6.2.20

Salários de 600 a 900 euros substituem ordenados inferiores a 600

Luís Reis Ribeiro, in DN

Estrutura salarial sofreu mudança clara em quatro anos. Há menos 841 mil empregos com salários inferiores a 600 euros e mais 837 mil pessoas a ganhar entre 600 e 900 euros.

Em contrapartida, os empregos com salários mais baixos (inferiores a 600 euros líquidos) perderam importância em igual proporção no conjunto da estrutura dos rendimentos do trabalho. No final de 2015 havia mais de 1,1 milhões de pessoas a ganhar menos de 600 euros. No quarto trimestre, este grupo contava com apenas 328 mil pessoas. É uma redução de 841 mil casos.

Esta transferência de empregos com ordenados baixos para o escalão seguinte de remunerações (superiores) reflete vários fatores que marcaram este período pós-programa de ajustamento.

Certas restrições à contratação coletiva foram levantadas com o final do programa da troika, o salário mínimo foi subindo todos os anos, a economia tornou-se um pouco mais dinâmica, sobretudo nos setores exportadores e tecnológico, o governo eliminou a sobretaxa do IRS (o que eleva o salário líquido) e começou a fazer reposições salariais na função pública.

Resta dizer que nestes quatro anos em análise o mercado laboral apenas destruiu empregos nos dois escalões mais baixos de rendimento. Nos restantes, o saldo final é positivo (ver gráfico).

No grupo dos 900 a menos de 1200 euros, a economia adicionou mais 105 mil empregos; o escalão dos 1200 a menos de 1800 euros líquidos ganhou mais 88 mil empregados; na classe de 1800 a menos de 2500 euros, a subida foi de 40 mil, o grupo de empregos com salários de 2500 a menos de 3000 euros somou mais cinco mil casos; e o escalão de topo (3000 euros ou mais) ganhou mais nove mil pessoas.

Com isto, o salário médio da economia subiu 1,8% no quarto trimestre de 2019 face a igual período de 2018, fixando-se agora nos 912 euros. Face ao final de 2015, o aumento ronda os 9%.

O fim de um ciclo positivo?
Mas acumulam-se os sinais de que o mercado de trabalho pode ter terminado o seu período de recuperação mais efusivo. Nesta quarta-feira, o INE revelou que a taxa de desemprego terminou o ano a subir de forma pronunciada após um longo período de declínio.

Além disso, o peso do desemprego na população ativa agravou-se de 6,1% no terceiro trimestre para 6,7% no último trimestre do ano passado. É o maior aumento desde o início de 2013, estava o país mergulhado numa grave crise económica e social.

Desemprego começa a atacar o norte e Lisboa metropolitana
As duas regiões afetadas pelo alastramento da intensidade do desemprego foram o norte e a Grande Lisboa. Em ambas, a taxa de desemprego subiu de 6,7% no quarto trimestre de 2018 para 7,1% no último trimestre de 2019. As restantes regiões ainda registaram descidas nas respetivas taxas de desemprego.

Mas o panorama geral é pouco positivo. O número de pessoas sem trabalho aumentou pela primeira vez em mais de seis anos entre o último trimestre de 2018 e igual período do ano passado. "A população desempregada, estimada em 352,4 mil pessoas, aumentou 9% (mais 29 mil) em relação ao trimestre anterior e subiu 0,9% (mais 3,3 mil desempregados)" em relação a igual trimestre de 2018″, refere o instituto. Este aumento de quase 1% "interrompe a sequência de decréscimos observados desde o terceiro trimestre de 2013".

O INE explica que a subida no desemprego afetou sobretudo mulheres e o universo das pessoas com idades entre os 25 e 34 anos, com ensino secundário completo e à procura de primeiro emprego (os que tentam entrar no mercado de trabalho pela primeira vez).

A criação de emprego também está a perder bastante vigor, mostram as estatísticas oficiais. "Em relação ao trimestre homólogo de 2018, a população empregada aumentou 0,5% (24,6 mil pessoas)". Esta é a mais fraca desde meados de 2016 (dos últimos três anos e meio).