25.5.23

A Feira do Livro de Lisboa quer piscar o olho aos nativos digitais

Isabel Coutinho, in Público


No Parque Eduardo VII começa esta quinta-feira a 93.ª festa do livro. Portugueses já não compram livros só para oferecer, editores apostam na geração de bookstagrammers e booktokers.


Uma audiolivraria no espaço do grupo LeYa que funciona por QR code. Zonas de leitura com bancos de madeira no espaço do grupo Porto Editora com possibilidade de se descarregar o quiz literário Universo dos Livros, de Ana Aragão, também através de um QR code. Um selo nos livros do grupo Penguin Random House para que a geração dos book influencers consiga encontrar facilmente as obras em voga nas redes sociais. E a participação pela primeira vez da editora Zigurate, de Carlos Vaz Marques, que nasceu há menos de um ano, com um pavilhão próprio. Estas são algumas das novidades da Feira do Livro de Lisboa que regressa esta quinta-feira ao Parque Eduardo VII, onde ficará até ao dia 11 de Junho, organizada pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa.

Depois de três anos fora do seu calendário habitual, a feira regressa com 139 participantes, cerca de 980 chancelas, e os mesmos 340 pavilhões da edição anterior. Ocupará o espaço habitual – a preparação da Jornada Mundial da Juventude naquela zona impediu o aumento do número de pavilhões nesta 93.ª edição – mas mudará de horário, encerrando mais cedo (de segunda a quinta-feira, e aos domingos e feriados, fecha às 22h; à sexta-feira, vésperas de feriado e sábados fecha às 23h). Neste primeiro sábado, por causa dos possíveis festejos do vencedor da Liga Portugal de futebol profissional, encerra às 17h.

Há de novo uma preocupação com a sustentabilidade, que já existiu no ano passado quando foram inaugurados novos pavilhões. “Quisemos reforçar essa ideia", diz Ana Rita Bessa, CEO do grupo Leya, adiantando duas iniciativas que "ilustram o que o sector pode fazer para se reposicionar". Uma das paredes da Praça Leya vai ter 56 audiolivros em destaque, explica, e chamará a atenção "para as vantagens da leitura em áudio: não gasta papel e é uma forma de ‘leitura’ que pode ser realizada em simultâneo com outras actividades, como cozinhar, andar a pé, ir para o trabalho". Esses audiolivros, acrescenta, terão associado um QR code com 20% de desconto se forem descarregados durante o tempo da feira.

Entre os audiolivros seleccionados para esta promoção há autores portugueses e estrangeiros, livros temáticos, por exemplo, relacionados com as alterações climáticas, e também novidades. “Vamos ter uma enorme variedade também para mostrar que os audiolivros são uma tendência internacional e que em Portugal também a trabalhamos.” Os leitores fazem a leitura do QR code com o telemóvel e entram numa página onde podem efectuar a compra.

Uma segunda iniciativa para sensibilizar os leitores para este tema é o projecto Salve um livro infantil, que terá uma zona com centenas de livros infantis em fim de ciclo. “Livros que não podem ir para pontos de venda, porque os retalhistas não os aceitam assim, serão vendidos por preços simbólicos”, acrescenta Ana Rita Bessa. “Livros que custariam 16 euros, vamos vendê-los entre dois a seis euros na lógica de ‘salve este livro’, que ainda merece ser folheado e ser lido” em vez de ser abatido.

“A melhor altura do ano está mesmo, mesmo, mesmo a chegar…”, escreve a editora Guerra e Paz no seu Instagram, a acompanhar uma ilustração com o título "Kit de sobrevivência para a Feira do Livro de Lisboa”. As dicas da editora, que decorou um dos seus pavilhões com a frase “quem censura e proíbe livros mata a própria razão”, aconselham a que se leve para esta edição um totebag resistente, sapatos confortáveis e litros de água; que se faça um planeamento prévio, pois é importante saber que editoras queremos visitar; e que se vá ao evento em excelente companhia e se guardem uns euros para farturas e churros.

“Neste momento, em Portugal, há um interesse crescente na compra de livros para leitura própria, tal como já aconteceu noutros países europeus. Portugal sempre viveu da compra de livros para oferta: mais do que um produto cultural, o livro era uma prenda”, explicou Pedro Sobral, presidente da APEL, na conferência de imprensa de anúncio da feira. “Há um movimento de novos leitores, que têm idades entre os 18 e os 30 anos, uma geração muito alavancada naquilo que se passa nas redes sociais.” Já na Feira do Livro do ano passado os editores notaram a presença de grupos de jovens que sabiam o que queriam comprar e que procuravam livros muito específicos, quer na tradução portuguesa, quer em inglês.

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