20.7.23

Jovens universitários ciganos formam comité nacional para combater discriminação

Clara Raimundo, in Sete Margens


Os 39 jovens ciganos que frequentam atualmente o ensino universitário a nível nacional acabam de juntar-se para formar o Comité dos Jovens Ciganos de Portugal. A iniciativa surge no âmbito do núcleo jovem da comissão promotora da evocação do quinto centenário das perseguições aos portugueses ciganos, que será assinalado no biénio 2025-2026, “mas tem vida própria e independente” e “enche-nos de expetativas”, adianta ao 7MARGENS Jorge Bento Silva, membro do secretariado da comissão.

O novo comité, explica o ex-funcionário europeu, “tem a sua sua base nos 39 jovens ciganos que frequentam atualmente o ensino universitário e a intenção de incluir outros jovens ciganos portugueses para equacionar em termos próprios as questões que os preocupam: discriminação, preconceito, emprego, criação de empresas, habitação, saúde, língua”, mas não só. O objetivo é também refletir sobre “o papel da identidade cigana dentro da identidade nacional portuguesa e na relação com os 16 milhões de ciganos da diáspora mundial”, acrescenta.

Para Jorge Bento Silva, só este fruto já teria “valido todo esforço” da comissão promotora, tal o seu potencial. Mas o membro do secretariado não deixa de destacar e valorizar os restantes frutos que já surgiram desde que, há pouco menos de um mês, a comissão anunciou publicamente a sua proposta de evocação do quinto centenário das perseguições aos portugueses ciganos.


“Projetos ambiciosos” já em preparação para 2025-2026

“Houve uma reação notável quer das instituições quer da sociedade civil a uma iniciativa sem precedentes na forma e conteúdo”, afirma. “Em apenas três semanas desde o anúncio público no Dia Nacional da Pessoa Cigana [24 de junho], o Presidente da Republica ofereceu Alto Patrocínio e integrar a Comissão de Honra, o presidente da Assembleia da República deu nota pública de apoio, indicou que terá lugar exposição sobre o tema e agendou a matéria em conferência de lideres, e o Governo recebeu a comissão promotora e designou ponto focal na Secretaria de Estado da Igualdade e Migrações”, destaca.

Quanto à proposta de evocação, que foi disponibilizada para subscrição no site Petição Pública, passou de 154 subscritores iniciais “para quase 1000”, assinala também Jorge Bento Silva.

Para esta quinta-feira, 20 de julho, das 10h30 às 12h30, está agendado um debate online sobre a iniciativa, organizado pelo Observatório das Comunidades Ciganas (ObCig). Intitulado “Cinco Séculos de População Cigana de Portugal”, já “conta com 160 pessoas inscritas muitas das quais educadores, mediadores culturais e técnicos e eleitos municipais”. As inscrições estão abertas até às 17 horas desta quarta-feira, através do formulário https://forinq.acm.webhs.org/index.php/389284?lang=pt.

E já há “diversos eventos” a ser pré-programados para 2025-2026 por entidades da sociedade civil, bem como “projetos ambiciosos em preparação” assegura o responsável, “não só nos planos artístico e simbólico, mas também para que à luz desta evocação sejam reunidos meios e vontades para avançar concretamente”, nomeadamente “no acesso cigano ao trabalho e à criação de empresas ou na luta contra a segregação urbana”.

A dois anos do início da evocação, “esses vários tipos de impacto já são notórios e continuam em crescimento rápido”, congratula-se Jorge Bento Silva, até porque “isto está só a começar”.