17.7.10

O parlamento a trocar as voltas aos pobres

in Diário de Notícias

O que melhor retratou o debate do estado da Nação foi o pitoresco subdebate sobre o dados que o INE publicou sobre riscos de pobreza e desigualdades no País. Quiséssemos ser polémicos e diríamos que começou com a notável coincidência do dia e hora em que o dito inquérito foi publicado: quinta-feira, horas antes do debate. Mas não, nada de polémicas.

O que importa para o caso é que o INE trouxe uma boa notícia para o Governo anunciar: redução da pobreza extrema no País. Nada mais oportuno, para mostrar à evidência que a oposição não está certa quando fala de uma crise social. "Esperem!", disse Sócrates, quando se virou para a esquerda. "Os vossos sorrisos vão ficar mais amarelos!", afirmou antes de dar conta da redução anotada em 2009, em 0,6 pontos percentuais (para 17,9).

Disse isto, e os sorrisos viraram interrogações. Como a de Mota Soares, líder parlamentar do CDS: para já, não são de 2009, mas referentes a 2008, antes da crise; depois, é uma décima, porque o INE dava 18% de pobreza extrema em Portugal no ano anterior. Correcção, pediu Silva Pereira, em defesa de Sócrates: são de 2008, sim, mas no vosso Governo [do CDS] a pobreza aumentou! Disparate, disse Portas: quando aumentou foi no início do vosso! E ainda voltou o Governo, explicando que não. E que, mais, o INE (lá volta ele à história) resolveu colocar este ano "casas decimais no índice, corrigindo em alta o valor de 2007. Conclusão (confusa): desceu mesmo 0,6 pontos, embora tenha subido 0,5 no anterior. Percebido?

Dito isto, não há outra maneira de descrever o caos da discussão: trocar as voltas aos pobres. Pelo meio ficaram sucessivas trocas de papéis, de galhardetes, de picardias e de responsabilidades passadas. E o pobre a ver, claro, quando só queria mais dinheiro.