Dina nunca teve resposta ao anúncio — e continua em casa do filho. Elisabete, Hélder, Filipa e Tom tentaram arranjar casa mas acabaram a viver em autocaravanas. Pelo menos não pagam renda, água e luz.
A porta está fechada, as janelas laterais também e as persianas do pára-brisas foram completamente corridas, não só é impossível espreitar lá para dentro como nem sequer parece valer muito a pena, não há um único ruído, nenhuma luz.
Se não soubéssemos à partida que H. está fechado no interior, nunca imaginaríamos que havia alguém na autocaravana, estacionada num pacato bairro residencial na zona da Parede, em Cascais — muito menos que mãe e filho ali dormem, comem, tomam banho e fazem tudo o que faz parte da vida, pelo menos quando não estão na escola ou a trabalhar.
Só depois de mais de uma hora a conversar à mesa de um café sobre as circunstâncias que a levaram a pedir um crédito pessoal para comprar a autocaravana para onde se mudou já há três anos com o filho adolescente, é que Elisabete Desidério acede em apresentar-nos o veículo a que hoje chama casa.