Sérgio Aníbal, in Jornal Público
Os mercados de crédito estão a voltar a "uma situação pré-Lehman",
diz o presidente do BCE
A economia europeia ainda não deu sinais definitivos de ter conseguido travar a queda livre em que entrou nos últimos meses, mas o presidente do Banco Central Europeu está mais animado com o que se passa nos mercados de crédito e já arrisca fazer discursos mais optimistas em relação a uma recuperação.
Poucos dias depois de ter colocado as taxas de juro da zona euro ao nível mais baixo de sempre e de ter anunciado a aplicação de medidas extraordinárias para injectar liquidez na economia e desbloquear os mercados de crédito, Jean-Claude Trichet fez ontem um discurso pela positiva. Ontem, na conferência de imprensa que se seguiu a um encontro de banqueiros centrais na Suíça, o francês afirmou, falando da economia mundial, que, "no que diz respeito ao crescimento, estamos a aproximar-nos do ponto de inflexão do ciclo".
O responsável máximo do BCE mostrou-se particularmente optimista em relação a uma normalização das condições no mercado de crédito, que desde Setembro passado, tem sido muito afectado. "Existe um sentimento geral, relativamente aos prémios de risco e a elementos como os spreads, de que voltámos a uma situação pré-Lehman", afirmou, referindo-se à falência do banco de investimento Lehman Brothers de 15 de Setembro do ano passado, que desencadeou um agravamento da crise nos mercados financeiros.
Mas se Trichet está mais optimista em relação ao que se passa nos mercados, a verdade é que os efeitos na economia da Zona Euro ainda não são muito claros. Ontem, os dados da produção industrial francesa e italiana durante o primeiro trimestre deste ano ficaram abaixo das previsões, registando-se uma contracção de 6,9 por cento em Itália e de 9,9 por cento em França.
No entanto, e num tom mais optimista, os indicadores avançados da OCDE (que procuram antecipar os pontos de inflexão do ciclo das economias mais desenvolvidas do Planeta) aponta para o fim da tendência negativa em três das principais economias da União Europeia: a França, o Reino Unido e a Itália. Nestes países o indicador calculado pela OCDE continua claramente abaixo de 100 (o que significa que a economia continua a contrair-se), mas apresentou em Março resultados melhores do que nos meses anteriores (o que pode representar uma alteração do ciclo económico).
Ainda assim, no total da Zona Euro, o indicador avançado continuou ainda a recuar.
Em Portugal, em Março, o indicador avançado da OCDE caiu de 90,6 para 89,8 pontos, não dando, por isso, sintomas de uma inversão do ciclo económico negativo.


