Reis Pinto, in Jornal de Notícias
Confederação Europeia das PME contra as grandes injecções de capital. Dirigente da CEA-PME diz que "Portugal deveria estar mais bem preparado para a crise".
Mario Ohoven, de nacionalidade alemã, é presidente da poderosa Confederação Europeia das Associações das Pequenas e Médias Empresas (CEA-PME), que congrega dois milhões de empresas e emprega cerca de 20 milhões de pessoas. Em entrevista ao JN, o dirigente da CEA-PME defendeu, com vigor, a descida da taxa do IVA, o fim das ajudas às grandes empresas europeias em dificuldades e alertou para a necessidade de os governos e do próprio Banco Central Europeu obrigarem os bancos a passar para as empresas os benefícios decorrentes da baixa taxa de juro. Mario Ohoven aconselhou os cidadãos a não acreditarem nos políticos que fazem promessas baseadas em utopias.
De que forma esta crise tem afectado as PME europeias?
Nem todas as empresas e sectores estão a sofrer. Na Alemanha, por exemplo, cerca de 40% das PME estão em boa situação. Mesmo nos sectores que estão a sofrer mais, há quem aposte na inovação e se esteja a dar bem. É preciso inventar novos produtos e melhorar os já existentes. Um bom produto vende-se, com crise ou sem ela. A espada que está sobre as nossas cabeças é a falta de liquidez financeira.
Justificam-se, então, apoios financeiras para as pequenas e médias empresas?
É preferível cortar nos impostos. Não resulta penalizar fiscalmente as reservas financeiras das empresas. Os lucros obtidos e que ficam na empresa não deveriam ser taxados, o que permitiria às empresas ter mais liquidez, mais recursos financeiros para investir. Também seria útil reduzir a taxa do IVA, o que estimularia o consumo. Portanto, mais simples que injectar dinheiro é facilitar o acesso a produtos mais baratos. Tem-se visto em muitos países que, ao reduzir os impostos, o Estado consegue aumentar a receita fiscal.
As PME sentem-se, então, prejudicadas em detrimento dos bancos e das grandes companhias, que têm beneficiado de enormes ajudas financeiras?
Somos contra os subsídios, mas vivemos uma situação particular. Se os governos não tivessem injectado dinheiro nos bancos as consequências teriam sido muito mais graves. Mas, já que a Banca continua a receber tanto dinheiro e barato, é necessário assegurar que essas vantagens são passadas para as empresas, pois só assim terão o efeito desejado na revitalização da economia. Por exemplo, o presidente do Banco Central Europeu, Jean Claude Trichet, anunciou, há dias, a injecção de mais 82 mil milhões de euros. Os governos e o BCE terão de arranjar forma de obrigar os bancos a emprestar o dinheiro mais barato. Não podem receber essas ajudas apenas para encher os bolsos.
Nem só os bancos têm beneficiado das ajudas. Grandes verbas têm sido atribuídas a construtores automóveis, como a Opel. Concorda?
É um sector muito importante, mas isso não signifique que se abandonem os outros sectores. Quem se interessa pelos fabricantes de maquinaria, que foram um dos motores do desenvolvimento? Quem ajuda os têxteis? Quem apoia os sectores que não contribuíram para esta crise?
E qual é a responsabilidade dos fabricantes de automóveis?
Há muito que fabricam produtos que não interessam ao mercado e têm produzido em excesso. Há que aceitar a lei da vida: nasce-se, vive-se e morre-se. Não é dramático. As PME têm feito esforços incríveis de inovação e, mau grado a crise, têm aparecido novos redutos. Há "campeões escondidos", empresas com não mais de 200 trabalhadores que fornecem o mundo inteiro.
E como vê a situação em Portugal?
Os portugueses são inteligentes, mas devem articular melhor a pesquisa e a inovação com a economia. Muito antes da crise, aquando do alargamento da UE, já toda a gente sabia que a situação iria piorar. Por isso, Portugal deveria estar mais bem preparado. Talvez tudo tenha a ver com a arte de bem aproveitar os fundos. Importa é aprender com os erros e não repeti-los.
Isso é uma crítica aos políticos. Algum conselho para os cidadãos?
A crise única que atravessamos requer uma escolha especial dos povos, onde não devem ter lugar utopias ou dogmatismos. A única razão para escolher determinadas elites políticas deve ser a competência económica. É muito simples. Os estados já não têm mais recursos e as pessoas devem ser muito cautelosas quando ouvem promessas que não se podem cumprir. Esta crise é a oportunidade de mudar. Após este período surgirão no mercado mais empresas inovadoras e pessoas qualificadas.


