20.9.10

Crise faz aumentar praxes solidárias nas universidades

in Diário de Notícias

Recolhas de alimentos, roupa ou dinheiro estão marcadas em várias faculdades


As tradicionais praxes estão a ser substituídas em muitas faculdades por iniciativas solidárias. O IPB (Instituto Politécnico de Bragança) e o IPAM (Instituto Português de Administração de Marketing) lançaram o mote há dois anos. Mas o agravar da crise económica e as penas disciplinares para os autores de praxes violentas fizeram aumentar as iniciativas de ajuda a quem mais precisa, dentro ou fora da escola.

No IPB, às maratonas solidárias, cuja inscrição é feita com a entrega de alimentos ou roupa, juntam-se as recolhas de alimentos em supermercados, que beneficiam instituições da cidade. A ideia surgiu em 2008, como forma de dinamizar a praxe, "desvinculando-a do rótulo da noite e da bebedeira a que está associada, e integrando os caloiros na comunidade", explica Rui Sousa, líder da Associação Académica do IPB.

Para este ano têm marcada uma nova iniciativa: uma corrida de rolamentos entre cursos, cujo prémio em dinheiro será doado pelos vencedores a uma instituição de caridade à sua escolha.

Além disso, a associação tem encontrado "alunos em situações difíceis porque perderam a bolsa ou os pais ficaram desempregados". E, por isso, "também procuramos ajudá-los", conta. Uma das soluções que encontram é usar os fundos da associação para comprar material escolar para os alunos.

Na Universidade Autónoma de Lisboa, a situação repete-se. Fazem peditórios para comprar material para a praxe e dessa forma evitar que os caloiros tenham de pagar bilhete nas festas. "Isto é para eles", reforça Ana Rita Rodrigues, "para não terem de tirar do seu bolso. Esta é uma universidade privada e paga-se muito de propina" acrescenta a aluna do 3.º ano de Psicologia.

Os mais velhos propõem aos caloiros que se tornem voluntários, pedindo-lhes, por exemplo, que doem uma peça de roupa. Quando há festas académicas, uma parte dos lucros reverte a favor de uma instituição, e para o novo ano lectivo estão a negociar uma parceria que envolverá os estudantes na distribuição de comida aos sem-abrigo.

Já no IPAM, as iniciativas de voluntariado são essencialmente ambientais. Há dois anos consecutivos que fazem limpeza na praia da Costa de Caparica e este ano tencionam inovar. Mas ainda não decidiram como. Hugo Coito, de 21 anos, já participou em duas actividades, primeiro como caloiro e depois como membro da comissão de praxes. "Se todas as faculdades fizessem pelo menos um dia de praxe social, já estariam a ajudar bastante."

Para o director do IPAM, Luís Liz, é natural que haja uma maior sensibilidade para a solidariedade por causa da crise. A praxe social surge também como resposta ao novo regime jurídico das Instituições de Ensino Superior, que determina que os actos de violência, coacção física e psicológica são punidos disciplinarmente. Luís Liz defende que "esta regulamentação mais apertada acaba por ser uma oportunidade, porque obriga a procurar alternativas".