24.2.20

Risco de pobreza é inferior em Portugal, espanhóis com mais médicos por mil habitantes

Joana Gorjão Henriques, in Instituto Nacional de Estatista

Lado a lado Portugal e Espanha têm indicadores diferentes em várias áreas. Redução da população será moderada em Espanha mas acentuada em Portugal. Espanha foi o principal parceiro de Portugal, tanto nas exportações como nas importações, mas o contrário não se verificou.

Portugal regista um risco de pobreza ou exclusão social inferior ao de Espanha. Mas tem menos médicos por mil habitantes e os portugueses demonstram uma percepção sobre o seu estado de saúde muito menos positiva do que os espanhóis. Há um maior investimento português na investigação. Nas trocas comerciais Portugal tem, porém, uma maior dependência em relação a Espanha do que o contrário.
Lado a lado, Portugal e Espanha apresentam indicadores diferentes, segundo o resumo do relatório publicado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) intitulado A Península Ibérica em Números, com dados de 2018 e 2017, a partir dos institutos de estatística dos dois países e do Eurostat.

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Desde logo, as diferenças estão nas projecções da população para o período de 2040 a 2100 em que se aponta uma redução nos dois países, mas com intensidades diferentes: será moderada em Espanha, que apesar de tudo terá valores superiores aos de 2018, mas acentuada em Portugal, o que significa que nesse período deverá ter menos um terço dos habitantes dos que tinha em 2018 (quando eram 10,2 milhões).

Há duas semanas o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, propôs a criação do Iberolux no espaço ibérico, uma inspiração no modelo do Benelux, espaço de cooperação entre Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo, e que Paulo Rangel já havia proposto há anos atrás. Moreira chamou-lhe “uma estratégia coordenada entre Portugal e Espanha”. O jornal El Pais lembrava que esta não era uma ideia nova, datava do século XVIII, mas nunca foi em frente. Embora houvesse intelectuais a apoiarem-na - de José Saramago a Ortega y Gasset - nenhum político se atreveu a concorrer a eleições com a proposta.

A verdade é que para Portugal essa ideia pode ter mais base no plano económico do que para Espanha: em 2018, Espanha foi o principal parceiro de Portugal, tanto nas exportações como nas importações. Já para Espanha, Portugal representou apenas a 4.ª posição como destino das exportações e a 7.ª como origem das suas importações.

E o que é que os dois países mais comercializaram entre si? “Veículos automóveis, tractores, ciclos e outros veículos terrestres…”, que representaram 12,7% das exportações de Portugal para Espanha e 10,8% das exportações da Espanha para Portugal.

Especificando em relação aos indicadores iniciais: o risco de pobreza em Portugal é ligeiramente inferior ao total da União Europeia – 21,6% versus 21,9% – mas em relação a Espanha a diferença ainda é maior, já que a sua taxa atinge os 26,1%. Se olharmos à lupa a população jovem, que tem entre 15 e 29 anos, Portugal e Espanha registaram valores ainda mais elevados: em Portugal esse dado ficou abaixo da União Europeia (24,9% versus 26,4%), mas em Espanha (33,8%) ficou novamente acima.

Mais comparações: se a percepção sobre o estado de saúde é bastante diferente em ambos os países, já as principais causas de morte revelaram-se praticamente idênticas. Em 2018, os espanhóis tinham uma avaliação muito mais positiva sobre o seu estado de saúde (73,6% consideraram-no “bom” ou “muito bom”) do que os portugueses (49,3%, de acordo com o mesmo critério).
Por outro lado, em 2017, Espanha e Portugal apresentaram as mesmas três principais causas de morte e com valores muito próximos: doenças do aparelho circulatório (Portugal 29,4% e Espanha 28,8%), tumores (25,5% e 26,7%, respectivamente) e doenças do aparelho respiratório (11,6% e 12,2%, respectivamente).

Também em relação ao número de médicos por mil habitantes há diferenças: em Portugal, em 2018, só na Área Metropolitana de Lisboa é que houve cinco médicos por 1000 habitantes, quando em Espanha esse número era de 6,5 médicos para o mesmo número de habitantes em 12 regiões. No entanto, as regiões dos Açores e do Alentejo estão ainda mais desfavorecidas, com 3,4 e 3 médicos por mil habitantes, respectivamente.
Em quase dez anos, a idade média das mulheres que são mães pela primeira vez aumentou “de forma contínua” em Portugal e em Espanha. Em Portugal, em 2018, essa idade foi de 29,8 anos e em Espanha foi ligeiramente superior, atingindo os 30,1 anos.

Portugal com menos pesca
Noutro indicador, em ambos os países os preços são inferiores aos praticados na União Europeia, com Portugal a ter a diferença maior no item “Restaurantes e hotéis” (a UE tem uma média de 100 e Portugal de 77,8). Ainda no âmbito do turismo verificou-se que tanto em Portugal como em Espanha foram os britânicos e alemães que mais pernoitaram nos hotéis dos dois países: em Portugal, 21% das dormidas era de britânicos e 13,2% de alemães; em Espanha esses dados foram 25,2% e 20,7%, respectivamente.

Já nas pescas, Espanha destacou-se como o país da União Europeia que mais peixe capturou em 2018, com uma fatia que representa quase 22% do total (879,4 mil toneladas), tendo Portugal ficado a uma grande distância, com 5% (ou seja, 201,9 mil toneladas).

Tal como aconteceu em anos anteriores, continuou a verificar-se uma grande discrepância entre regiões em relação ao número de habitantes por quilómetro quadrado. Em Portugal, em 2017, havia 23 habitantes por metro quadrado no Alentejo e 1006,2 na Área Metropolitana de Lisboa; em Espanha, os valores também sublinhavam essa distância. 25,7 em Castilla-La-Mancha versus 6 059,1 na Ciudad Autónoma de Melilla.

Já em relação à percentagem do PIB usada para actividades de investigação e desenvolvimento Portugal fica à frente de Espanha: foi de 1,35%, em 2018, quando Espanha usou 1,18%. Porém os dois países estão abaixo do valor apurado para a União Europeia no total: 2,11%. O documento mostra, de resto, que há grandes discrepâncias dentro da UE para este sector: se 3,31% do PIB da Suécia é investido aqui, já a Roménia disponibiliza apenas 0,51%.