5.7.23

Saúde mental é "grande aposta" da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no combate à pobreza

Por Lusa, in Observador

Ana Jorge disse que o objetivo é capacitar indivíduos e famílias para que sejam capazes, por si e com ajuda, de se organizarem e saírem do ciclo de pobreza, e reforçar a formação para profissionais.


A provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) adiantou que a saúde mental será uma das grandes apostas da nova direção no combate à pobreza, defendendo a capacitação das pessoas e famílias para que saiam pelos seus meios.


Dados da SCML dão conta de que diariamente 52.800 pessoas recorreram aos serviços e equipamentos geridos pela instituição, tendo sido feitos 98 mil atendimentos sociais e mais de 188 mil consultas de cuidados de saúde primários em 2022.

Cinco mil idosos recebem apoio diário, bem como 3.700 pessoas que estão em situação de emergência social, tendo a instituição distribuído 15 mil refeições por dia, no ano passado, e dado apoio a 1.200 requerentes de asilo.

Em entrevista à agência Lusa, quando a SCML comemora 525 anos, Ana Jorge salientou que estes são números que demonstram o impacto da atividade da instituição e a diversidade de áreas em que desenvolve trabalho.


Apesar de ter assumido funções há apenas dois meses, Ana Jorge apontou como uma das linhas de atuação a aposta na saúde mental, tendo como objetivo reforçar o trabalho que está a ser feito, nomeadamente na integração de equipas comunitárias e no apoio a algumas populações atendidas na instituição.

Aquilo que nós precisamos de fazer é tratar e cuidar os que têm problemas existentes no dia de hoje, mas também tentar e fazer tudo para que haja menos problemas na área da saúde mental e para isso nós precisamos de reforçar. Acho que é uma área em que nós não podemos descuidar, de forma alguma, que é no desenvolvimento e no apoio a crianças pequenas e as suas famílias“, destacou.

Acrescentou que esse apoio deverá acontecer tanto nas creches, como nos Jardins de Infância, mas também nas comunidades, de modo a apoiar e reforçar o desenvolvimento destas crianças, tanto do ponto de vista familiar, emocional ou escolar.

“Se tiverem apoio em idades mais precoces poderão fazer melhor em idade escolar. Esta é a grande aposta para podermos, do ponto de vista geral, diminuir a pobreza“, defendeu.

Segundo Ana Jorge, nomeadamente na área da infância, a atuação será feita ao nível da prevenção, aumentando competências e resiliência para um desenvolvimento emocional e cognitivo mais reforçados.

Para poderem ultrapassar aquilo que são as bolsas de pobreza (…) e poderem ser adultos mais saudáveis”, sustentou, acrescentando que a intervenção se traduz num acompanhamento familiar e que é feita ao nível dos educadores apoiados por psicólogos.

Ana Jorge sublinhou que o objetivo é reforçar este trabalho, não só na intervenção direta, mas também no desenvolvimento de ações de formação para profissionais.

Relativamente ao trabalho que a instituição faz no combate à pobreza, a provedora sublinhou que há dificuldades para as quais muitas vezes são necessárias ajudas pontuais “para suprir momentos de grande carência” e defendeu que o momento “é de urgência” para resolver esses problemas.


“Diria que não podemos dar só peixe. Temos que dar muitas canas para poder ajudar e isso é um trabalho de intervenção social que tem que ser feito”, defendeu, acrescentando que será necessária uma intervenção com todos os parceiros, já que “as instituições sozinhas não conseguem ultrapassar essas dificuldades”.

Disse que o objetivo é capacitar indivíduos e famílias para que sejam capazes, por si e com ajuda, de se organizarem e saírem do ciclo de pobreza.

Ana Jorge destacou também o trabalho feito pela instituição no ano passado, nomeadamente ao nível da infância e juventude, dando como exemplo as mais de 90 crianças à guarda de uma família de acolhimento.

Dados da SCML dão conta que a instituição “tem aumentado a capacidade de resposta”, havendo 2.300 crianças em creches, mais de 500 em jardins de infância, 400 crianças e jovens à guarda da instituição em casas de acolhimento e mais de 100 em apartamentos de autonomia.