Alexandra Figueira, e Carla Soares, in Jornal de Notícias
Qualificação dos recursos humanos é uma das saídas para inverter o ciclo da crise e modernizar a região
Como qualquer problema complexo, a resposta para a saída da crise em que o Norte se encontra não é simples. Ou, se quisermos, é linear, mas de execução prática extraordinariamente difícil. Os líderes de opinião falam da necessidade de maior autonomia para tomar decisões a nível regional e local, de preferência legitimada pelo voto popular; da urgência de uma política à medida para resolver problemas estruturais, como o desemprego e as magras qualificações das pessoas; da tónica no despertar da consciência dos agentes económicos para o beco sem saída dos modos de actuação tradicionais.
As respostas avançadas pelos especialistas ouvidos pelo JN não surpreendem, tal como não surpreendiam os alertas de que a crise se avizinhava. Têm é que ser, de forma realista e empenhada, postas em prática, apela António Marques, presidente da AIMinho.
Mudar o perfil da base económica é uma inevitabilidade advogada por todos os economistas ouvidos pelo JN. Alberto Castro, director da Faculdade de Economia e Gestão da Católica do Porto, aponta para as indústrias ligadas à qualidade de vida, como o lazer, turismo ou cultura, e às ciências da vida e da saúde. António Marques acrescenta os novos materiais, a energia. Na verdade, todos os sectores de actividade são desejáveis, desde que assente em investigação e desenvolvimento. Aqui, a ligação entre a economia real e as universidades começa agora a dar sinais de vida, mas ainda incipientes.
Na teoria parece fácil, mas como é que se convence um industrial do calçado que sempre trabalhou sub-contratado por uma empresa estrangeira a fechar as portas e a investir o seu dinheiro numa de próteses médicas? O que pode levar um trabalhador que há 30 anos repete movimentos numa têxtil a voltar aos bancos de escola e mexer num computador? E persuadir líderes políticos e económicos a juntar competências para ir mais longe do que conseguiriam sozinhos?
"Mobilização", responde a eurodeputada Elisa Ferreira. "Cooperação", atira António Marques. E "vozes mais activas" na defesa dos interesses no Norte, pelo menos enquanto não tem autonomia para tomar decisões, diz Alberto Castro.
Enquanto isso, e porque "as eleições ganham-se e perdem-se no Norte", o professor espera que "o próximo ciclo eleitoral tenha um efeito virtuoso" e leve Lisboa a prestar mais atenção à região, em particular quanto à distribuição de verbas do QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional) e à instalação de organismos nacionais noutros locais que não na capital.
QREN cria expectativa
A expectativa em torno dos apoios do QREN é grande e à medida dos receios de que sejam novamente desperdiçados. Para Carlos Lage, presidente da CCDRN, são uma "grande oportunidade para modernizar a região" e prevê que possam chegar aos oito mil milhões.
Mas o QREN teve também o condão de reerguer o tema da regionalização. Uma gestão descentralizada deste quadro seria, reclamaram a Oposição e vários autarcas, uma forma de testar aquela reforma administrativa, que continua a ser apontada por muitos como solução para os problemas. Mas o Governo remeteu novo referendo para a próxima legislatura.
Lage reclama que a consulta popular não pode passar de 2010 mas concorda com o caminho tomado pelo Governo, de desconcentrar os serviços da administração central de acordo com as cinco regiões. Para Elisa Ferreira, elas já deviam existir. O Norte "estaria bem melhor" e seria uma forma "de aparecerem protagonistas" e "interlocutores" válidos. Couto dos Santos, "vice" da AEP, nota que "não vale a pena fazer regionalização com os mesmos protagonistas". Primeiro, há que haver novos actores, novas lideranças e "grandes ideias". E enquanto Couto dos Santos apela ao Governo para que olhe também para as pequenas e médias empresas, Alberto Castro defende que a AEP se redireccione novamente para os empresários da região.
Mas é a atitude de todos que deve mudar. Como diz o reitor da Universidade do Porto, José Marques dos Santos, "tem de haver um maestro e não todos a tocar para o seu lado". E o discurso, apela Elisa Ferreira, deve ser o de reclamar apoios, não na perspectiva de solidariedade, mas enquanto factor de desenvolvimento nacional. E por que não os deputados defenderem mais o Norte do que a nação?, desafia Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto.
Rui Reis, responsável do centro de investigação 3B's (Universidade do Minho), soma um conselho "É preciso perceber que o Norte não é só o Porto. Enquanto o for, perdemos em todos os tabuleiros".