15.7.10

Portugal paga quase o dobro do que pagou em Abril para colocar dívida de curto prazo

Por Ana Rita Faria, in Jornal Público

Corte do rating encareceu custo a que o Estado se financiou na emissão de dívida realizada ontem. Ainda assim, a procura superou a oferta


Apesar da pressão exercida pelo corte do rating português pela agência de notação financeira Moody"s, Portugal viu ontem a procura superar a oferta numa nova emissão de dívida pública. Contudo, as taxas de juro pedidas foram mais altas do que nas emissões anteriores e, no caso das obrigações do tesouro a curto prazo, chegaram quase ao dobro daquelas a que Portugal se conseguiu financiar em Abril.

Este é um sinal claro de que os investidores que compram dívida pública portuguesa se mantêm desconfiados da liquidez da economia nacional e lhe atribuem uma maior probabilidade de incumprimento nos tempos mais próximos.

No leilão de obrigações realizado ontem pelo Instituto de Gestão e do Crédito Público (IGCP), o Estado previa arrecadar entre 1000 a 1500 milhões de euros com a venda de títulos a dois e nove anos, mas acabou por encaixar 1680 milhões.

A venda de obrigações com maturidade até Junho de 2012 gerou 877 milhões de euros, tendo a procura sido 2,3 vezes superior à oferta. A taxa de juro que o Estado terá de pagar nestes títulos é de 3,159, bem acima dos 1,715 por cento conseguidos numa operação semelhante realizada em Abril, o que revela que os investidores estão a penalizar mais a dívida portuguesa com maturidade mais reduzida, mostrando-se receosos quanto à evolução da economia principalmente no curto prazo.

Quanto à venda de obrigações do Tesouro a nove anos, a procura foi 1,5 vezes superior à oferta. O Estado encaixou aqui 803 milhões de euros, a uma taxa de 5,304. Embora esta taxa esteja apenas ligeiramente acima dos 5,225 por cento da emissão anterior, em Junho, é a mais alta desde pelo menos 2006, e possivelmente desde a criação do euro. Além disso, é superior, por exemplo, à taxa que a Grécia tem de pagar aos países europeus e ao Fundo Monetário Internacional pelos seus empréstimos de emergência - cinco por cento nos financiamentos que obtém.

Rating castigou emissão

Apesar de, nos últimos leilões, Portugal estar a ser bem sucedido na colocação de dívida, as atenções voltaram-se em particular para a emissão de ontem devido ao corte do rating da República portuguesa. Na terça-feira, a agência de notação financeira Moody"s anunciou uma revisão em baixa, em dois níveis (de Aa2 para A1), da avaliação do risco da dívida portuguesa, que foi seguida de um corte de rating a várias empresas da esfera do Estado e à banca (ver texto em baixo).

Contudo, a Moody"s é já a terceira agência de notação a penalizar a notação de risco portuguesa este ano, o que esbateu o impacto do corte sobre as taxas de juro da dívida. Depois da revisão em baixa da Fitch, em Março, e da Standard & Poor"s, em Abril, os juros têm vindo a subir regularmente, embora estejam neste momento longe dos picos atingidos no início de Maio, em pleno auge de uma crise de dívida soberana que começou na Grécia e se estendeu a outros países da Europa.