30.7.10

Percentagem de crianças com baixo peso à nascença não pára de aumentar

Por Alexandra Campos, in Jornal Público

Plano Nacional de Saúde estabelecia como meta para 2010 uma taxa de apenas 5,8 por cento de bebés com menos de 2500 gramas. Mas a percentagem continua a crescer.

Os cuidados de saúde antes do parto melhoraram substancialmente e Portugal deu um salto qualitativo impressionante a nível de mortalidade e morbilidade infantil nas últimas décadas. Mas há um indicador de saúde que está a piorar e transmite uma imagem negativa do país a nível internacional: a percentagem de crianças com baixo peso à nascença (menos de 2500 gramas) continua a aumentar, ao contrário do que seria de esperar. No ano passado subiu para 8,2 por cento do total de nados-vivos, numa clara divergência em relação à meta estabelecida no Plano Nacional de Saúde, que previa uma taxa de apenas 5,8 por cento já para este ano.

Os dados acabam de ser divulgados pelo Alto-Comissariado da Saúde e estão relacionados com a elevada taxa de prematuridade (partos antes da 37 semanas) que também disparou nos últimos anos - só entre 2004 e 2009 passou de 6,8 para 8,8 do total de nados-vivos.

Portugal é mesmo um dos países da Europa com as percentagens mais elevadas de recém-nascidos de baixo peso (a melhor taxa da União Europeia é a da Suécia, 4,1 por cento). O fenómeno foi destacado num relatório sobre a saúde das mulheres divulgado no início deste ano pela Comissão Europeia e mereceu o reparo do representante da Organização Mundial de Saúde que há meses esteve em Portugal para avaliar os indicadores do Plano Nacional de Saúde.

O baixo peso à nascença - que, para além do nascimento prematuro, pode ter como causa problemas de crescimento intra-uterino - pode agravar o risco de deficiências físicas e cognitivas. Normalmente está ligado à pobreza (má nutrição materna) e à falta de vigilância pré-natal (hipertensão materna não controlada), mas estes não serão seguramente os factores responsáveis pelo problema em Portugal, acentua a alta-comissária da Saúde, Maria do Céu Machado. O alto-comissariado acaba, aliás, de enviar dados para OMS que provam que o número de consultas pré-natais nos centros de saúde "não diminuíram" (mais de 502 mil, em 2008).

Sem deixar de reconhecer que a prematuridade e o baixo peso à nascença são motivo de preocupação, Maria do Céu Machado defende que este fenómeno se justifica em parte com o decréscimo da natalidade entre as mulheres portuguesas - que faz com que o peso dos nascimentos na comunidade imigrante seja cada vez maior. No ano passado, as crianças nascidas de mulheres estrangeiras representavam já 10,8 por cento do total, quando em 2000 correspondiam a apenas cinco por cento dos nascimentos em Portugal. E é nas mulheres de origem africana que há mais prematuridade, até por razões genéticas, sublinha a alta-comissária.

Maior taxa no Algarve

Com uma grande comunidade imigrante, o Algarve é, aliás, a região onde a taxa de bebés com baixo peso à nascença é mais elevada (8,8 por cento), seguida do Alentejo e de Lisboa e Vale do Tejo, respectivamente).

Mas há uma série de outras razões que podem explicar este crescimento e uma delas - o tabagismo materno - está a ser objecto de análise pelo alto-comissariado.

Por outro lado, as mulheres portuguesas tendem a ser mães cada vez mais tarde - cerca de um quinto das grávidas tem actualmente mais de 35 anos. E o adiamento da maternidade é um factor de risco para prematuridade e baixo peso à nascença, para além de uma taxa de fertilidade menor. É uma pescadinha de rabo na boca: os tratamentos de infertilidade aumentam a taxa de gravidezes gemelares, que aumentam o risco de prematuridade. E, graças aos avanços tecnológicos e da medicina, há bebés que há uns anos estariam condenados (nascidos com 500 gramas) que actualmente já conseguem sobreviver.