16.7.10

Alta-comissária para a Imigração considera o bairro para ciganos em Beja uma solução infeliz

Por Carlos Dias, in Jornal Público

Rosário Farmhouse acredita que há populações em piores condições no Alentejo, mas frisa que o muro que isolou o bairro das Pedreiras é "um estereótipo".

A alta-comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, pronunciou-se ontem sobre o muro que rodeia a comunidade cigana de Beja alojada no Bairro das Pedreiras salientando que "todas as soluções que acabem na criação de guetos não são soluções felizes".

Rosário Farmhouse visitou o bairro, na periferia de Beja, em Novembro de 2008, e chegou à conclusão de que há outras comunidades ciganas da região a viver em piores condições. O muro de betão que isola parte do bairro é "um estereótipo" e "deitá-lo abaixo pode vir a agravar a situação" se outros "muros invisíveis" não forem previamente derrubados como "os do medo e do desconhecido". O caminho para aplacar a tensão que tem existido entre as comunidades cigana e não-cigana "obriga a uma mudança de parte a parte". A reportagem do PÚBLICO sobre o quotidiano no Bairro das Pedreiras levou Maria Manuel Coelho, ex-vereadora da Câmara de Beja entre 1998 e 2001, a vir a público lembrar a origem do muro. O objectivo, disse, não era " esconder os ciganos", mas sim proteger os moradores "da circulação intensa de camiões na estrada que existe paralela às casas". A sua construção representa "um mal menor" porque "em termos técnicos ninguém o defende. Em termos humanos, condenamo-lo veementemente". O local de instalação do bairro "foi o único com espaço suficiente (...) aquele que foi possível adquirir na época, numa luta contra o tempo, a falta de recursos e de vontades, após meses de procura e de sistemática recusa dos proprietários em vender à câmara os seus terrenos, logo que sabiam que o objectivo era realojar ciganos", realçou Maria Manuel. Que conclui: "Há no bairro situações concretas e actuais que não nos orgulham e carecem de resolução urgente, problemas que não devem ser escamoteados."

Uma associação não-governamental europeia apresentou queixa em Bruxelas, acusando a Câmara de Beja de segregar os ciganos, por causa do muro e das condições "deploráveis" em que se vive no Bairro das Pedreiras. A União Romani, que representa populações ciganas, avisou, por sua vez, que fará uma concentração nacional às portas de Beja se os problemas não forem resolvidos.