13.5.09

Igreja receia revolta social

Francisco Pedro, in Correio da Manhã

A criação de uma nova política social que possa responder às necessidades primárias das famílias afectadas pela crise foi defendida ontem pelo bispo da diocese Leiria-Fátima, D. António Marto. "Não podemos deixar que a crise económica se transforme numa explosão social violenta", afirmou o prelado na apresentação da 92ª Peregrinação Internacional Aniversária, que hoje reúne mais de 150 mil fiéis na Cova da Iria.

Habituada a ajudar os mais necessitados em períodos de maior dificuldade, a Igreja sublinha que não pode substituir-se ao Estado e às instituições para resolver os problemas sociais. Mas está disposta a contribuir com a sua mensagem e força espiritual para que se alcance um verdadeiro sentimento de solidariedade.

"Talvez seja verdade que neste momento de crise a única coisa certa é a incerteza, mas devemos ter confiança. Não uma confiança simplista numa solução mágica dos problemas, mas uma confiança no empenho da solidariedade de todos e na nossa presença ao lado de quem está em dificuldades", disse D. António Marto.

O bispo considera que a garantia do direito ao trabalho é fundamental para manter a dignidade do ser humano e apela ao Estado, empresários, trabalhadores, sindicatos e sociedade civil para que se mobilizem em torno de um objectivo comum. "É preciso uma atenta reflexão sobre as regras da finança e da economia, sobre o modo de fazer empresas, sobre a intervenção das instituições a favor de quem está em dificuldade por causa da crise", referiu. Para D. António Marto, todos devem contribuir para que se desenvolva "uma renovada e séria política social, de modo a se dar resposta sistemática e contínua às necessidades primárias das famílias".

"O homem não pode pensar que é Deus. A economia tem limites e a ganância também", sublinhou, por sua vez, o cardeal D. Oscar Maradiaga, presidente da Cáritas Internacional. Quando o ser humano "é guiado apenas pela cobiça" cai na crise como a que estamos a viver, acrescentou o presidente da peregrinação, apontando a "solidariedade" como "a solução para a pobreza".

PORMENORES

MENOS ESMOLAS

As dificuldades económicas estão a reflectir-se nas dádivas dos peregrinos. "Nota-se uma quebra, mas não significativa", revelou o reitor do Santuário, padre Virgílio Antunes.

MEIO MILHÃO

Os pedidos de ajuda chegam todos os dias ao Santuário. Segundo o reitor, é disponibilizado perto de meio milhão de euros, todos os anos, para obras de caridade.

CÁRITAS ACTIVA

A Cáritas presta auxílio a seis mil pessoas, só na Diocese Leiria-Fátima. Além dos produtos alimentares, as famílias pedem ajuda para pagar a renda da casa, a água ou a electricidade.

ILUSÃO FINANCEIRA

"Muitos pensam que a solução para a crise pode vir com mais dinheiro, mais liquidez nos bancos. Isso não é verdade", alertou o cardeal D. Oscar Maradiaga.

30 MIL FOLHETOS SOBRE A GRIPE A

Trinta mil folhetos com conselhos sobre a gripe A (H1N1) estão a ser distribuídos aos peregrinos nos cinco postos de assistência e socorro instalados em Fátima.

ALTAR IMPROVISADO EM PONTA DELGADA

Trinta mil folhetos com conselhos sobre a gripe A (H1N1) estão a ser distribuídos aos peregrinos nos cinco postos de assistência e socorro instalados em Fátima.

MEIOS DE SOCORRO PARA 350 MIL

A Protecção Civil mobilizou 175 operacionais e 59 meios de socorro para a peregrinação. O dispositivo está preparado para responder às necessidades de 350 mil pessoas.

TRÊS EVACUADOS PARA O HOSPITAL

As equipas de socorro tinham assistido 232 peregrinos até às 16h00 de ontem e evacuado três pessoas para o Hospital de Leiria, por motivos de doença.

GRUPOS DE ITÁLIA EM MAIOR NÚMERO

Itália é o país com mais grupos (24) inscritos para a peregrinação nos serviços do Santuário. No total, estavam ontem registados 118 grupos, de mais de vinte países.

ENCERRADO POSTO DE ASSISTÊNCIA

Um posto de assistência aos peregrinos, dinamizado por uma organização não-governamental, foi encerrado pela Protecção Civil "por falta de pessoal técnico".

MAIS PEREGRINOS VINDOS DO SUL

A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) registou ontem um afluxo maior de peregrinos a pé oriundos do Sul do País.

"Contraria um pouco o histórico" que pões o Norte como a região de onde saem mais fiéis em peregrinação pedonal, referiu Joaquim Chambel, da ANPC.

PAPA VISITA LUGARES SANTOS DE JUDEUS E MUÇULMANOS

Com uma agenda preenchida pela deslocação a lugares sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos, o segundo dia da visita do Papa Bento XVI à Terra Santa foi ontem ensombrado pela polémica em torno do seu alegado passado nazi (ver caixa) e da "frieza" nas referências ao Holocausto.

O Sumo Pontífice deslocou-se à Esplanada das Mesquitas e à Cúpula do Rochedo, tornando-se no primeiro Papa a visitar o local, sagrado para os muçulmanos. Depois visitou o Muro das Lamentações, lugar santo dos judeus, oficiando de seguida missa no Vale de Josafá e orando no local que se pensa ser o da Última Ceia de Cristo.

Na Cúpula do Rochedo foi recebido pelo Grande Mufti de Jerusalém, Mohammed Hussein , mas o encontro não foi transmitido em directo na TV devido a disputas entre palestinianos e israelitas. "Encontram-se aqui as três grandes religiões monoteístas, lembrando-nos o muito que têm em comum", referiu Bento XVI.

No Muro das Lamentações o Papa depositou uma oração escrita apelando à paz e leu um salmo em latim, acompanhado por um rabi que o fez em hebraico. A visita foi considerada uma oportunidade para reiterar "o desejo de uma reconciliação genuína entre cristãos e judeus".

VATICANO NEGA PASSADO NAZI

O Papa Bento XVI nunca pertenceu à Juventude Hitleriana (JH), afirmou ontem o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, em resposta às acusações veiculadas, entre outros, pelo presidente do Parlamento israelita, Reuven Rivlin. Este criticou o Papa por, na visita de segunda-feira ao memorial do Holocausto Yad Vashem, não ter pedido desculpa, enquanto alemão, pelo genocídio perpetrado pelo regime nazi. E Rivlin concluiu, "nada há a fazer, ele foi um deles".