26.7.10

Absentismo custa 100 milhões de horas por ano

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

Precariedade e más condições de trabalho são avançadas como justificação para absentismo


Poderá ser por causa das grandes cadeias de "fast food", que empregam sobretudo jovens precários em busca de algo melhor, como diz uma associação do sector. Mas a verdade é que é na restauração e hotelaria que mais se falta ao trabalho.

A cada dia que passou, em cafés, restaurantes e hotéis, quase um décimo dos trabalhadores não apareceram no emprego. Os dados do Ministério do Trabalho datam de 2008 e dizem que o sector tinha a mais alta taxa de absentismo do país (9,5%, acima da média de 6,7%) - valor justificado pelo sindicato com as más condições de trabalho e atribuído às cadeias de "fast food", pela associação.

Condé Pinto, presidente executivo da Associação da Hotelaria, assegura não receber queixas devido às faltas dos trabalhadores. "O absentismo não é um problema", disse, lembrando que os dados se referem só a firmas de média e grande dimensão. Mas nem todas as empresas têm as mesmas características. Condé Pinto reconhece que "um número significativo dos contratos a prazo não é renovado e isso pode ser a causa de absentismo, sobretudo nas cadeias de 'fast food', onde trabalham muitos jovens estudantes".

Esta não é a primeira vez que o sector aparece no topo do absentismo, que engloba as faltas ao trabalho por doença (a principal razão), acidente de trabalho, gozo de licença de maternidade ou paternidade, assistência a um familiar doente ou suspensão disciplinar (a menor causa). Mas, na raiz das faltas ao trabalho, encontram-se causas específicas.

Francisco Figueiredo, do Sindicato da Hotelaria do Norte, desfia um rol de reclamações: a proliferação do trabalho negro, "por baixo da mesa", que estima envolver um terço dos trabalhadores; os horários longos, de 10 ou 12 horas diárias, mas sem receber mais por isso; o trabalho nos feriados e fins--de-semana; as mudanças de última hora dos horários, tão diferentes do ritmo normal da vida que, por exemplo, deixam as mães sem sítio para ter as crianças (isto num sector onde 63% dos trabalhadores são mulheres com menos de 40 anos); e os salários baixos, próximos (ainda que acima) do salário mínimo nacional.

"O sindicato pensa que os trabalhadores devem ser exemplares, faz a apologia da assiduidade, mas estas condições de trabalho levam à doença, até do ponto de vista psicológico. Pelo conhecimento que tem do sector, Francisco Figueiredo garante que é nos sítios com piores condições de trabalho que mais se falta.

Cem milhões de horas
Há pelo menos uma década que o absentismo está a diminuir, ainda que devagar, mas no ano passado ficaram por trabalhar cerca de cem milhões de horas. Para ter uma noção do que isso significa, imagine uma pessoa a trabalhar sete horas por dia, de segunda a domingo e todas as 52 semanas do ano, por 60 anos.

Mas se a restauração tem o maior número de faltas, já o imobiliário é o que tem menos. Luís Lima, da Associação da Mediação Imobiliária, avança duas razões: o facto de muitos dos trabalhadores serem independentes (passarem recibos verdes) e de ganharem à comissão. Dois incentivos, diz, para não faltarem ao trabalho.