Vera Lúcia Arreigoso Jornalista e Carlos Esteves Jornalista infográfico, in Expresso
Estudo coordenado pelo Instituto Ricardo Jorge sinaliza aumento do excesso de peso e da obesidade na população entre os seis e os oito anos de idade. Açores é a região onde as crianças têm o peso menos saudável
Abalança não engana: as crianças portuguesas engordaram durante a pandemia e 32% tem excesso de peso e 13,5% é mesmo obesa.
Os dados são relativos à faixa etária dos seis aos oito anos e constam do estudo COSI (Childhood Obesity Surveillance Initiative), na sexta ronda do sistema de vigilância nutricional infantil no âmbito da Organização Mundial da Saúde, e coordenado em Portugal pelo Instituto Ricardo Jorge.
Realizado no no ano letivo de 2021-2022, entre 6205 alunos do primeiro ciclo do ensino básico, o estudo indica um agravamento do desequilíbrio no peso das crianças.
O excesso de peso infantil subiu 2,2 pontos percentuais e a obesidade 1,6, assumindo especial gravidade aos oito anos, com 35,3% ‘fora da linha’.
Os Açores são a região com os piores resultados, com uma prevalência de peso excessivo de 43% e 23% de obesidade. No continente, o Algarve ganha no peso a mais, com 28%, e o Alentejo na percentagem de menor obesidade, com 11,5% de crianças obesas.
Olhando para o panorama europeu, Portugal fica, ainda assim, dentro da média, com uma em cada três crianças com peso acima do indicado.
AMAMENTAÇÃO EQUILIBRA O PESO
Outro dado a reter é a relação entre o peso e a amamentação. Os Açores são a região com menos crianças que beneficiam do aleitamento materno (74%). Ao invés, o Algarve tem a taxa mais expressiva, 93%. No geral, 90% dos bebés em Portugal são amamentados.
É unânime a importância do aleitamento materno e do pequeno-almoço e neste campo também existiu um retrocesso que poderá ter contribuído para os resultados menos satisfatórios. Tomar pequeno-almoço todos os dias deixou de ser uma refeição assegurada por mais de 90% das crianças estudadas como acontecia no diagnóstico anterior, realizado em 2019.
MENOS AÇÚCAR À MESA E NAS ESCOLAS
Apesar do aumento de alguns maus hábitos, também há um aumento de bons comportamentos, mesmo que ainda residuais. São disso exemplos, o crescimento do consumo diário de fruta (63% para 71%), a ingestão diária de hortícolas ou de sopa (69%), a redução do consumo de bolachas doces, bolos ou donuts até três vezes por semana (80% para 72,4%) e de refrigerantes com açúcar (71,3% para 69%).
E o açúcar não só deixou de ir menos vezes à mesa das famílias como também está menos presente nos recintos escolares. A disponibilidade de refrigerantes açucarados diminuiu de 4% para 1% e de snack doces e salgados de 11% para 6%. Em sentido contrário, há mais fruta fresca (62% para 72%) e vegetais (32% para 44%). Até as máquinas de venda automática são agora menos (7% para 3%).
20% VAI PARA A ESCOLA A PÉ OU DE BICICLETA
O estudo do Instituto Ricardo Jorge olhou ainda para a atividade física e o que os investigadores viram não é bom.
“De 2019 para 2022, todos os parâmetros estudados relativos às atividades sedentárias registaram um aumento na ordem dos 2,2 a 9,3 pontos percentuais, com o maior aumento verificado no uso de computadores para jogos eletrónicos durante a semana pelo menos duas horas por dia, concretamente 18% para 27%”, escrevem os autores.
Fica ainda a saber-se que apenas 20,5% vai pra a escola a pé ou de bicicleta e 25% pratica exercício físico num clube desportivo pelo menos quatro horas semanais. No entanto, mais de metade (56%) tem atividade física espontânea (jogos e brincadeiras) pelos menos duas horas por dia durante a semana e 85% aos fins de semana.