.

Tiveram sempre muitos apoios, de associações feministas a sindicatos.

Sim e quero agradecer a todas as pessoas, Às associações a particulares, que nos vinham dar coisas, carinho, uma palavra. As pessoas vinham aqui entregar comida, bolos frescos, pão, carne, arroz. Tivemos sempre muito apoio, desde o início, mesmo colegas que já se tinham ido embora, vinham cá. E até esteve cá a mãe do primeiro-ministro [Maria Antónia Palla]. Gostei muito do apoio dela.

Esteve sempre cá?
Sim, passei aqui o meu aniversário. Foi no dia em que cá veio Rita Ferro Rodrigues e a mãe do primeiro-ministro. Vai ficar marcado para o resto da minha vida. Cantaram-me os parabéns diversas vezes.

Quando percebeu que a fábrica ia fechar?
Há ano e meio, quando a fábrica foi vendida, foi-nos dito que a empresa era viável. Começámos a perceber que as encomendas eram muito reduzidas e não davam para as operárias todas. Havia alturas em que fazíamos de manhã e à tarde desmanchávamos, não era normal.

Lamenta o silêncio do Governo?
Fiquei desiludida. Estava à espera que alguém do Governo nos viesse dar uma palavra, ver a nossa situação. As minhas colegas foram ter com Marcelo Rebelo de Sousa. Gosto dele, mas falhou por não ter vindo cá.

Como vê o futuro?
Nem sei. Gostava de continuar a trabalhar. Vão ser dias difíceis, não só para mim.