21.9.18

Quase metade dos jovens de Gaia considera legítimo controlar a pessoa com quem namora

in Diário de Notícias

Os rapazes legitimam mais a violência no namoro do que as raparigas, refere um estudo realizado em escolas de Gaia, segundo o qual 40% dos inquiridos considera que controlar o companheiro é um comportamento normal.

"É de salientar que, em todos os comportamentos avaliados, os rapazes legitimam mais a violência do que as raparigas. Em algumas situações, (...) a legitimação da violência é mais de três vezes superior nos rapazes", lê-se no estudo levado a cabo junto de rapazes e raparigas do concelho de Vila Nova de Gaia, distrito do Porto.

O controlo, que pode revelar-se em aspetos como proibir o namorado ou namorada de usar uma peça de roupa específica ou interferir nas amizades e companhias do parceiro, é o tipo de violência que os jovens inquiridos mais identificam nos namoros, com 40% a legitimar esse tipo de comportamentos.

Estes números, relativos a 2017, fazem parte um estudo hoje divulgado e que resulta do projeto "Art'themis +" levado a cabo pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) e pela Câmara de Vila Nova de Gaia.

Em traços gerais, o aspeto perseguição ganha relevância ao reunir 28% das respostas, com 35% dos rapazes e 19% das raparigas a considerar que estes comportamentos não são atos de violência no namoro.

O acesso a redes sociais por parte do companheiro, sem autorização, é também considerado um comportamento normal para 44% dos rapazes e 33% das raparigas das escolas de Gaia alvos do estudo.

A violência sexual, com 26%, a violência através das redes sociais, com 25%, e a violência psicológica, com 15%, também são comportamentos legitimados pelos alunos de Gaia, e referidos no estudo, no qual apenas 6% dos inquiridos considera legítima a violência física no namoro.

Estes dados, bem como números relacionados com questionários semelhantes feitos já este ano, vão ser apresentados hoje no auditório da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia no seminário "Gaia, pela Prevenção do Assédio e Violência de Género".

Na mesma sessão está previsto ser apresentado um outro estudo que resulta de sessões e inquéritos levados a cabo em três escolas do distrito do Porto, não identificadas no documento.
Neste é descrito que os jovens têm "tendência para culpabilizar a vítima pelo assédio sexual".

No que respeita à intervenção, todos os grupos consideraram fundamental recorrer a um adulto para falar sobre a situação e pedir ajuda, ainda que os jovens do sexo masculino tenham respondido em maior percentagem que não se sentem à vontade neste aspeto.

"Foi ainda evidenciado que as barreiras para a intervenção são o medo de represálias, a falta de segurança e de coragem, não saberem identificar uma situação de assédio sexual e sentirem-se excluídos do grupo", lê-se nas conclusões.