16.7.07

Do Porto para todo o mundo: Fraunhofer investe em "ambientes inteligentes"

Andrea Cunha Freitas, in Jornal Público

Unidade da empresa que criou o MP3 deverá arrancar já em 2007, com um orçamento anual de seis milhões de euros. A aposta é nas tecnologias para pessoas com necessidades especiais


Idosos, cidadãos culturalmente desfavorecidos e indivíduos com limitações físicas. Estes são os três grupos de pessoas que mais vão beneficiar com o trabalho que será desenvolvido no centro de pesquisa instalado no Porto da maior rede europeia de investigação aplicada. Especialmente vocacionada para a área das tecnologias de informação e comunicação, a unidade da alemã Fraunhofer deverá começar a trabalhar ainda este ano, tendo já captado a atenção de importantes parceiros para futuros projectos, entre os quais a Efacec, a EDP, a Brisa, a PT e a Sonae.

"Já recebemos várias propostas de trabalho", anuncia, satisfeito, Pedro Guedes de Oliveira, do Instituto Nacional de Engenharia e Sistemas de Computação (INESC) e um dos representantes portugueses na comissão de instalação do Instituto Fraunhofer em Portugal. O ambicioso projecto foi oficializado em Abril - com a assinatura do "memorando de cooperação" entre a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), a Agência para a Sociedade do Conhecimento e a Sociedade Fraunhofer - e o plano ficou mais nítido com a decisão, tomada há poucos dias, pela localização do futuro centro de investigação junto à Universidade do Porto.

Segundo o acordo assinado, o instituto deverá inicialmente centrar a sua actividade em tecnologia, conteúdos e serviços destinados "a locais com grande concentração de pessoas, nomeadamente centros comerciais". O investimento será feito numa área habitualmente designada como "ambientes inteligentes". Neste caso, pretende-se proporcionar ou facilitar às pessoas com necessidades especiais o acesso às novas tecnologias de informação e comunicação. O objectivo é, assim, desenvolver projectos que tornem mais fácil a vida dos idosos, pessoas com dificuldades funcionais ou com baixas qualificações académicas.

A instituição vai contar com um orçamento anual de seis milhões de euros, entre 2007 e 2009, assegurados pela FCT. Porém, segundo José Encarnação, responsável da Fraunhofer e principal impulsionador do projecto, o sucesso do plano vai depender dos seus parceiros. "Nós trabalhamos com e para a indústria. Queremos fazer qualquer coisa de novo. O modelo financeiro do instituto, o basic-funding, está ligado ao dinheiro que se recebe da indústria e, por isso, a viabilidade do projecto depende do interesse da indústria", disse ao PÚBLICO o responsável da sociedade alemã, José Encarnação, na data da assinatura do acordo. A ideia, nota Pedro Guedes de Oliveira, é "fazer coisas de que as empresas precisem".

Paralelamente à investigação, a Fraunhofer vai também marcar terreno no campo da indústria, com acordos de cooperação. Para já, os grupos de trabalho estudam eventuais parcerias nas áreas da biotecnologia, logística e indústria automóvel, esperando-se que a nanotecnologia e a computação em redes de alto débito também venham a entrar no "negócio". A Sociedade Fraunhofer tem um orçamento anual de cerca de 1,2 mil milhões de euros.

Mas, afinal, porque é que a famosa rede europeia que criou o formato digital MP3 escolheu Portugal? "Há uma resposta simples e uma difícil. A resposta simples é porque sou português e fui director do instituto durante mais de 20 anos, fui alguém dentro da sociedade. É amor à camisola. Por outro lado, Portugal tem muito boa reputação ao nível dos seus cientistas, do seu nível de investigação e do seu brainware", explicou ao PÚBLICO José Encarnação, principal impulsionador deste projecto da Fraunhofer.