25.7.07

Um grito do Norte

João Albuquerque , Director-geral da ACIB, in Jornal de Notícias

A o longo do último ano foram milhares os portugueses que abandonaram o país para irem trabalhar em Espanha, principalmente na construção civil. São essencialmente homens, que não tendo emprego por aqui, ou tendo emprego na ordem do salário mínimo, não tiveram outra alternativa senão sair do seu país e iniciarem um novo percurso em Espanha.

Este fenómeno é particularmente grave no NORTE e em especial em concelhos como o de Barcelos. Cálculos bem fiáveis apontam para que cerca de 4 000 homens de Barcelos saíram do concelho para irem trabalhar em Espanha na construção civil, bem como muitos outros milhares na região seguiram o mesmo caminho.

É decepcionante que após três quadros comunitários de apoio, após a criação de milhares de unidades comerciais e industriais nos últimos 25 anos através do empreendedorismo dos empresários e após a conquista do título de motor económico do país, o NORTE esteja nesta fase de desânimo, de desmotivação total e de apatia perante o que se passa e face ao futuro que se avizinha.

O investimento privado, que não só os grandes investimentos, é necessário para o desenvolvimento da região. Temos de recordar que a NORTE são as micros, pequenas e médias empresas que fazem a diferença e que são o motor de criação de emprego nas sub-regiões, pelo que se exige que esta tipologia de empresas tenha também apoios ao seu desenvolvimento.

Ao nível concelhio a articulação entre todas as instituições que actuam sobre o desenvolvimento e as empresas com a respectiva autarquia constitui factor decisivo para que se consiga fazer ao nível nacional a mensagem do desenvolvimento e das carências a suprir.

Com um mundo em constante mudança e em evolução exponencial, onde os recursos humanos e a sua qualificação são factor decisivo, onde o poderio e futuro das regiões dependem mais das pessoas que nelas vivem do que do recursos naturais disponíveis, onde o potencial futuro está directamente relacionado com a capacidade de alavancagem de investimentos, não se compreende a impassibilidade face à constante sangria dos nossos homens e mulheres que hoje têm de abandonar as nossas regiões e o país para ter emprego.

Estamos a perder a nossa juventude que está a fugir do país e das regiões do NORTE, estamos a voltar à desestruturação dos agregados familiares com os homens a sair para ir para Espanha e outros países europeus e com as mulheres e filhos na terra, voltamos a um período de insegurança económica que leva ao abandono precoce dos estudos e à necessidade de ajudar a família começando a trabalhar o mais rápido possível, assistimos ao adiamento dos projectos de família dos jovens que atrasam decisões importantes, enfim, assistimos a um retrocesso da qualidade de vida.

A NORTE impõe-se um GRITO, de frustração, de chamada de atenção, mas acima de tudo impõe-se um GRITO de união em torno do esforço que se terá de fazer para voltar a ter um NORTE motor do país.