1.8.14

Violência doméstica. 24 mulheres assassinadas nos primeiros seis meses

Por Kátia Catulo, in iOnline

Números são "alarmantes" e demonstram que políticas de prevenção são inexistentes, diz UMAR. Em média, quatro mulheres são mortas por mês


Por cada mês que passou morreram, em média, quatro mulheres na sequência de crimes de violência doméstica. Os dados do Observatório de Mulheres Assassinadas ontem divulgados mostram que no primeiro semestre deste ano 24 mulheres foram mortas e outras 27 foram vítimas de tentativa de homicídio, tendo a maioria sido assassinada pelos maridos, companheiros ou namorados.

"São números alarmantes, que só demonstram que Portugal não tem feito estratégias de prevenção nem combatido as causas estruturais do fenómeno", adverte Elizabete Brasil, coordenadora do observatório e também directora da área de violência de género da União de Mulheres Alternativas e Resposta (UMAR).

A coordenadora do observatório defende portanto um "grande investimento" na prevenção, considerando que a falha nesta área tem contribuído para a "perpetuação" do fenómeno. As estatísticas mostram que, "ano após ano, três ou quatro mulheres" são mortas, por mês, pelos seus companheiros, maridos ou em relações familiares próximas, diz Elizabete Brasil.

O relatório intercalar da UMAR, baseado nos crimes noticiados pela imprensa durante o primeiro semestre do ano, revela que, em 42% dos homicídios, o crime foi cometido pelo marido, companheiro, namorado, em 37% pelo ex-marido, ex-companheiro, ex-namorado, enquanto 8% foi praticado pelos pais e 13% por outros familiares. Oito dos 24 crimes aconteceram nos distritos de Lisboa e Setúbal, com quatro mulheres assassinadas em cada um deles.

Ciúme e armas A maioria dos homicídios registados pelo observatório ocorreu num contexto de violência doméstica (59%), sendo a arma de fogo (10 casos) e a arma branca (seis) os meios mais usados. Houve ainda três mulheres assassinadas por espancamento, outras três por asfixia e duas por estrangulamento. O relatório indica também que em 17% dos casos a suposta justificação para o crime foi o ciúme e em 4% das situações o homicida não aceitou a separação. Cruzando a prevalência do homicídio com a presença de violência doméstica nas relações de conjugalidade e familiares privilegiadas, o observatório verificou que 62% (15) das mulheres assassinadas neste período foi vítima de violência nessa relação.

"Os dados confirmam que a prática do crime de femicídio e no femicídio na forma tentada é o culminar de uma escalada de violência praticada por aqueles com quem as vítimas mantêm relações de intimidade", refere o relatório.

Em média foram verificados quatro homicídios por mês, tendo 29% das vítimas (sete) mais de 65 anos e 25% (seis) entre 36 e 50 anos. Outras seis vítimas (25%) tinham entre 51 e 64 anos, quatro entre 24 e 35 anos (17%) e uma tinha entre 18 e 23 anos.

Com Lusa