2.5.07

Economia perde em toda a linha

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

A riqueza produzida por habitante diminui, o desemprego sobe e o emprego é pouco qualificado, as exportações têm vindo a perder terreno no conjunto nacional e as pessoas têm menos rendimentos e poder de compra. O JN escolheu estes indicadores para traçar o actual cenário vivido na economia da região, a partir de um grande conjunto de critérios sugeridos por Alberto Castro, Daniel Bessa e Miguel Cadilhe.

Riqueza diminui

É este o critério que a União Europeia segue na escolha das as regiões a apoiar por fundos comunitários e o Norte não fica bem na figura. Na última década, a riqueza produzida por habitante, medida por paridade do poder de compra, sofreu uma queda violenta, passando dos 67% da média comunitária para os 59%, a um ritmo que duplica a quebra registada em todo o país e que deixa a região ainda mais longe dos parceiros europeus. E, ao contrário do que seria de esperar, o Grande Porto não é uma locomotiva a compensar o resto da região. Pelo contrário, a riqueza produzida caiu 18% (uma descida só superada pela Cova da Beira), deixando a região abaixo do patamar dos 75% da riqueza comunitária, o que a torna por si só uma região de apoio prioritário.

Menos poder de compra

No final de 2006, dois terços dos trabalhadores por conta de outrem viviam no Norte, mas o seu nível salarial não acompanhava essa proporção. Mais de metade das pessoas cujo salário ultrapassava os 2500 euros por mês vivia em Lisboa, enquanto que só um quarto estava no Norte. O pequeno número de pessoas a receber salários elevados tem reflexo directo no ordenado médio auferido pelos trabalhadores, e os patrões nortenhos são os que pagam pior. Aqui, em 2006, um trabalhador levava para casa ao final do mês menos 78 euros do que a média nacional e menos 252 euros do que um lisboeta. Um outro indicador, dado também pelo INE, é o índice de poder de compra. O último, datado de 2004, mostra que só Lisboa e o Algarve tinham um poder de compra superior à média do país. O Norte conta com 84%, estando ao nível de 1997. Ou seja, numa década, a região não convergiu com o resto do país.

Mais desemprego pior qualificação

As matérias ligadas ao trabalho têm sempre duas faces a do emprego e a do desemprego. Associada a elas está a formação da mão-de-obra, que determina trabalho e salários melhores ou piores. Em todos estes aspectos, o Norte (que concentra um terço dos trabalhadores do país) apresenta deficiências. Conta com uma taxa de desemprego acima da média nacional e, para agravar o cenário, concentra perto de metade dos desempregados de longa duração, cujo regresso ao mercado é mais difícil. Já no emprego, ou seja, na quantidade de pessoas que de facto trabalham, a região está dentro da média do país. Quanto às qualificações, o cenário do país é negro e o Norte não é excepção. Aqui, no Centro e no Alentejo, três em cada dez pessoas disponíveis para trabalhar só têm o primeiro ciclo do Ensino Básico (a antiga quarta classe). No Algarve, a média desce para as 2,5 pessoas e em Lisboa está abaixo de duas em cada dez. Ou seja, na capital só um quinto da população activa tem o primeiro ciclo. Quanto aos Ensino Secundário e Superior, Lisboa leva, de longe, a vantagem, à qual não será alheio o facto de concentrar a grande maioria dos serviços públicos qualificados. Em cada dez trabalhadores da capital, dois têm formação de grau secundário e outros dois formação superior. O Norte conta com metade destes números. Só 12% das pessoas disponíveis para trabalhar têm o Secundário e 11% o Superior. Nestes indicadores, está abaixo da média nacional.

Comércio equilibrado

O Norte continua a ser, de longe, a região mais exportadora sozinha, vende ao estrangeiro mais do dobro do que a segunda maior, Lisboa. Apesar da forte concorrência chinesa, tanto o vestuário e têxtil quanto o calçado continuam a ser excedentários (nestes sectores, o país exporta mais do que importa), mas talvez por causa dessa mesma concorrência a importância da região para o conjunto das exportações portuguesas tem vindo a diminuir. Em 2000, quase metade (47%) das vendas ao exterior partiam do Norte. No final do ano passado, já só representava 41% (uma quebra explicável pelas descidas verificadas nas indústrias tradicionais). Trata-se de uma quebra relativa, ou seja, face ao comportamento do país no seu conjunto, uma vez que, em 2006, as exportações recuperaram fortemente e o Norte acompanhou essa melhoria. Refira-se ainda que o Norte exporta quase tanto quanto importa. É Lisboa quem mais contribui para desequilibrar a balança comercial portuguesa.